Atenção este não é um enredo completo, é um esboço, nem o texto dele foi elaborado para ser um enredo, será mostrado aqui fragmentos dispersos de uma história de vida, serão levantadas questões para se pensar e esta será uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais sobre aquele que foi um dos maiores sociológicos do mundo.
Boa parte deste trabalho é baseado neste vídeo:
Introdução:
Iremos contar a vida de um homem que foi um dos maiores sociólogos do mundo, pioneiro e líder da Sociologia do chamado “Terceiro Mundo”, o maior sociólogo brasileiro e um dos maiores pensadores deste país. Vamos falar de Florestan Fernandes, o Fundador da Sociologia Crítica no Brasil, propondo uma nova maneira de pensar, batendo de frente e rompendo com a forma de pensar tradicional, saindo em defesa do povo, dos índios, negros, trabalhadores urbanos e rurais.
Surgem na sua obra os oprimidos, emergem sujeitos geralmente “invisíveis”, bem como índios, negros, imigrantes, escravos e trabalhadores livres da cidade e do campo.
(Camacho, 2000)
A vida de Florestan Fernandes já é um grande exemplo do que é a vida de tantos brasileiros, do seu nascimento, em 1920, filho de mãe solteira e pobre, nos fundos de uma casa de família até a sua morte, em 1995, vitima de erro médico, muitas lições poderemos com ela aprender.
Florestan, certa vez, deixou claro a importância que teve a sua vivência na carreira de sociólogo:
"Eu nunca teria sido o sociólogo em que me converti sem o meu passado e sem a socialização pré e extra-escolar que recebi através das duras lições da vida. “
(Florestan Fernandes, 1994)
Demostrativo teórico:
(Este texto não está em formato de sinopse carnavalesca, SERÁ APENAS uma amostra do potencial Da história. cOM MAIOR ORGANIZAÇÃO TERÍAMOS UM ENREDO CRÍTICO, COM BASE TEÓRICA SÓLIDA. nADA DE "SENSO COMUM")
A infância de Florestan foi muito difícil, filho de pai desconhecido, sua mãe, uma imigrante portuguesa, lavadeira e analfabeta, ela irá criá-lo sozinha. Aos 6 anos será obrigado a ir trabalhar. Para ajudar a família percorrerá infinitas profissões engraxate, auxiliar de marceneiro, carregador, alfaiate. Como auxiliar de alfaiate, ainda criança, chega a dormir no emprego, em um locar sujo com ratos e baratas. Essa dura realidade foi uma grande professora:
Seu estudo dos 6 anos aos 9 anos de idade era mantido por sua madrinha, patroa da mãe de Florestan. Mas quando esta abandona o emprego, Florestan acaba saindo da escola, sua volta será muito difícil. Enfrentará inclusive resistência de amigos e da sua própria mãe. Eles não queriam que ele mudasse, deixasse de ser como eles.
Entenda: Muitas crianças já bastante cedo tem que largar os estudos, pois precisam de uma necessidade mais urgente que é simplesmente comer. Nos últimos anos até isto tem melhorado um pouco, com programas do governo, como o criticado Bolsa Família que segura muitas crianças na escola.
Florestan só voltará a concluir seus estudos aos 16 anos. Quando, por sorte, irá trabalhar em um bar, que é agraciado, depois, com abertura de uma escola ao lado. O bar não demorará muito para ser freqüentado por professores da escola que conhecendo Florestan, e admirados pela sua inteligência, irão dar uma oportunidade para ele concluir seus estudos. Florestan ganhará ajuda nas mensalidades e com ajuda de outro freqüentador do bar um emprego de meio-turno.
Concluído o supletivo, Florestan buscará ingressar na Faculdade, mais uma vez sua entrada será muito dificultada, primeiro pelo falta de alternativas, boa parte dos cursos oferecidos eram em tempo integral, Ciências Sociais e Políticas, na USP, não era a sua primeira opção. Florestan era o único aluno pobre da classe e sofria preconceito por isso. Só foi aceito porque era o melhor aluno. Ele lutava muito, estudava de manhã, trabalhava a tarde e a noite ainda arrumava tempo para estudar nas bibliotecas públicas.
