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sábado, 11 de outubro de 2014

Enredo 03 - “Xamãs – Pássaros da Noite, Senhoras da Cura”


07. Tema-Enredo (Título do enredo e sub-títulos, se houverem)
Xamãs - Pássaros da Noite, Senhoras da Cura

08. Autor(es) do Enredo
Rafael de Lima

09. Enredo (Direcionado aos julgadores)



“Xamãs – Pássaros da Noite, Senhoras da Cura

JUSTIFICATIVA:
Celebremos o poder daquelas “que sabem” curar – as xamãs. Coloquemos a mulher em papel de destaque, sejam parteiras, guerreiras, profetas.  Se um dom especial é dado para alguém, é para fazer o bem na luta contra a dor e o sofrimento. Desta forma, a crença nos espíritos de animais ou animais de poder, a força curativa e sagrada das plantas, o transe, o êxtase, a existência de outros mundos paralelos ao mundo material são os principais fundamentos do xamanismo. E a mulher, com o poder feminino do sangue de seu útero que gera a vida, cuja força assemelha-se àquela que cria o universo, é a sacerdotisa deste culto, mediadora entre o mundo espiritual de antepassados ou animais e os seres viventes. Toda magia e misticismo inserem-se na floresta amazônica e com a incorporação da mistura de culturas brasileira, recebe o nome de pajelança. A Pajé, depois de uma delicada e séria iniciação, com o auxílio dos encantados e dos caruanas, energias mágicas das florestas e rios, incorporando-as, realiza os rituais de cura. Toda essa transcendência da encantaria xamânica é o pilar de equilíbrio do mundo, portal para afirmação do amor e do respeito à natureza como essências de novos tempos.

 SINOPSE:

“Eu sou o grito mais vibrante
Eu sou o silêncio da aldeia
Eu sou a serpente e a águia
Eu sou a chama que clareia…
Claridade, unidade, diversidade, singularidade, fraternidade.
Somos movimento cósmico que se entrelaça
Esferas do globo terrestre em transe
O açoite que arrebenta em todas as tormentas
Lapidar a vida na manhã dourada
Transcendente, inerente, matéria criativa,
A vida do planeta em arrebol
Ao redor do atol, a dança dos pajés. Axé”!

(Adaptação – Xamã - Shamrá).

