Malandro é Malandro, e Mané é Mané
“De manhã, quando eu vou descendo o morro
A "nêga" pensa que eu vou trabalhar
Eu boto meu baralho no bolso
meu cachecol no pescoço
E vou pra Barão de Mauá
Trabalhar, trabalhar...
Trabalhar pra quê?
Se eu trabalhar eu vou morrer...”
Boa
noite pra quem é de boa noite.
Minha
gente, venho aqui me apresentar, sou boêmio, curto um bom samba de roda, sou
produto do morro, da beira do cais, nas ladeiras desta vida eu cresci. No meu
bolso carrego uma navalha, e a imagem do meu Santo Guerreiro, e saio pelo
mundo. Me chamam de malandro, mas podes crer eu sou mesmo...
Minha
filosofia de vida é “parecida” com a de um famoso jogador de
futebol, que tinha que levar ou tirar vantagem de tudo. Vivo a margen da
sociedade, nem sempre sou compreendido, uns me adoram e outros me renegam,
poucos sabem que sou romântico, tenho uma mulher e cada ponto, não traio
nenhuma delas, pois todas tenho em meu coração...
A
vida é assim, papagaio come milho e piriquito leva a fama, em Brasilia existem
uns “caras”, que gostam muito mais de levar vantagens do que eu, e na covardia,
o que não é do meu agrado, mas eu é que sou o malandro. O certo seria denunciar
esses falsos malandros aos homens da lei, pois malandro de verdade não “xnoveia” , mas se lembrar na hora de votar de
quem só levou vantagem e nada fez, por que persistir no erro é burrice
Já
antes desta terra se chamar Brasil, aqui moravam quase três milhões de índios,
porém veio para cá, a bordo de uma caravela um portuga chamado Cabral, disse
que estava indo para as Índias, mas um vento forte o fez “descobrir” o Brasil.
Ouvi
falar que há muito tempos atrás um cara que veio de lá das terras Holandesas ,e
se dizia Príncipe ,coisa que ele não era , e enganou a galera lá em Pernambuco,
dizendo que fazia um boi voar por uma ponte,muita gente pagou para ver ,e ainda há muito Mané
naquelas bandas que esperam ver o chifrudo bater asas.
Lá
nas terras de Minas uma negra chamada Xica, aproveitando-se de seu charme e
beleza, fez o homem mais importante da região ficar aos seus pés, se envolveu
com um Contratador português, conquistando assim sua alforria, dinheiro, o medo
e respeito de todos do Arraial do Tijuco.
Na
Europa Napoleão em guerra, decretou que ninguém poderia manter relações com a
Inglaterra, mas o príncipe regente de Portugal desrespeitou o decreto
napoleônico, que em represália manda invadir Portugal. D. João dá uma pernada
no grande conquistador, deixando-o “ a ver navios”, e se manda pra sua colônia,
o Brasil.
Na
Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro um Barão, para manter seu precioso
Zoológico, teve uma grande idéia: criou uma loteria onde ele usava os animais.
Quem apostava no bicho sorteado ganhava. A ideia cresceu e hoje é popular em
todo Brasil. Senhor Barão Drummond o pai do jogo do bicho.
No
Rio de Janeiro me instalei lá pelas bandas da Praça Mauá, Praça Tiradentes, mas
na Lapa teve seu apogeu e se criou no imaginário popular. No início do século
XX estes lugares eram ambientados por boêmios, sambistas, prostitutas,
cafetinas e claro ,policiais atrás desta galera. Cassinos, carteado pelas ruas,
jogos de azar. Uns saiam por ai com suas blusas listradas, mas tinha também
aqueles que com seu terno de linho branco eram o supra sumo da elegância.
A
figura lendária João Francisco Dos Santos, fez da Lapa sua casa e da Pça
Tiradentes seu palco. Negro, gay, brigão, até hoje é lembrados por todos, foi
fonte de inspiração no cinema nacional, assim foi Madame Satã , um anjo que o
inferno acolheu e a Lapa foi terra que dele nunca se esqueceu.
Ser
malandro é ser artista, e fingir que acredita na história sem que o otário
perceba que vc ta “ligado”...
Nas
artes sou citado nas mais variadas formas de expressão. Jorge Amado descreve a
malandragem nas ruas de Salvador, no livro “Pastores da Noite”. No teatro Chico
Buarque de Holanda escreve a “Ópera do Malandro”. Nelson Pereira dos Santos
mostra a malandragem carioca na figura do “Boca de Ouro”, no filme adaptado da
peça teatral de Nelson Rodrigues. Paulo Gracindo interpreta brilhantemente o
bicheiro “Tucão”, personagem da novela “Bandeira Dois” escrita por Dias Gomes.
A
malandragem foi tão cantada e contada, que ganhou ares internacionais.
Aproveitando o sucesso de Carmem Miranda nos EUA, Walt Disney cria durante a 2º
Guerra mundial fazendo a política de boa vizinhança com o Brasil ( seu aliado
de guerra), o personagem Zé Carioca, unindo a figura de um papagaio, pássaro
associado ao Brasil e o malandro carioca.
Na
espiritualidade o malandro também é citado, Salve Seu Zé Pilintra, Salve Seu
Tiriri, Salve a Malandragem!!!
“Seu Zé Pilintra é um cabra bom
Seu
Zé Pelintra é um cabra bom
Que não me deixa escorregar
Vence demenda, quebra feitiço
Ele é o mestre lá da Encruza”
Eis
que surge um Céu, prá lá de animado, divertido. Uma grande favela com antigos
malandros, seres celestiais de antigas comunidade, nomes que são sinônimo do
bom samba , do bom humor , fazendo dessa favela moradia. Os três últimos
malandros da música fazendo shows para São Jorge e sua falange. Moreira da
Silva nascido no morro do Salgueiro que fez o velho oeste viver aqui no rio e
se seus sonhos de luxo cantados para imaginável “Etelvina”. Bezerra Da Silva
fonte de inspiração dos rappers como Marcelo D2, na sua voz falava das
comunidades, defendia o povo do morro, usando uma filosofia anti-preconceituosa
e seus sucessos de duplo sentido, como “Sou Produto do Morro”,”Arruda de
Guiné”e ”O Bom Pastor”. Carlos Roberto de Oliveira, nosso Dicró, Síndico/Muso
do Piscinão de Ramos, chega por último, ele que fez muita gente rir com suas
sátiras, pobres das sogras!!!
E assim terminamos nosso espetáculo cantando e falando
destes, que muitas vezes são vistos como marginais, mas na verdade não é nada
disto, só pensamos pra que trabalhar se tem otário para fazer isto pela gente? Por isso
que eu digo: “Malandro é Malandro ,e Mané ,é Mané....”
Fim
Eduardo Pinho
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