Outra questão levantada é a dificuldade para se chegar lá, Florestan teve que estudar muito, batalhar muito, para chegar onde ele chegou. Não significa que podemos nos enganar com aquele pensamento que "qualquer um pode chegar" onde Florestan chegou, são muito poucos que chegam no topo e quem que batalhar muito, um esforço imenso para recuperar a desvantagem que vem do berço. No Brasil, muitos já nascem perdendo de "7x1" ou muito mais de 71 a 0. Podem virar o jogo? Até podem. Mas a maioria com sorte termina esse jogo perdendo de 71 a 1, ou como já estão perdendo, acabam perdendo de 100 a 0. Já nasce perdendo, já nasce com inúmeras dificuldades e seguirá enfrentando dificuldades.
Entenda: Aqui encontramos o começo da Universidade Brasileira, professores que sequer davam aula no idioma dos alunos. Hoje a situação mudou, mas muitas vezes não é difícil encontrar um professor que dá aula como se falasse em outro idioma. Muitas vezes os alunos chegam na Universidade e encontram uma exigência brutal, estão em um nível extremamente a baixo do que deveriam estar. A evasão na Universidade Federal ainda é imensa e em alguns cursos pode ser "astronômica".
Outro ponto levantado é o autodidatismo a necessidade de sermos "autodidatas" para compensar as deficiências tanto anteriores como até de momento. É muito comum a figura do professor "avaliador" (é praticamente uma prova ambulante, ele só vale para aplicar uma prova difícil e no mais não serve para nada) ou "orientador" (apenas aponta caminhos, nada mais), muitas vezes pouco contribuirá para a chegada do aluno no topo. Vai depender mais da esperteza do próprio aluno em perceber que ele precisa até ir além do que lhe é oferecido. Se você ainda estuda e acha que está muito fácil, desconfie também, pode ser sinal que você precisa ir além do que está vendo e ir estudar mais por outros meios.
Outro ponto levantado é o autodidatismo a necessidade de sermos "autodidatas" para compensar as deficiências tanto anteriores como até de momento. É muito comum a figura do professor "avaliador" (é praticamente uma prova ambulante, ele só vale para aplicar uma prova difícil e no mais não serve para nada) ou "orientador" (apenas aponta caminhos, nada mais), muitas vezes pouco contribuirá para a chegada do aluno no topo. Vai depender mais da esperteza do próprio aluno em perceber que ele precisa até ir além do que lhe é oferecido. Se você ainda estuda e acha que está muito fácil, desconfie também, pode ser sinal que você precisa ir além do que está vendo e ir estudar mais por outros meios.
Formato, sua primeira grande obra será a “A Organização Social dos Tumpinabás”, uma obra considerada impossível, afinal essa era uma tribo extinta do século XVII. Para Florestan não foi impossível, pois ele tinha vontade de buscar e resgatar a verdadeira história. O doutorado de Florestan também será sobre os Tumpinabás.
Do estudo sobre o Tumpinabás, também virão outras obras, como “Notas sobre a educação na sociedade Tupinambá.” Falando sobre educação indígena, Florestan serve de base, pois no seu estudo sobre os tupinambás, comprovou que já existia educação, filosofia e produção de conhecimento, a diferença que sobre formas diferentes (condizentes com sua própria cultura).
Entenda: Estudos indígenas não são algo fácil, é uma área de pouco interesse e muita preguiça dos estudiosos. Na época de Florestan Fernandes isso era ainda maior, principalmente porque os estudiosos teimavam em analisar os índios com seus próprios valores "de homem branco" e não procuravam entender que os índios tinham uma outra cultura e por isso um modo de vida e valores totalmente diferente.
