Cocagne...
Felicidade não tem fim, tristeza, sim
FICHA TÉCNICA:
Enredo
COCAGNE... FELICIDADE NÃO TEM FIM, TRISTEZA, SIM
Autor
do enredo DIOGO GARDONI
Número
de componentes 3390
Número de alegorias 7
Número de alas
31
Comissão de Frente
A EUROPA MALTRAPILHA CONTRA O MONSTRO DA FOME
Bateria PRECIOSIDADES
Ala das Crianças
JOÃO E MARIA
Ala das Baianas
O JARDIM DAS FADAS
Ala de Passistas
ESPLENDOR DA FAUNA: BORBOLETAS
Primeiro Casal de MS & PB A INCRÍVEL ÁRVORE DE DINHEIRO
Segundo Casal de MS & PB A PINTURA DO MEDRONHEIRO
Apresentação
Homens e sonhos.
Homens e utopias. Desejos. Fantasias. A imaginação humana e sua necessidade de
satisfação deram ao mundo histórias fabulosas sobre a felicidade plena e o afã
de encontrar, no mundo real ou na imaginação, um lugar que fizesse bem para o
corpo e para alma, onde tudo seria perfeito, irrepreensível, mágico...
Este
desejo longínquo sempre acompanhou os homens, principalmente com a promessa das
mais variadas crenças de alcançar um paraíso sublime para aqueles que eram
bem-aventurados de espírito. Assim, o mundo conheceu a Terra Prometida dos
judeus, o Jardim do Éden pregado pelo cristianismo, a Ilha de Cítera na
mitologia grega, dentre muitos outros “paraísos” perdidos na fértil imaginação
humana, calcados, muitas vezes, em justificações divinas.
E
foi assim também que a Europa conheceu Cocagne (lê-se “cocâne”) ou o País da
Cocanha. Uma terra onde a fartura e o ócio eram reinantes. Onde a felicidade
era sempre atingível e o mal, nunca presente. E de séculos em séculos, de mente
em mente, o mito de Cocagne foi percorrendo o mundo, seja pelas mãos de grandes
pintores ou de inspirados escritores, seja no desejo intrínseco de cada um em
encontrar o seu paraíso próprio, seja na linguagem marcante de um povo sofrido,
como o do sertão brasileiro. Assim, a história dessa terra, que desconhece as
mazelas do mundo real, atravessou o tempo e, nesse momento, aterrissa nesse
sonho chamado carnaval. Aqui, Cocagne é o sorriso da baiana, o garbo da
comissão de frente, a felicidade do ritmista, o esplendor das alegorias, o
mágico bailar do mestre-sala e da porta-bandeira.
Nesse
país fantástico e em nosso enredo (contrariando o famoso verso criado por Tom
Jobim e Vinícius de Moraes), felicidade não tem fim, tristeza, sim. A viagem
começa agora... Seja bem-vindo! Seja feliz!
Observação
Inicial
Para melhor
entendimento do leitor, o argumento do enredo a seguir está dividido em quatro
capítulos principais: “O mito de Cocagne na Europa medieval”, “Cocagne inspira
a pintura e a literatura na Europa”, “Viagem a São Saruê, a Cocagne brasileira”
e “Eterna utopia ou esperança de realidade?”. Os sete sub-capítulos
correspondem aos sete setores do desfile. São eles: “Le Pays de Cocagne (O País
da Cocanha)”, “Pinceladas sobre o mesmo tema... um paraíso”, “João e Maria”, “O
cordel nordestino – Belezas e riquezas de São Saruê”, “Um banquete para saciar
a gula”, “Terra sem mal” e , por fim, “Em busca de nossa própria Cocagne –
Maravilhas do Brasil”.
Sinopse do Enredo:
“Cocagne...