Canto 01 – Parto do mundo, a origem do xamanismo.
Que as energias positivas do sangue feminino, revoltas no útero do mundo, na passagem do plano interior para a materialização na esfera exterior, no momento sublime de um parto, funcionem como a força de criação do cosmos. Que elevem o poder feminino de quem dá a luz e à parteira que traz à vida, a uma condição liminar, concedendo a energia necessária para verdadeira consagração da mulher como aquela hábil a curar e perpetuar o dom da existência.
Desde a época pré-histórica há o culto à mulher que se transforma em ave para alçar um voo da alma ao mundo espiritual, recebendo dos espíritos o dom da cura para suprir a dor. Eis a força vital para conduzir o trabalho das que são inspiradas pelos espíritos a curar (xamãs), especialmente força maior do poder da mulher em exercer esse atributo de levar alento e a profetizar o caminho dos que têm dúvidas e revelar os mistérios da vida. Da Sibéria paleolítica há registro de mulheres xamãs usando em seus rituais, com o auxílio de tambores, gongos e chocalhos, o poder da fé e a sensibilidade religiosa para curar.
Canto 02 – Xamanismo africano primitivo.
A arte tem poder. Através das pinturas nas paredes de cavernas e talismãs de cerâmica, encontradas no continente africano constata-se a prática dos rituais xamânicos por rainhas guerreiras, que mesmo lutando ao lado dos homens, eram as responsáveis por sua recuperação após as batalhas. No reino de Daomé, mulheres eram as curandeiras e oráculos do rei. Da convicção que todos os seres estão interligados, através de uma relação de causa e efeito no cosmos, os espíritos dos animais sagrados são o elo entre os diversos mundos espirituais e cabe à tartaruga manito realizar essa interconexão para a cura.
Canto 03 – Fundamentos do xamanismo, voos espirituais
Invoque-se, então, os poderes espirituais dos animais. Águias, ursos, baleias, cobras, cada um com um dom divino de cura. Apontam os caminhos para a cessação da dor e incorporam-se ao corpo das xamãs para poderem realizar os rituais sábios de renovação e revitalização.
Na Mongólia, cavalos são os guardiões de espírito das xamãs. E um voo xamânico é expresso como o galope de um cavalo levando a amazona para uma jornada de êxtase em outros mundos. Os tambores combinados com a dança, o canto e a expressão corporal, são a invocação mais poderosa para entrar em transe, permitindo que os xamãs cavalguem seus cavalos, viajando para frente e para trás entre os reinos superior, médio e inferior. Esses galopes são o encontro e a possessão do corpo da xamã pelos espíritos protetores, interpretando suas sábias lições: as respostas para os aflitos.
Canto 04 – O mundo dos sonhos e a cura revelada.
As jornadas espirituais que as xamãs experimentam, quando do transe ou êxtase, guiam-nas para o submundo aquático, através dos sonhos, no qual são reveladas profecias e visões. Símbolos e animais em interação sensorial são a base para a interpretação deste sonho, indicando o caminho a ser explorado. Através dos espelhos de bronze, que absorvem e irradiam uma energia poderosa, abre-se a passagem capaz de gerar sonhos proféticos. Entre as águas, fonte de vida, os golfinhos com colar de diamantes permitem o acesso ao passado e ajudam na autonomia do futuro.
Assim como as fases da lua, somente o sangue feminino, essencialmente sazonal, confere às mulheres a percepção sensorial para tocar, escutar o canto e sentir a planta, sabendo qual deve ser a usada. Ervas, em chás e infusões, cada uma possui diferentes características, dependendo da hora do dia e da estação do ano em que são colhidas. E, ao colhê-las, não esquecer da oferenda destinada à cura, pois este nobre ato exige interação entre as ervas, xamãs e pacientes. Plantas psicodélicas rompem o campo visual em imagens caleidoscópicas e liberam a alma do corpo para fazer um voo mágico no tempo e no espaço míticos, conversando com os deuses. A energia de vida dos xamãs move-se tão livre como a fumaça ou a eletricidade, rodopiando, penetrando em corpos.
Canto 05 – A importância da mulher e o poder Xamã transformadora.
As mulheres tecelãs, ceramistas, artesãs são seres criativos, geradores de vida que moldam o poder do cosmos com a representatividade dessa arte. A autoridade feminina é percebida uma vez que os processos de fiar e tecer, assim como o do nascimento, evocam a habilidade de acessar o mundo espiritual para obter o poder de criar algo novo. Como todos os seres e planos espirituais estão interligados, o cruzamento e entrelaçamento de fios durante a tecelagem forma uma trama da vida, assim como as teias de aranha que determinam o fim de uma vida, a transformação (simbolizada pelas borboletas), contrabalanceando a morte e o renascimento. Daí a capacidade de transcendência entre os sexos, com predominância da sensibilidade e da força do nascimento e da vida do polo feminino. Os jaguares são o símbolo-chave do poder de transformação xamanista, especialmente na ameríndia.
Canto 06 – Pajelança xamânica brasileira. A importância das Pajés.
O xamanismo insere-se na região amazônica e sob a influência da miscigenação de raças e culturas, mestiçagem brasileira, recebe o nome de pajelança cabocla: crenças e práticas de cura difundidas e praticadas no norte do país. A pajé visa sanar doenças naturais e não naturais, auxiliado pelos encantados e pelos caruanas (entidades que vivem no fundo dos rios e matas, detentores de poder e sabedoria). É a responsável pela comunicação entre o mundo dos viventes e o mundo dos encantados; detentora da sabedoria e dos segredos dos rituais de pajelança em que há troca de energia entre ela e os caruanas.
Sendo o sangue feminino, símbolo de poder desde tempos imemoráveis, cujo movimento cíclico representa o próprio pulsar da vida, a mulher assume um poder muito mais forte e venerável que o masculino. Desta forma, as Pajés da região amazônica, após longo ritual de iniciação, repleto de provações e proibições, aprendem e perpetuam os segredos do culto originário das tribos indígenas do Marajó, sendo, também, defensoras e guardiãs da natureza e de sua sabedoria. É a pajé, que incorporando e sentindo o pulsar dos caruanas, metamorfoseia-se em ave, transitando entre o mundo dos vivos e dos mortos, para ter o dom de ministrar as ervas, orações, infusões e chás para curar doenças das populações ribeirinhas; afastar Anhangá dos pacientes e das calamidades.
Transcendendo do passado, observando o futuro, segue o xamanismo com sua sabedoria ancestral como pilar de equilíbrio entre os mundos. Saudações ao poder feminino, em voos cada vez mais profundos na alma para propagar a luz necessária para o bem de quem a ele se socorre. Em rituais de dança, canto, celebração, segue a mulher como principal responsável pela comunicação entre o mundo vivente e o espiritual para, com as lições dos animais sagrados, das plantas que curam e a força de florestas e águas, estabelecer a paz e a harmonia pela eternidade.
1º setor:
As origens do xamanismo. A presença de mulheres xamãs desde épocas pré-históricas. Os poderes do sangue feminino, cuja força assemelha-se à criação do universo, trazida para a força do parto, realizado por parteiras, carregadas de sabedoria e energia, verdadeiras xamãs.
2º setor:
O xamanismo africano descoberto em inscrições e artefatos de longa data. As rainhas guerreiras africanas, verdadeiras xamãs, pois além de lutarem exerciam papel de curandeiras, oráculos, curadoras.
3º setor:
Os fundamentos do xamanismo: a invocação e incorporação dos espíritos de animais. E o voo da alma da Xamã ao plano espiritual, para buscar a cura para as mazelas e dores.
4º setor:
O mundo dos sonhos, nos quais as xamãs têm as revelações sobre suas visões e podem retirar a sabedoria para seus ensinamentos e ministrar a cura. O conhecimento acerca do poder das ervas e plantas na aplicação do bem para cessação das dores e mazelas.
5º setor:
Os ensinamentos xamânicos da ameríndia: o poder de transformação das xamãs, como guardiãs da teia da vida, a importância definitiva da mulher como poder maior no exercício do xamanismo.
6º setor:
A inserção do xamanismo na Amazônia brasileira, que recebendo a influência da mestiçagem de raças e culturas, recebe o nome de pajelança cabocla. Os ensinamentos e importância das pajés do norte do país no ministério da cura e alento para as populações ribeirinhas.
REFERÊNCIAS:
KOSS, Monika Von. Rubra Força: Fluxos do poder feminino. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2004.