Depois de formado, logo Florestan irá substituir seus mestres, que irão embora, no período de substituição dos professores estrangeiros, será professor de grandes sociólogos como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua falecida esposa, Ruth Cardoso.
Em 1959, Florestan se envolverá ativamente na campanha de defesa a escola pública, essa experiência foi fundamental para romper o seu isolamento acadêmico.
Os três objetivos da "Campanha em Defesa da Escola Pública" definidos por Florestan Fernandes:
1) Qualidade e eficácia do ensino.
A defesa da escola publica se justificava porque ela oferece as condições mais propicias de produzir um “bom ensino” e livre de restrições econômicas, ideológicas, raciais, sociais ou religiosas.
2) A defesa da autonomia Estado.
O Estado não poderia ficar prisioneiro de interesses particularistas.
3) A Mobilização:
A busca por esclarecer e alertar todos os cidadãos brasileiros. Buscando a sua participação nas decisões e orientações dos partidos e do governo
Entenda: Pode parecer estranho defender a escola pública em cima da particular que é reconhecida como melhor. Mas a defesa da escola pública parte de ideia de maior liberdade, a escola particular é capitalista, o ensino é fornecido em troca de pagamento. Quando a educação é por este processo ela acaba enfrentando uma porção de limitações. A educação particular muitas vezes é um "produto", uma mercadoria para agradar o freguês e é carregada de ideologias. A escola pública teria uma natureza mais livre, com um bom investimento teria todas as condições de ser superior a particular.
Depois disso, assumirá, cada vez mais, uma postura politicamente ativa. Desenvolvendo inclusive uma teoria própria sobre o papel da burguesia brasileira que contrapõe a teoria da esquerda tradicional que afirmava que a dominação de dava através da noção de Imperialismo e latifúndio e defendiam o fortalecimento da burguesia nacional. Florestan dizia que as burguesias nacionais eram intermediarias dessa exploração.
Com o golpe militar,1964, Florestan chega a ser preso e depois é afastado definitivamente da faculdade sendo punido com aposentadoria compulsória. Acaba saindo do pais.
Com a anistia, ele volta ao pais, esperando retornar a USP. Mas como os cargos já tinham sido ocupados por outros professores, isso não foi possível.
Outro ponto importante para refletir, a educação é uma bagagem, quem não tinha uma boa criticidade, não se "atualizou", se o formou em 1970, deu aula em 1990, logicamente formou alunos com essas ideologias, que poderão até passar pela faculdade e ainda ter a presença na formação dessas ideologias, mesmo que sem tanta força. O "legado" do Regime Militar na educação brasileira é longo, a presença na educação ainda existe e está na educação. Levará muitos anos, muitas gerações para desaparecer. . .
Em uma transfusão de sangue contraiu Hepatite e mesmo doente filia-se ao PT em 1986 e é eleito deputado federal. Defendendo suas ideias na constituinte.
Muitos falavam na necessidade de restaurar a democracia, uma bandeira com a qual eu não convivia bem, porque, para mim, nunca houve democracia no país”
Florestan Fernandes
Este slide baseado na obra de Florestan Fernandes, aqui é questionado o que é Democracia. O que vivemos de fato não é uma Democracia, mas sim uma ilusão dissimulada por ideologias. |
Florestan encontrou na política um espaço para lançar sua mensagem. Buscou contribuir para o país, mas consciente do poder as elites dominantes. Faleceu em 1995, vitima de erro médico, em um transplante de fígado.
Vídeo TV Câmara:
A TV Câmara apresenta o documentário especial Florestan Fernandes -- "O Mestre". O vídeo retrata a vida do engraxate, garçom, professor, deputado, constituinte, que fez da vida uma verdadeira aula.