Felicidade não tem fim, tristeza, sim”
CAPÍTULO
1 : O MITO DE COCAGNE NA EUROPA MEDIEVAL
1. Le Pays de Cocagne
(O País da Cocanha)
Em meados do século XIII, a Europa vivia um abismo social
de extremas proporções. De um lado, a nobreza feudal e o clero representavam a
nata da sociedade, gozando de vasta riqueza e de grande poderio político e
econômico. Em contrapartida, o sustento das regalias dos mais afortunados era
decorrente da exploração impiedosa sobre a mão-de-obra servil, representada, em
sua maioria, por camponeses e artesãos que provavam do mais alto descaso, viam
a fome e a miséria de perto e sucumbiam às mais variadas doenças. O caos total
aconteceria no século seguinte, quando a peste negra ceifou milhares de vidas
em todo o continente, causando mudanças radicais na ordem social européia.
Apesar deste cenário maldito,
repleto de mazelas e assombros, ainda havia espaço para o sonho. Em diversas
regiões do Velho Continente, histórias fantásticas e lendas míticas povoavam a
imaginação dos mais pobres, como um filete de esperança que pudesse transformar
o inferno em céu, a dor em alívio. Foi assim que, no norte da França, pelas
mãos de poetas anônimos, surgiu o mito de Cocagne (ou, em português, Cocanha).
Não se sabe ao certo o significado desta palavra curiosa, tampouco sua
verdadeira origem. O que se sabe é que, em latim, provençal, holandês e alemão,
respectivamente, ela significa “cozinhar”, “casca de fruta”, “pastel” e “bolo”.
Seja qual for seu real significado, em todas estas línguas, Cocagne está intimamente
ligada à alimentação. E era exatamente assim que os europeus a viam: Cocagne
era o país da fartura.
Mais do que a simples acepção
alimentar, este país imaginário era visto como a terra da felicidade, uma
sociedade perfeita, onde todos viviam em harmonia, alegres, sãos, sem as
carências que o mundo real possuía. Naquela terra maravilhosa, ninguém era
obrigado a trabalhar, ninguém envelhecia, a abundância era total. Havia rios de
leite, árvores de mel, os mais diversos frutos da terra... A temperatura era
amena e a felicidade, sempre possível. Enfim, Cocagne era uma utopia, uma
ilusão, um sonho distante, o avesso daquela Europa catastrófica que se erguia
diante dos mais pobres.
CAPÍTULO
2 : COCAGNE INSPIRA A PINTURA E A LITERATURA NA EUROPA
2 – Pinceladas sobre o
mesmo tema... um paraíso!
O País da Cocanha não morreu junto com a Idade
Média. O mito de um país imaginário, onde tudo era perfeito, ganhou força no
Renascimento pelas mãos de artistas que se propuseram a pintar em telas a
imagem daquela terra fabulosa. Através de diversas obras que retratavam o
bucolismo e as visões dos pintores sobre este lugar paradisíaco, Cocagne estava
imortalizada.
Hieronymus Bosch, pintor holandês nascido no século XV,
encheria os olhos do mundo com sua tela batizada de “O Jardim das Delícias”
(que no fim do século XVI, também ficaria conhecida como “A pintura do
medronheiro”), na qual os pecados dos homens, todos nus, cercados de morangos
vermelhos, lagos cristalinos e campos floridos, estavam entre a magnitude
celestial e os domínios do inferno. Eram os prazeres da carne, a liberdade dos
homens e os encantos da natureza pintados em cores vibrantes, traduzindo os
desejos e as vontades do ser humano em conquistar a felicidade plena.
Em Pieter Brueghel, o Velho, renomado artista flamengo do
século XVI, o mito de Cocagne é retratado em uma de suas mais importantes
obras: “O País da Cocanha”. Nesta, três figuras tipicamente medievais – um
monge, um soldado e um camponês – deitados na relva, observam as árvores explodindo
em frutas, numa visão da abundância de comida que existia no país. O quadro,
além desta citação à fartura da terra como forma de satisfação, traz ainda a
igualdade entre as classes, baseada na idéia de que, deitados na relva e
admirando as árvores frutíferas ao alcance de todos, os três personagens tinham
os mesmos direitos e desfrutavam das mesmas oportunidades oferecidas pela
natureza. Ócio, fartura, igualdade, beleza, paz... o verdadeiro paraíso!