LIMA, Zeneida. O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó. 6ª ed. Belém: Cejup, 2002.

MONTAL, Alix de. O Xamanismo. São Paulo: Martins Fontes, 1986.

TEDLOCK, Barbara. A Mulher no Corpo de Xamã: o feminino na religião e na medicina. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.

VILLACORTA, Gisela M. Mulheres do Pássaro da Noite: pajelança e feitiçaria na região do Salgado (nordeste do Pará). Dissertação de mestrado em Antropologia da Religião, apresentada no Departamento de Antropologia da UFPA. Belém, 2000.


14. Número de elementos de desfile (Número de alas; de carros alegóricos; de tripés e quadripés, incluindo os utilizados pela comissão de frente, se houver; de casais de mestre-sala e porta-bandeira; de destaques de chão e afins, se houver)
22 alas, 06 carros alegóricos, 1 casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, 2 destaques de chão

15. Organização dos elementos de desfile (a setorização é obrigatória; alas obrigatórias devem ser devidamente discriminadas)
SETOR 1
01 - Comissão de Frente: O ritual Xamânico da Pajelança
02 - Casal Mestre-Sala e Porta-Bandeira: A transformação em ave e o voo espiritual
03 – Ala 01: Xamãs Paleolíticas
04 - Alegoria 01: O parto do mundo e o nascimento do Xamanismo

SETOR 02
05 - Ala 02: Inscrições Rupestres
06 - Ala 03: Cerâmicas da visão do saber
07 - Ala 04: Candaces – Rainhas Guerreiras Africanas
08 - Ala 05: Agotime - Curandeiras Reais de Daomé
09 - Alegoria 02:  A barca de tartaruga – O xamanismo africano

SETOR 03
10 – Ala 06: Águias
11 – Rainha de Bateria (Amanda Mattos): Cobras
12 – Ala 07: Tambores em Transe (Bateria)
13 – Ala 08:  Pedrarias que Curam (Passistas)
14 – Ala 09: A fé nos animais sagrados – O Cisne
15 – Alegoria 03: Cavalos ao vento na Mongólia

SETOR 04
16 – Ala 10: Golfinhos com colar de diamante
17 – Ala 11: A visão: Submundo aquático dos sonhos
18 – Ala 12: Espelhos de Bronze
19 – Ala 13: A força das plantas sagradas
20 – Alegoria 04: A cura: chás, infusões – fases da vida

SETOR 05
21 – Ala 14: Tecelãs Celestiais – Teias de Aranha, Trama da Vida
22 – Ala 15: Borboletas ao Luar: A transformação
23 – Ala 16: Transcendência entre os sexos
24 – Ala 17: Jaguares – Símbolo da transformação
25 – Alegoria 05: Ameríndia – Totens, Jaguares, Sabedoria Indígena

SETOR 06
26 – Ala 18: Sabedoria Marajó
27 – Ala 19: A cura pela floresta – Os Caruanas
28 – Porta Estandarte (Diego Araújo): A força da Pajé
29 – Ala 20 – Anhangá – O rito contra o mal
30 – Ala 21 – Baianas: Zeneida Lima e o Caruana Beija-Flor
31 – Alegoria 06: A pajelança brasileira na ilha encantaria
32 – Ala 22 – Velha Guarda: O legado para a eternidade



Descrição dos Elementos de Desfile
(em ordem de apresentação)

01: Comissão de Frente: O ritual Xamânico da Pajelança
Representada por senhoras sagradas que marcam, em passos místicos, o ritual da Pajelança Cabocla brasileira, expressão maior nacional do culto xamânico. Cada gesto, grito, movimento, palavra profetizada, o agitar dos chocalhos na dança é a reunião e mescla entre as diversas etnias que formaram o país. Sacramentadas através dos ensinamentos das matas e florestas, a mulher, como sacerdotisa essencial dos saberes dos espíritos, transmite, com sua força e energia de seu sangue, a cura tão buscada e clamada pelos que delas se socorrem. Através desta celebração, a sabedoria das pajés lança um olhar ao passado para decifrar os fundamentos e origens do xamanismo.

