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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Enredo 9 - Malandro é Malandro, e Mané é Mané

Malandro é Malandro, e Mané é Mané



De manhã, quando eu vou descendo o morro
A "nêga" pensa que eu vou trabalhar
Eu boto meu baralho no bolso
meu cachecol no pescoço
E vou pra Barão de Mauá
Trabalhar, trabalhar...
Trabalhar pra quê?
Se eu trabalhar eu vou morrer...”

Boa noite pra quem é de boa noite.
Minha gente, venho aqui me apresentar, sou boêmio, curto um bom samba de roda, sou produto do morro, da beira do cais, nas ladeiras desta vida eu cresci. No meu bolso carrego uma navalha, e a imagem do meu Santo Guerreiro, e saio pelo mundo. Me chamam de malandro, mas podes crer eu sou mesmo...
Minha filosofia de vida é “parecida” com a de um famoso jogador de futebol, que tinha que levar ou tirar vantagem de tudo. Vivo a margen da sociedade, nem sempre sou compreendido, uns me adoram e outros me renegam, poucos sabem que sou romântico, tenho uma mulher e cada ponto, não traio nenhuma delas, pois todas tenho em meu coração...
A vida é assim, papagaio come milho e piriquito leva a fama, em Brasilia existem uns “caras”, que gostam muito mais de levar vantagens do que eu, e na covardia, o que não é do meu agrado, mas eu é que sou o malandro. O certo seria denunciar esses falsos malandros aos homens da lei, pois malandro de verdade não “xnoveia” , mas se lembrar na hora de votar de quem só levou vantagem e nada fez, por que persistir no erro é burrice
Já antes desta terra se chamar Brasil, aqui moravam quase três milhões de índios, porém veio para cá, a bordo de uma caravela um portuga chamado Cabral, disse que estava indo para as Índias, mas um vento forte o fez “descobrir” o Brasil.
Ouvi falar que há muito tempos atrás um cara que veio de lá das terras Holandesas ,e se dizia Príncipe ,coisa que ele não era , e enganou a galera lá em Pernambuco, dizendo que fazia um boi voar por uma ponte,muita gente pagou para ver ,e ainda há muito Mané naquelas bandas que esperam ver o chifrudo bater asas.
Lá nas terras de Minas uma negra chamada Xica, aproveitando-se de seu charme e beleza, fez o homem mais importante da região ficar aos seus pés, se envolveu com um Contratador português, conquistando assim sua alforria, dinheiro, o medo e respeito de todos do Arraial do Tijuco.
Na Europa Napoleão em guerra, decretou que ninguém poderia manter relações com a Inglaterra, mas o príncipe regente de Portugal desrespeitou o decreto napoleônico, que em represália manda invadir Portugal. D. João dá uma pernada no grande conquistador, deixando-o “ a ver navios”, e se manda pra sua colônia, o Brasil.
Na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro um Barão, para manter seu precioso Zoológico, teve uma grande idéia: criou uma loteria onde ele usava os animais. Quem apostava no bicho sorteado ganhava. A ideia cresceu e hoje é popular em todo Brasil. Senhor Barão Drummond o pai do jogo do bicho.
No Rio de Janeiro me instalei lá pelas bandas da Praça Mauá, Praça Tiradentes, mas na Lapa teve seu apogeu e se criou no imaginário popular. No início do século XX estes lugares eram ambientados por boêmios, sambistas, prostitutas, cafetinas e claro ,policiais atrás desta galera. Cassinos, carteado pelas ruas, jogos de azar. Uns saiam por ai com suas blusas listradas, mas tinha também aqueles que com seu terno de linho branco eram o supra sumo da elegância.
A figura lendária João Francisco Dos Santos, fez da Lapa sua casa e da Pça Tiradentes seu palco. Negro, gay, brigão, até hoje é lembrados por todos, foi fonte de inspiração no cinema nacional, assim foi Madame Satã , um anjo que o inferno acolheu e a Lapa foi terra que dele nunca se esqueceu.
Ser malandro é ser artista, e fingir que acredita na história sem que o otário perceba que vc ta “ligado”...
Nas artes sou citado nas mais variadas formas de expressão. Jorge Amado descreve a malandragem nas ruas de Salvador, no livro “Pastores da Noite”. No teatro Chico Buarque de Holanda escreve a “Ópera do Malandro”. Nelson Pereira dos Santos mostra a malandragem carioca na figura do “Boca de Ouro”, no filme adaptado da peça teatral de Nelson Rodrigues. Paulo Gracindo interpreta brilhantemente o bicheiro “Tucão”, personagem da novela “Bandeira Dois” escrita por Dias Gomes.
A malandragem foi tão cantada e contada, que ganhou ares internacionais. Aproveitando o sucesso de Carmem Miranda nos EUA, Walt Disney cria durante a 2º Guerra mundial fazendo a política de boa vizinhança com o Brasil ( seu aliado de guerra), o personagem Zé Carioca, unindo a figura de um papagaio, pássaro associado ao Brasil e o malandro carioca.


Na espiritualidade o malandro também é citado, Salve Seu Zé Pilintra, Salve Seu Tiriri, Salve a Malandragem!!!
 “Seu Zé Pilintra é um cabra bom
Seu Zé Pelintra é um cabra bom
Que não me deixa escorregar
Vence demenda, quebra feitiço
Ele é o mestre lá da Encruza”

Eis que surge um Céu, prá lá de animado, divertido. Uma grande favela com antigos malandros, seres celestiais de antigas comunidade, nomes que são sinônimo do bom samba , do bom humor , fazendo dessa favela moradia. Os três últimos malandros da música fazendo shows para São Jorge e sua falange. Moreira da Silva nascido no morro do Salgueiro que fez o velho oeste viver aqui no rio e se seus sonhos de luxo cantados para imaginável “Etelvina”. Bezerra Da Silva fonte de inspiração dos rappers como Marcelo D2, na sua voz falava das comunidades, defendia o povo do morro, usando uma filosofia anti-preconceituosa e seus sucessos de duplo sentido, como “Sou Produto do Morro”,”Arruda de Guiné”e ”O Bom Pastor”. Carlos Roberto de Oliveira, nosso Dicró, Síndico/Muso do Piscinão de Ramos, chega por último, ele que fez muita gente rir com suas sátiras, pobres das sogras!!!
E assim terminamos nosso espetáculo cantando e falando destes, que muitas vezes são vistos como marginais, mas na verdade não é nada disto, só pensamos pra que trabalhar se tem otário para fazer isto pela gente? Por isso que eu digo: “Malandro é Malandro ,e Mané ,é Mané....”

Fim

Eduardo Pinho


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