3 – João e Maria
Além da pintura, Cocagne também foi inspiração para
diversos poetas, escritores e ensaístas na Europa. Talvez o mais claro exemplo
da influência deste mito na literatura fora em “João e Maria” (título original
“Huntsel und Gretel”), conto infantil dos irmãos Jacob Ludwig Karl
Grimm e Wilhelm Karl Grimm, da coletânea “Contos de fadas para crianças”,
lançada em 1857 na Alemanha.
Na história, dois irmãos, João e Maria, órfãos de
mãe, vivem com o pai e a madrasta numa simples cabana feita com troncos de
árvores. A vida, que sempre fora difícil, tinha se tornado mais complicada pela
falta de comida. Não havia pães para todos. Foi então que, a madrasta, que era
uma mulher muito má e ambiciosa, propôs ao marido, pai de João e de Maria, que
abandonassem os filhos no bosque, quando fossem cortar lenha e colher o mel das
colméias. João, que havia escutado a conversa, resolveu arquitetar um plano:
cataria pedrinhas no chão e levaria consigo quando fossem ao bosque. À medida
que caminhassem, João e Maria jogariam as pedrinhas no chão e, assim, saberiam
voltar para casa. Pois assim aconteceu: abandonados no meio da floresta,
seguiram a trilha feita de pedrinhas brilhantes e conseguiram reencontrar a
simples cabana onde moravam. Entretanto, a madrasta não desistira. No dia
seguinte, fizeram o mesmo caminho, só que agora, João não conseguira recolher
as pedras no dia anterior. Substituiu-as por farelos de pão, que jogados no
chão, formariam o caminho de volta. Porém, depois de novamente serem
abandonados, João e Maria não puderam retornar: os passarinhos haviam comido os
farelos de pão e eles estavam perdidos naquele imenso bosque.
É aí que começa a
semelhança entre o conto dos irmãos Grimm e a velha lenda de Cocagne. Num
clarão da floresta, as duas crianças encontram uma casa feita de doces,
multicolorida, repleta de jujubas, balas, caramelos, pudins... O telhado da
casinha era de chocolate e as paredes, feitas de bolo. Famintos, correram em
direção a casa para devorá-la, e lá encontraram uma senhora que lhes ofereceu
comida e abrigo. Mal sabiam que aquela senhora era uma bruxa que devorava
crianças. Depois de um tempo de engorda, a bruxa comeria os dois irmãos, se não
fosse a astúcia de Maria, que conseguiu empurrá-la para dentro de um grande
forno e libertar seu irmão. Os dois, então, resolveram explorar a casinha e
descobriram cofres e mais cofres cheios de pedras preciosas, diamantes,
pérolas, rubis, esmeraldas... Depois, conseguiram achar o caminho de volta para
casa. Lá, encontraram o pai arrependido. A madrasta havia morrido, e os três
agora estavam ricos e tinham comida em abundância. Já não precisariam temer a
miséria e a fome, que tanto os assustava. A felicidade era plena, assim como no
País da Cocanha, e a vida, repleta de satisfações e prosperidade.
CAPÍTULO
3: VIAGEM À SÃO SARUÊ, A COCAGNE BRASILEIRA
4. O
cordel nordestino – Belezas e riquezas de São Saruê
E eis que o mito de Cocagne chega ao Brasil. De boca
em boca, a lenda desse país dos sonhos atravessou culturas, fronteiras,
oceanos, e veio parar em solo nordestino, terra do sol e de gente guerreira,
mas que também sabe, como ninguém, fazer verso e cantar seu povo. E foi na
literatura de cordel que a Cocanha se popularizou pelas bandas do sertão, lugar
tão castigado pela seca e pela miséria de seu povo. A mesma fome que visitara
os servos da Europa medieval se fazia presente na vida do sertanejo. As mesmas
feridas, as doenças, a opressão, faziam o nordestino sonhar com um paraíso que
pudesse ser uma catarse, um escape para aquela realidade sofrida, dura, sem
piedade.