02: Casal Mestre-Sala e Porta-Bandeira: A transformação em ave e o voo espiritual
O termo xamã advém de uma língua da Sibéria e significa “aquele que sabe”. Desde tempos passados, há o culto à mulher que se transforma em ave para alçar um voo da alma ao mundo espiritual, recebendo dos espíritos o dom da cura para suprir a dor. Eis a força vital para conduzir o trabalho das guias, que são inspiradas pelos espíritos a curar, através da força maior do poder feminino levando alento e profetizar o caminho dos que têm dúvidas e revelar os mistérios da vida. Em um bailar seguro e fascinante, conscientes de toda sua importância e de toda energia que a dança do casal traduz, em cada passo, promovendo um voo sinestésico e repleto de energias. Sob a luz das estrelas, as vibrações dos espíritos respondem elucidando a cura para os males que afligem. Sempre com muita luz, assim como é a luz irradiada pela dança do Casal.

03: Ala 01: Xamãs Paleolíticas
Escavações em um sítio arqueológico que remonta ao período Paleolítico encontraram um esqueleto feminino, com o corpo de uma raposa em uma de suas mãos. Os pesquisadores concluíram, com certeza, que o corpo pertenciam a uma xamã e a raposa fora sua guia espiritual. Junto com o corpo foram encontradas pontas de lança evidenciando o aspecto real e guerreiro da xamã. O culto já era praticado desde tempos imemoriais.

04: Alegoria 01: O parto do mundo e o nascimento do Xamanismo
Composições: Espírito guerreiro das antepassadas.
Destaque superior: Universo Cósmico
Destaque frontal: Pássaro Sagrado.
Segundo o ritual xamânico originário, ainda no período paleolítico (antes da pedra lascada), o cosmos nasceu quando uma mulher liberou seu sangue feminino sagrado. O sangue, que purifica e revigora, reproduz a força de criação do universo, no momento, em que, através da força de um parto, uma nova vida é trazida à luz. As primeiras xamãs foram as parteiras que, no momento sublime de um parto, direcionam as energias positivas do sangue feminino para o mundo exterior, tal qual a força poderosa da criação. Desta forma, a mulher xamã é consagrada como hábil a curar e perpetuar o dom da existência. Escritos astecas antigos pregavam a metáfora que uma mulher grávida enfrentando o parto é descrita como uma guerreira pronta a lutar
A alegoria apresenta o período pré-histórico, em um ambiente gelado, decorado em palha e gelo, lanças que aludem ao espírito guerreiro das xamãs antepassadas (composições laterais da alegoria). O primeiro módulo da alegoria traz a raposa, guia espiritual da astúcia, observação e habilidade, que norteia a viagem da escola pelo xamanismo. No segundo módulo, o calor do sangue feminino jorrando, decorrente da força do parto do mundo (escultura frontal), ladeado pelas esculturas de parteiras, consagrando ao cosmos, as novas vidas, que se assemelham à força da criação do universo, representado pela figura central – Xamã em seu ventre: A terra. Na base da alegoria, maracás estilizados nas figuras rupestres, encontradas em cavernas, representando os espíritos que elucidam a cura às xamãs.
Destaque superior: Universo cósmico, representando a força feminina vital. Destaque frontal: Pássaro Sagrado, ave na qual a xamã se transforma para fazer o voo espiritual.



05: Ala 02: Inscrições Rupestres
As raízes da atividade xamânica se estendem em um passado longínquo, bem como os sinais de que as mulheres foram ativas e participantes. Nos sítios históricos de escavação, arqueólogos encontraram imagens antigas de mulheres que metamorfoseavam formas ou mulheres em transe pintadas ou gravadas nas paredes das cavernas.

06: Ala 03: Cerâmicas da visão do saber
Junto ao esqueleto feminino mais antigo conhecido de uma xamã foram encontrados pedaços de argila endurecidos por fogo, em fornos. Não eram utensílios para casa e sim talismãs ou figuras para serem usadas em rituais, curas espirituais e profecias. As xamãs usavam seus dons como seres geradores de vida, moldando o poder do cosmos com a representatividade dessas artes.

07: Ala 04: Candaces – Rainhas Guerreiras Africanas
Ao contrário do que a história oficial registra, pesquisadores confirmam que as mulheres assumiram a condição de rainhas guerreiras, que governavam seus povos e venciam guerras, especialmente no continente africano. Lutavam lado a lado com os homens, usando as atividades xamânicas conectadas estreitamente com a guerra, através do uso de máscaras e folhas de palmeira sagradas, significando sinal de perigo aos inimigos, por causa de seu forte compromisso espiritual. Foram conhecidas por “candaces” e cantadas pelo Salgueiro, em seu aclamado carnaval de 2007.

08: Ala 05: Agotime - Curandeiras Reais de Daomé
No reino de Daomé na África Ocidental, uma elite de mulheres serviu como guarda-costas pessoais do Rei, assumindo o papel de curandeiras, videntes e oráculos. Assim agiu também a Rainha Agotime, que, através de suas visões defendeu seu reino, nas guerras, auxiliando seu marido, o rei nas vitórias contra os inimigos. A história da rainha Agotime foi contada pela Pajé, D. Zeneida Lima e serviu de inspiração para enredo da escola de samba Beija-Flor, em 2001.