Para o professor Antônio Cândido ele foi o único grande homem de sua geração; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala do amigo com a reverência de um filho para um pai, inclusive nas discordâncias; os ministros José Dirceu e Luiz Gushiken lembram do político como dois discípulos de sua conduta, acrescida de uma dose de pragmatismo; o ex-ministro Jarbas Passarinho sustenta que discordavam ideologicamente, mas os unia a afinidade intelectual; a professora Mirian Limoeiro sustenta que ele fez da sociologia uma ciência; o deputado Ivan Valente fala do marxista aberto a todas as discussões; seu filho, Florestan Fernandes Júnior, lembra do eterno otimista. Todos estão juntos no documentário.
Durante 50 minutos são percorridos os caminhos mais duros da sua infância do Brás, por onde andou carregando sua caixa de engraxate em direção ao centro histórico e às portas dos grandes cinemas, ou subindo o morro dos Ingleses, para entregar ternos nas mansões da burguesia paulista. Trabalhava como garçom quando, aos 17 anos, resolveu cursar o que na época era chamado madureza, hoje supletivo, para despontar depois na primeira geração de professores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) e ser considerado o maior sociólogo brasileiro, uma referência internacional na sociologia.
Eleito duas vezes pelo PT, era um ícone na Câmara dos Deputados, sempre tratado de professor. Foi aluno de Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss, professor de Fernando Henrique Cardoso e Otávio Ianni, colega de Antônio Cândido e Hermíno Sachetta, com que trilhou o trotskismo.
Suas primeiras grandes obras, das mais de 50 que publicou, foram sobre a sociedade dos índios Tupinambá, tribos da faixa litorânea praticamente extintos desde o século XVII. Elas se tornaram uma referência para a sociologia em geral e para sua vida em particular. Sobre sua formação escreveu:
"...descobri que o 'grande homem' não é o que se impõe aos outros de cima para baixo, ou através da história; é o homem que estende a mão aos semelhantes e engole a própria amargura para compartilhar a sua condição humana com os outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus tupinambá".
Florestan Fernandes morreu aos 75 anos, em 10 de agosto de 1995, vítima de dois erros médicos no Brasil.
Este documentário, dirigido por Roberto Stefanelli, recebeu em 2004 o prêmio Vladimir Herzog, a mais importante premiação jornalística da área de direitos humanos do país.
Autor: TV Câmara.
Outro ótimo video:
Referências:
1. CAMACHO,
Thimoteo. Florestan Fernandes e as Ciências Sociais no Brasil. Sociologia 8,
Araraquara, ano 5, n. 8, p. 59-74, 1º semestre de 2000.
2. DIREITOS HUMANOS. Quem foi Florestan Fernandes? Disponível
em: <http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1200&Itemid=25>.
Acesso em: 24 mai. 2010
3. FÁVERO, Osmar (Org). Democracia e Educação em Florestan Fernandes.
Campinas: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2005.
4. FERNANDES, Florestan. a integração do negro na sociedade de
classes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1965.
5. ___________________. Ciências Sociais: na ótica do intelectual
militante. 8 (22): 123-38, 1994.
6. ___________________. Universidade brasileira: reforma ou
revolução? 2ª ed São Paulo: Alfa-Omega, 1975.
7. ___________________. Ensaios de sociologia geral e aplicada.
3 ed. São Paulo: Pioneira, 1976.
8. FERRARI, Márcio. Florestan Fernandes. Disponível em:
<http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/florestan-fernandes-307905.shtml>
Acesso em: 24 mai. 2010
9. SAVIANI,
Dermeval. (1996). Florestan Fernandes e
a educação. Estudos Avançados, vol.10, nº. 26, pp. 71-87.
10. TV Câmara. Documentário: Florestan Fernandes, O Mestre.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=BVIsapkW4RE>
Acesso em: 2 mai. 2010.
11. USP. Florestan Fernandes - Serviço de Biblioteca
e Documentação da FFLCH Disponível em:
<http://www.sbd.fflch.usp.br/florestan/>
Acesso em: 28 abr. 2010.
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