Foi então que o poeta popular Manoel
Camelo dos Santos criou o folheto “Viagem a São Saruê”, uma versão brasileira,
bem nacional, da francesa Cocagne. E fora nos seus versos cantados, cheios de
rimas e com o linguajar típico da região, que Camelo descreveu São Saruê, nossa
Cocanha arretada, terra de fartura e de povo feliz.
O poema de Manoel Camelo descreve com entusiasmo a visão
de São Saruê. Logo na entrada daquele país, uma placa em ouro, cravejada de
diamantes dizia: “São Saruê é este lugar aqui”. Adentrando os limites daquela
região que nada parecia com o sertão sofrido e castigado, era possível ver quão
rica e quão bela era a terra da felicidade.
“Lá
os tijolos das casas
são de cristal e marfim
as portas barras de prata
fechaduras de ‘rubim’
as telhas folhas de ouro
e o piso de ‘sitim’.”
são de cristal e marfim
as portas barras de prata
fechaduras de ‘rubim’
as telhas folhas de ouro
e o piso de ‘sitim’.”
Com
aquele mundo reluzindo à sua volta, o poeta se extasia. Vê construções de
pedras preciosas, ricos metais... Logo em seguida, se depara com uma plantação
de dinheiro. As árvores carregadas de cédulas, arbustos de ouro e prata,
fazendas de moedas... Riqueza e ostentação na corte da imaginação. O
faz-de-conta tão desejado se transforma em realidade na São Saruê da
prosperidade. E a natureza tão bela, com suas matas, animais e cores mil,
contrastando com a aridez do Nordeste do Brasil...
“Lá
existe tudo quanto é de beleza
tudo quanto é bom, belo e bonito,
parece um lugar santo e bendito
ou um jardim da divina Natureza”
tudo quanto é bom, belo e bonito,
parece um lugar santo e bendito
ou um jardim da divina Natureza”
5.
Um banquete para saciar a gula
Fome e miséria se transformam em delícias abundantes. Do
sertão seco à São Saruê das farturas, o poeta se deslumbra com os contrastes. O
toque de fantasia dá o tom, e a imaginação projeta os mais variados desvarios
nessa comilança geral. Doce vida! Em São Saruê, assim como na Cocagne, rios de
leite cortam as florestas. Neste país mágico, onde tudo é possível, as canas
não têm bagaço: umas são como canos de mel, que todos podem provar, e outras já
dão açúcar refinado, branco como as nuvens do céu. Matérias-primas para as
iguarias mais saborosas, o lado açucarado de São Saruê.
Lá, onde as pedras são de rapadura,
onde os atoleiros são de coalhada, as lagoas são de mel de abelha, os poços são
de café, já coado e com quentura... É onde o povo lambe os dedos e sente a
doçura de viver. Um colorido toma conta desse faz-de-conta e nos leva a provar
o lado sereno e adocicado de nossa existência, mostrando que o sabor amargo
deve passar e dar lugar a uma vida mais contente.
Nesta terra encantada, feijão já nasce cozido e o arroz,
“prontinho e descascado”. Galinha põe todo dia ovos graúdos e saborosos, e os
peixes, de tão mansos, nem precisam ser pescados: saem do mar sozinhos e vão
para as casas, “gordos, bonitos, cevados”. No milharal de São Saruê, as espigas
são pamonhas, e os pendões, pipocas!