09: Alegoria 02:  A barca de tartaruga – O xamanismo africano
Composições: Corte de guerreiras africanas.
Destaque Superior: Sacerdotisa real.
Destaque frontal: Feitiçaria negra.
As xamãs sagradas africanas recebiam, em suas viagens ao mundo dos espíritos, a visita de uma tartaruga com poderes de cura. Sendo um dos ícones mais importantes para as xamãs daquela região do continente negro, a tartaruga promovia a comunicação adequada entre todos os seres vivos, em interação, carregando-os em seu casco, com uma enorme barca de transporte dos que se socorriam aos seus ensinamentos, através das xamãs, navegando para a tão sonhada e querida cura para os males existentes. A experiência xamânica é complexa e mística porque propicia a integração entre o mundo físico e espiritual e seus seres, auxiliando as xamãs na prática de sua missão.
A alegoria é a barca de tartaruga carregando sobre seu casco o Reino de Daomé, decorado por palhas, ossos, máscaras sagradas e toda suntuosidade real, no qual são apresentadas a corte de guerreiras africanas (composições laterais). O destaque superior é a Sacerdotisa Real, responsável por ser a curandeira, oráculo, responsável pela defesa do reino. O destaque frontal é a Feitiçaria Negra, a magia ruim combatida pela cura fornecida pelas xamãs africanas.

10: Ala 06: Águias
As xamãs acreditam em uma teia da vida, em que todos os seres são interdependentes e interconectados. Através de uma relação de causa e efeito no cosmos, os espíritos dos animais sagrados são o elo entre os diversos mundos espirituais Invoque-se, então, os poderes espirituais dos animais: cada um com um dom divino de cura, incorporando-se ao corpo das xamãs para poderem realizar os rituais sábios de renovação e revitalização. As águias são consideradas bons presságios. Representam a proteção, sabedoria, força, espiritualidade. Durante as rezas ou cerimônias xamânicas, a aparição das águias significa que as preces serão atendidas, uma vez que, no mundo dos espíritos estas aves carregam os pedidos diretamente ao Grande Espírito.


11: Rainha de Bateria: Cobras (Amanda Mattos)
As cobras personificam as passagens entre os diversos níveis espirituais, que conectam a superfície da terra com o submundo e, por fim, com o céu. É a representação poderosa do conhecimento de astronomia, habilidade especial dessa xamã. A cada passo de samba de nossa Rainha, luzes evocam os espíritos para elevarem o desfile de nossa escola à plenitude superior.

12: Ala 07: Bateria – Tambores em Transe
Durante os rituais, o estado xamanístico da mente aparece como um estado alterado de consciência. É a combinação de percepções intuitivas e o movimento entre eles que caracteriza a atuação do xamã, materializado no fluxo da luz da energia vital corporal, chamada “relâmpago difuso”. A batida forte dos tambores de nossa bateria, o canto de nossa escola são uma forma poderosa de entrar em transe, nos quais as xamãs viajam para frente e para trás entre os diversos reinos e planos espirituais, buscando a cura. Cada rufar do tambor, marca a presença da escola neste desfile e transforma o espírito em matéria, permitindo curar.

13: Ala 08: Passistas – Pedrarias que Curam
O reino mineral é essencial aos trabalhos xamânicos. As pedras são parte do planeta e do cosmos, antes de qualquer forma de vida e presenciaram a evolução. Cada pedra tem poder de receber e transmitir energias, podendo ser usadas para curar, meditar, transmitir vibrações, como o samba de nossas Passistas. No centro do chapéu da fantasia, a Roda da Cura mineral. O figurino é adornado com a Citrino para estimular a consciência cósmica e a Pedra da Lua, que exalta o lado feminino, de sensualidade de nossas musas, aliviando as emoções e trazendo paz de espírito.

14: Ala 09: A fé nos animais sagrados – O Cisne

Em todas as tradições xamânicas, os animais são considerados arquétipos de energia que existem e que podemos encontrar e manifestar dentro de nós. Nas jornadas das xamãs, a cada toque de tambor, o animal se apresenta para quem o evoca. Todos os animais são sagrados e todos trazem um significado e valor espiritual específico. O cisne apresenta habilidade para navegar entre estados alterados de consciência, desenvolver a intuição e dons proféticos. É evocado para guardar, celebrar, proteger o amor e a fé e celebrar a elegância.

15: Alegoria 03: Cavalos ao vento na Mongólia
Composições: Tocadores dos tambores mongóis.
Destaque central: Xamã Mongol.
Nas terras da Mongólia, em que o xamanismo tem uma forte influência, crença e aceitação, cavalos são os guardiões de espíritos das xamãs. E um voo xamânico é expresso como o galope de um cavalo, levando a amazona para uma jornada de êxtase em outros mundos. O tocar e bater de tambores, produzindo um som compassado e crepitante transcendem as xamãs, que, em um profundo transe, cavalgam o cavalo tambor de volta para o céu. O cavalo é a visualização da energia espiritual e seu galope é sentido pelas sacudidelas do corpo da xamã. Na fusão do cavalo espiritual com o corpo e mente, centelhas de fogos faíscam do corpo, permitindo a sapiência do presente, passado e futuro.
A alegoria é um templo xamânico de adoração mongol, um templo de saber, com adornos e decoração daquele país. Capitaneado pelo cavalo ao vento, espírito de luz, propagador da sabedoria, que se funde com a xamã, em um profundo transe, causado pelas batidas dos tambores mongóis, revelando os questionamentos buscados. As composições são os tocadores de tambor. O destaque central é a Xamã Mongol, detentora do saber e dominadora do galope dos cavalos espirituais.

16: Ala 10: Golfinhos com colar de diamante
Seres fantásticos, guias e guardiões das xamãs pelo oceano do mundo dos sonhos. Os golfinhos dão a luz, o conhecimento dos cristais dos colares. Estes fornecem a iluminação para o que queremos saber, o que desejamos que aconteça. Essa luz pulsante é boa; é o conhecimento do cristal, para que possa reconhecer, no escuro, o caminho para a cura. Assim como os golfinhos, as xamãs enviam e recebem energia vital (calor ou eletricidade) e sons (cantando e tocando tambores) que permitem localizarem e comunicarem com a psique de seus clientes. Permitem o acesso ao passado e ajudam na autonomia do futuro.

17: Ala 11: A visão: Submundo aquático dos sonhos
Ao adormecer, os poderes sensoriais das xamãs continuam em trabalho e o calor e força do sangue feminino as levam à caverna do mundo subaquático dos sonhos, que as xamãs visitam durante suas jornadas espirituais. Um sonho que se pode ver na água, é um sonho claro, desejado, mas não se sabe como apanhá-lo. A xamã deve ajudar cada um a entender seus sonhos, aprender a completa-los, conhecer seu destino e curar a si mesmo. É a cura advinda do treinamento do sonho das xamãs, visões de símbolos que devem ser interpretados e materializados como a resposta para o que se quer saber.

18: Ala 12: Espelhos de Bronze
Os espelhos são considerados canais para os espíritos dos ancestrais. As mulheres usam espelhos durante os rituais xamânicos para atrair e capturar os espíritos, através da luz mística brilhante irradiada pelo objeto de cobre. No momento em que um espírito entra no corpo da xamã, seu rosto muda drasticamente, o espelho se aquece como se uma corrente elétrica passasse por ele, revelando sonhos proféticos e nítidos.

19: Ala 13: Curandeiras – A força das plantas sagradas


Estágio anterior à xamã é a curandeira, que domina o segredo do uso e combinação de folhas, ervas, flores e plantas, em uma sinfonia de flora mística e mágica. Com a primeira menstruação, a xamã aprende o que as plantas ensinam o que ela deve saber. As espécies de plantas possuem diferentes características, cada qual com uma serventia específica, ou que pode ser combinada, sabendo que a cada hora do dia, sua destinação se altera. A xamã sabe desses ensinamentos e não deve esquecer de retornar o que se usa par a mãe natureza, como uma oferenda por tudo que é oferecido.

20: Alegoria 04: A cura: chás, infusões – fases da vida.
Composições: Emanações do Sagrado.
Destaque central: Caleidoscópio Mágico no tempo e no espaço.
Cada espécie vegetal possui características e químicas diversas, dependendo da hora do dia e da estação do ano em que são colhidas. Determinadas ervas só devem ser apanhadas pela manhã, bem cedo; outras devem ser colhidas sobe a luz da lua cheia. Ao deixar a oferenda, a xamã deve saber para que vai usar a erva e captar a permissão da planta. Se resistisse, ao ser puxada, não poderia colhê-la. Cada planta possui uma energia própria.
A alegoria é uma grande simbiose entre animais e plantas, os guias das xamãs. As ervas e plantas sagradas são utilizadas com o fervor de águas límpidas para chás e infusões, que promovem a cura das doenças e dores. As composições são as Emanações do Sagrado: as energias de ervas e animais são unidas em uma grande infusão no caldeirão central comandada pela escultura da Alma Xamã, que representa a vida, o sopro do sagrado, o Grande Espírito. As serpentes que adornam o carro representam o grande poder de cura. Têm a capacidade de devorar doenças, comendo tumores e outros patógenos virulentos, pois o organismo da Serpente não é vulnerável às mesmas doenças que os nossos. Os cristais presentes na alegoria são usados para equilibrar e curar o ser humano, energizar remédios, trazendo alento para tantos necessitados.
A parte frontal da alegoria, “o grande espirito encontra qualquer forma impossível e imaginável pra se fazer presente, se fazer ressonante dentro de nós”, é a roda da cura xamânica com as caveiras da cura e sabedoria. O destaque central Caleidoscópio Mágico no Tempo e Espaço: plantas psicodélicas rompem o campo visual da Xamã em imagens caleidoscópicas e liberam a alma do corpo para fazer um voo mágico no tempo e no espaço míticos, conversando com os deuses.

21: Ala 14: Tecelãs Celestiais – Teias de Aranha, Trama da Vida



Os americanos nativos associaram as teias de aranha aos poderes protetivos e curativos, uma vez que as teias não podem ser destruídas ou perfuradas com facilidade. Funcionam como escudos. Desta forma, a xamã torna-se a divindade cujo trabalho de tecelã cria e conserta o universo. Os processos de fiar e tecer, assim como o do nascimento, evocam a habilidade de acessar o mundo espiritual para obter o poder de criar algo novo. Como todos os seres e planos espirituais estão interligados, o cruzamento e entrelaçamento de fios durante a tecelagem forma uma trama da vida.