“(...)o
trigo invés de sementes
bota ‘cachadas’ de pão
manteiga lá cai das nuvens
fazendo ruma no chão
bota ‘cachadas’ de pão
manteiga lá cai das nuvens
fazendo ruma no chão
Maniva
lá não se planta
nasce e invés de mandioca
bota cachos de beiju
e palmas de tapioca”
nasce e invés de mandioca
bota cachos de beiju
e palmas de tapioca”
O banquete é o próprio país. Se as pedras são de queijo,
comam, é de graça! As barreiras são de carne assada, os açudes de vinho do
Porto, as palmeiras de tapioca, o céu é de manteiga e manteiga cai no chão. Nem
de longe parece a miséria e a escassez do seco sertão. Do açude de vinho, o
povo feliz enche a taça e brinda a vida porque a vida deve ser degustada a cada
dia, como um banquete na mesa. E à mesa, a população de Saruê pode se sentar e
se servir. Tudo está ali, bem debaixo dos pés, bem ao alcance da visão. É o
país das delícias e dos quitutes, quitutes que brotam do chão.
6. Terra sem mal
São Saruê é o local imaginário onde o nordestino vê de
perto o que a dureza da vida, vida severina, cega e esconde. Lá, criança já
nasce sabendo: lê e escreve, não é necessário ensinar. O descanso é sempre
possível porque trabalho não existe. A vida é um mar de rosas, de desfrute
total, um pedaço de céu. É a terra sem mal, sem dor nem lamento, da ausência de
doenças mortais e da sucumbência dos homens. As pessoas são bonitas, fortes e
exibem um vigor invejável, gozando de boa saúde e vivendo com prazer, pois a
vida não é nada sem prazer.
“Lá
não se vê mulher feia
e toda moça é formosa
bem educada e decente
bem trajada e amistosa
é qual um jardim de fadas
repleto de cravo e rosa.”
e toda moça é formosa
bem educada e decente
bem trajada e amistosa
é qual um jardim de fadas
repleto de cravo e rosa.”
Manoel Camelo dos Santos descreve uma terra do bem, sem
maldade ou carências. Até roupas, chapéus, calçados, tecidos, brotam das
árvores! Tudo é possível nos domínios desta civilização imaginária, que tanto
os homens sonham para ser verdade. Existe, em São Saruê, uma comunhão de bons
sentimentos que inundam o local e o transformam em terra ideal, de paz,
harmonia, bem-querer, amor, alegria...
Nesta Cocagne sonhada por um nordestino cantador, nem
mesmo a velhice é presente. No meio das matas, num terreno exuberante, existe
um rio, o Banho da Mocidade. Quem se banha com suas águas se rejuvenesce, volta
a ser novo e desconhece a tristeza da morte. O velho sonho da eterna juventude
é real nessa utopia fantástica. As águas que lavam os corpos levam para longe a
dor da perda e dá aos homens a certeza de que a vida continua... para sempre...
“Lá
tem um rio chamado
o banho da mocidade
onde um velho de cem anos
tomando banho a vontade
quando sai fora parece
ter vinte anos de idade”
o banho da mocidade
onde um velho de cem anos
tomando banho a vontade
quando sai fora parece
ter vinte anos de idade”
7. Em busca de nossa
própria Cocagne – Maravilhas do Brasil!
Então, Manoel Camelo dos Santos se despede de sua própria
imaginação. A viagem à São Saruê termina, mas o sonho prossegue, ganha vida a
cada leitura de seu poema, e faz o nordestino acreditar que um dia, quem sabe
um dia, isso tudo não possa ser a mais verídica das verdades. E um dia alguém
disse e não há sertanejo que duvide: “O sertão vai virar mar...”. E, com as
ondas desse mar, a felicidade há de chegar. Plantar, colher, comer, viver em
paz, com saúde e algo mais. O Nordeste merece.
Com educação e seriedade, o país há
de se transformar. Homens e livros vão fazer essa terra mudar! Mudar para
melhor, instruindo a infância, que, nunca, jamais, deixará de ser nossa
esperança. E a felicidade há de chegar!
Um português já dizia “planta que
dá”, e isso não tem como negar. Soja, trigo, café, cana, laranja... o Brasil e
o mundo inteiro podem, enfim, se alimentar. Divide a terra, solo fértil e
viril, e o brasileiro, comida na mesa terá! Aqui é o celeiro do mundo e a
felicidade há de chegar. Agora ou mais tarde, mas há.