22: Ala 15: Borboletas ao Luar: A transformação
A borboleta simboliza a chegada da puberdade feminina, a iniciação da menina em xamã. Assim que o sangue jorra, o espírito da jovem se liberta e ela metamorfoseia-se em uma borboleta subindo ao céu em sua jornada xamanista inicial. Da mesma forma, que tal processo segue as fases lunares, que marcam a passagem do tempo: a lua cresce, fica cheia, mingua, desaparece por três noites antes de renascer como Lua nova. Esse ciclo recorrente conecta-a com os ritmos da vida: concepção, nascimento, morte e renascimento. A borboleta ao luar simboliza a renovação, imortalidade e eternidade.

23: Ala 16: Transcendência entre os sexos
Tradições astecas acreditam que as xamãs são uma combinação de aspectos femininos e masculinos, com uma alma masculina e uma feminina. Desse modo, embora as mulheres sejam em geral nutridoras, elas também podem ser valentes e poderosas quando assumem o papel guerreiro de curandeiro. É a prática xamanista da mudança de gênero que possibilita as xamãs de manipular os poderes cósmicos durante os rituais. Nesses momentos transcendentes, as mulheres são capazes de atrair as dimensões masculinas e femininas em suas mentes e corpos. Os peixes representam a renúncia, o sacrifício, a transcendência, os anseios da alma em busca da cura.

24: Ala 17: Jaguares – Símbolo da transformação
Nos trópicos americanos, os jaguares são animais de grande força, majestade e poder. São o símbolo-chave do poder de transformação xamanista. A xamã interage tanto com o jaguar que acabam sendo chamados pelo mesmo nome. Nas tradições da América Central e do Sul, a alma de uma xamã morta toma a forma de um jaguar que acaba pro rondar e proteger o seu vilarejo. A devoção ao felino é tão grande que encontraram pinturas de humanos com atributos de jaguar datadas de épocas pré-históricas, além de cerâmicas, estátuas de deuses e esculturas.

25: Alegoria 05: Ameríndia – Totens, Jaguares, Sabedoria Indígena
Composições: Jovens ameríndias iniciantes no xamanismo.
Destaque central: “Pachamama”.
A cultura xamânica é sentida no continente americano desde a época antes de sua descoberta. Estudiosos dizem até mesmo que em períodos bem iniciais do surgimento do homem neste continente. Do ventre das terras do norte, passando por todos os seus territórios, até às terras austrais, há vestígios e crença no poder das xamãs, como senhoras da cura, guerreiras e até mesmo líderes de povos, tribos e comunidades – A grande escultura de destaque do carro, a índia das tribos do norte, guerreira xamã, remete a essa representação.
Os totens representam os espíritos sagrados dos animais místicos que são unidos como forma de proteção e de espantar as maldades que, porventura, venham assolar as tribos na América do Norte. Nos trópicos americanos, a civilização asteca foi a grande difusora e crente no xamanismo feminino, com suas sacerdotisas místicas que embarcavam em voos condoreiros espirituais para buscar a cura para as mazelas. A força do jaguar e sua veneração é latente no seu recorrer para participação nos rituais místicos, embalados pelo transe dos tambores amazônicos. As composições são as jovens ameríndias, iniciantes na formação de xamã.
A destaque central é “Pachamama”, divindade relacionada com a terra e os frutos que dela advêm, a fertilidade, a mãe, todo universo feminino.

26: Ala 18: Sabedoria Marajó


O xamanismo insere-se na região amazônica e sob a influência da miscigenação de raças e culturas, mestiçagem brasileira, recebe o nome de pajelança cabocla: crenças e práticas de cura difundidas e praticadas no norte do país. De acordo com a tradição marajoara, a iniciação da menina como xamã vem de uma grande fonte, um útero sagrado, onde são gerados esses mistérios e revelações, o Patu Anu. Os olhos dos caruás (presentes na fantasia) são os encantados das águas salgadas, de índole ruim, que são os combatidos pelas pajés em sua missão de curar o mundo.



27: Ala 19: A cura pela floresta – Os Caruanas



A pajé visa sanar doenças naturais e não naturais, auxiliado pelos encantados e pelos caruanas. Caruanas são entidades espirituais, as energias de animais, que vivem no fundo dos rios e nas matas, detentores de poder e sabedoria. A pajé é a responsável pela comunicação entre o mundo dos viventes e o mundo dos encantados; detentora da sabedoria e dos segredos dos rituais de pajelança. Ao manifestarem-se nas pajés, durante as sessões xamanísticas, há troca de energia entre ela e os caruanas, com a finalidade de cura dos males da população ribeirinha.