No Norte desse gigante, surge a mata
em imensidão. Amazônia, floresta promissora, é onde mora a salvação. O caboclo
com sua sabedoria já experimenta os poderes do chão. E cada folha, cada caule,
cada semente podem ser a cura do mal, o fim das pragas, felicidade afinal!
Enquanto a busca continua, no Brasil
tem carnaval. Seja nas ladeiras de Olinda, seja no Candeal, seja em Madureira,
aqui é o pais da folia, o país da alegria, que adormece as mágoas para
despertar o alto-astral. Temos muito a ensinar ao planeta como se vive assim,
brincando, pulando, cantando, sambando até o dia raiar. Nem a Quarta-Feira faz
o povo esmorecer. Ano que vem tem mais e tudo começa outra vez, numa magia
esfuziante chamada carnaval.
São as maravilhas do Brasil, a nossa pátria-mãe, que vai
ser, tomara!, uma Cocagne real, a São Saruê de verdade, uma pintura de país que
mais vai parecer um lindo conto infantil. Agora, enquanto essa utopia se
transforma em desfile de escola de samba, estamos eternizando, mais uma vez, o
mito de Cocagne. Salve o Brasil! E seja feliz!
FIM
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cocagne
é uma esperança. “Cocagne... Felicidade não tem fim, tristeza, sim” é a
construção carnavalesca desta esperança. Para celebrar a alegria, nada como
juntar uma utopia que já ultrapassa os séculos com a quintessência da
felicidade, que é o nosso carnaval. Unidos, são como a realização dos nossos
desejos mais íntimos, cercados da verdade, do bem e do belo. O carnaval é a
nossa Cocagne, nossa São Saruê que acontece na avenida, num momento de riqueza
e fascínio único. Viva o carnaval e vivam nossos sonhos! Este enredo é uma
homenagem ao poder dos homens de viajar dentro de si próprio.
Organograma de Desfile
CAPÍTULO
1: O MITO DE COCAGNE NA EUROPA MEDIEVAL
SETOR 1: “LE PAYS DE COCAGNE”
O setor inicial mostra a situação caótica da Europa em
meados do século XIII e o surgimento da lenda sobre um país imaginário, o mito
de Cocagne, criado por poetas do norte da França.
Comissão de Frente
“A
Europa maltrapilha contra o monstro da fome” : São doze mulheres vestidas como
mendigas, esfarrapadas, sujas, representando uma Europa de miséria e
desigualdade no século XIII. Um homem, vestido em negro e representando uma
figura monstruosa, é o “Monstro da Fome”, com quem as doze mulheres travam uma
batalha para matá-lo e encontrar a felicidade.
*Componentes:
13
Porta-Estandarte
“Rainha
medieval” – Para criar um contraste com o caos abordado na comissão de frente,
a porta-estandarte traz o pavilhão da escola e uma fantasia com muito luxo e
requinte. Trata-se de uma rainha medieval, em tons marrom, marfim e dourado,
com uma coroa repleta de pedras preciosas. Simboliza a Europa rica que
pertencia a poucos.
*Componentes:
1
Ala 1
Baluartes
da Escola: “Os poetas do imaginário” - 15 componentes homens da Velha Guarda da
agremiação vêm elegantemente trajados, em branco e prata, vestidos como os
poetas que criaram o mito de Cocagne na França medieval. É um resgate das
comissões de frente tradicionais, apesar de não exercer este papel dentro deste
desfile.
*Componentes:
15
Ala 2
Ala
das Baianinhas: “O sonho” - Fantasia em
tons pastéis, nas cores amarelo, rosa, azul, branco e prata. É a representação
do sonho da felicidade presente na Europa, em contraste com toda a miséria
existente no continente.