28: Porta-Estandarte: A força da Pajé (Diega Azêda)


Trazendo o pavilhão do nosso Enredo, com evoluções graciosas e passos cadenciados com muito samba no pé, nossa Porta Estandarte Diega Azêda, representa as Pajés da região amazônica. Após longo ritual de iniciação, repleto de provações e proibições, aprendem e perpetuam os segredos do culto originário das tribos indígenas do Marajó, sendo, também, defensoras e guardiãs da natureza e de sua sabedoria.
A representação é uma homenagem divertida ao amigo Diego Araújo, figura ímpar da história da Liesv, por sua paixão pela cultura da região norte.

29: Ala 20 – Anhangá – O rito contra o mal



Anhangá é a energia negativa das florestas, alagadiços e águas sujas e paradas. É a energia quem vem em resposta aos males causados à natureza. O mundo, então, descontrolado, precisava de uma força maior que regesse, um mantenedor aos qual os caruanas devessem obediência. Daí nasceu o “Patu-anu”. A luta maior das pajés do norte do país é afastar Anhangá e promover a preservação da natureza, através dos rituais xamânicos da pajelança, promovendo e propagando a cura a gente que não tem mais esperanças, nem ninguém que olhe por eles.

30: Ala 21 – Baianas: Zeneida Lima e o Caruana Beija-Flor


Dona Zeneida Lima é a mulher pajé mais conhecida do Brasil. Cabocla da Ilha do Marajó, sua vida foi dedicada ao processo de cura, pelo qual não cobra um centavo, e à defesa da floresta, das águas, dos direitos das crianças daquelas comunidades. As práticas e crenças desta pajé são permeadas por saberes construídos a partir de sua própria cultura local, por conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida , seja por meio de livros que tenha lido sobre temas como encantaria, mitologia e cultura amazônica ou por meio de sua própria experiência e vivência dessa religiosidade.
Escreveu cerca de dezessete livros, cujo mais famoso “O mundo místico dos caruanas e a revolta de sua ave” serviu de inspiração para o enredo do carnaval Campeão da escola de samba Beija-Flor, em 1998, por isso a representação do Caruana Beija-Flor na fantasia, que é o mensageiro da cura, claridade, graça e sorte.

31: Alegoria 06: A pajelança brasileira na ilha encantaria
Composições: Energias caruanas.
Destaque central: Peixe de sete asas.
A pajelança é uma magia nativa da região Amazônica, tipicamente indutiva, atuando sobre qualquer elemento vivo e mantendo estreita relação com os demais reinos da natureza: animal, vegetal, mineral, com base no xamanismo indígena.
A saia da alegoria reproduz as folhas das copas das árvores da floresta amazônica, especialmente as árvores paraenses, a folha do paricá e do sacaca. Demais plantas brasileiras com poderes de cura completam a mata mágica do carro, como a comigo-ninguém-pode. Decoração com palhas de café trançadas.
A flor frontal do carro representa o sangue feminino, que, ao desabrochar, revela as mulheres guerreiras e sábias que, por muito tempo, foram suprimidas e esquecidas nas culturas que evidenciavam os pajés masculinos. Aqui, recebem a justa e merecida consagração e aclamação como verdadeiras senhoras da pajelança brasileira.
O símbolo da escola, a coroa reduz ao centro do carro. Os pontos de energia vital para o nosso desfile, assim como os chakras do corpo humano. O chakra da alegoria recebe os raios e faz a coroa girar e em uma interação com os demais pontos liga-se ao chakra da raiz que une os pontos.
As composições laterais são as Energias Caruanas, canalização das vibrações dos elementos, especialmente a água, para abençoar a terra e todas as formas de vida nela existentes, que acabam por interagir entre si. Os cabelos são energizados, tanto das composições, como das esculturas, por isso a tonalidade branca, prateada.
As esculturas laterais são as pajés no momento da celebração do ritual da pajelança, agitando maracás, que quando sacudidos cadenciadamente, criam uma estrutura energética que permite o ingresso na seara da paranormalidade. Exalam fumaça de chanupa para elevar as preces ao sagrado.
A escultura central é a pajé, que sentindo o pulsar dos caruanas, metamorfoseia-se em ave, transitando entre os planos dos vivos e dos mortos, para ter o dom de ministrar as ervas, orações, infusões e chás para curar as doenças dos necessitados. O destaque central é o Peixe de Sete Asas, ser fantástico, translúcido, responsável pela interações e trocas de energia entre a pajé e os caruanas.
O caruana beija-flor ganha destaque na composição do carro, uma vez que é o responsável pela cura e sorte, além do que foi o desfile Campeão da escola de samba Beija-Flor, em 1998, que divulgou para o Brasil, os fundamentos e ensinamentos da pajelança cabocla.

32: Ala 22 – Velha Guarda: O legado para a eternidade

Transcendendo do passado, observando o futuro, segue o xamanismo com sua sabedoria ancestral como pilar de equilíbrio entre os mundos. A sabedoria de nossos baluartes saúda, com fervor, ao poder feminino, em voos cada vez mais profundos na alma para propagar a luz necessária para o bem de quem a ele se socorre. Eis o legado maior: perpetuar os fundamentos do xamanismo, da pajelança, para estabelecer a paz e a harmonia pela eternidade.




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