*Componentes:
130
CARRO ABRE-ALAS
“O
mito de Cocagne” – Eis que o sonho europeu se faz presente no imaginário do
povo: o mito de um país das maravilhas nasce no norte da França. O carro traz
uma grande cascata de leite jorrando no centro do carro. Na parte de trás, como
pano de fundo, três imensas árvores cor-de-mel explodem em frutos, como maçãs,
uvas, pêssegos, nozes, avelãs, damascos, framboesas, cerejas, assim como em
toda saia do alegoria. Dez cogumelos gigantes servem de “queijo” para as composições,
que vestem a fantasia “Borboletas”, aludindo às maravilhas da fauna daquele
país fantástico. Sobre dois moinhos de vento multicoloridos, que representam o
girar da imaginação, estão os destaques principais do carro: um, com a fantasia
“A terra da felicidade”, vestido de bobo da corte; o outro vestindo “As quatro
estações”, falando do equilíbrio da temperatura em Cocagne. Nas laterais do
carro, duas esculturas adormecidas, deitadas, um menino e uma menina, lembram
que Cocagne também era a terra do ócio.
*Componentes:
12
CAPÍTULO 2: COCAGNE INSPIRA A
PINTURA E A LITERATURA NA EUROPA
SETOR 2: “PINCELADAS SOBRE O MESMO
TEMA... UM PARAÍSO!”
Neste setor, estão retratas duas obras de dois grandes
pintores que foram influenciados pelo mito de Cocagne: “O jardim das delícias”,
de Bosch, representada em alas; e “O País da Cocanha”, de Brueghel, o Velho,
citado no segundo carro alegórico.
Ala 3
“A
tentação dos morangos” – Toda em vermelho, repleta de morangos, a fantasia
remete ao quadro “Jardim das Delícias”, onde o morango seria a fruta do pecado
e do prazer.
*Componentes:
100
Ala 4
“Lagos
cristalinos” – A fantasia é em prata e branco, lembrando os lagos cristalinos
onde mulheres e homens se banhavam, totalmente nus, no Jardim das Delícias.
*Componentes:
100
Ala
5
“Campos
floridos” – Remete à natureza pintada na tela de Hieronymus Bosch. É um grande
jardim de antúrios, numa fantasia tem que tem o branco, o amarelo e o verde
como cores principais.
*Componentes:
100
Segundo casal de mestre-sala e
porta-bandeira
“A
pintura do medronheiro” – A fantasia da porta-bandeira é o próprio medronheiro,
tipo de arbusto pintado na tela de Bosch, nas cores verde musgo. A roupa do
mestre-sala, em preto e dourado, representa o próprio Bosch, com aquarela
servindo de leque, pintando o famoso quadro. No final do século XVI, “O Jardim
das Delícias” também ficou conhecido como “A pintura do medronheiro”.
*Componentes:
2
Ala 6
“Entre
o céu e o inferno” – Na tela de Bosch, além da reprodução de paraíso que se
aproximava do mito de Cocagne, existem duas telas adicionais que cercam a
principal: de um lado, o inferno, de outro, o céu. A fantasia é metade vermelha
e dourada, metade branca e prateada, para destacar essa dualidade.
*Componentes:
110
SEGUNDO CARRO ALEGÓRICO
“Pieter
Brueghel pinta o País da Cocanha” – À frente do carro, uma grande aquarela
serve de base para uma enorme macieira, representando a árvore do quadro “O
País da Cocanha”. Debaixo dessa macieira, três esculturas representam o monge,
o soldado e o camponês da tela. No topo da árvore, vem o destaque “Pieter
Brueghel”, numa fantasia em tons preto, vermelho e dourado, que homenageia o
pintor. Nas laterais da aquarela, seis queijos trazem destaques representando
“Maçãs”. Na parte de trás do carro, um enorme castelo medieval em dourado, com
porta elevadiça, calabouços, brasões e canhões. Sobre esta imensa estrutura,
destacam-se soldados com suas armaduras e dois destaques principais: sobre a
torre da direita, “O senhor feudal”; sobra a torre da esquerda, “Clérigo”. A presença
deste imenso castelo contextualiza a época retratada na tela de Brueghel, já
que os três personagens sob a macieira são figuras tipicamente medievais.
*Componentes:
29
SETOR 3: “JOÃO E MARIA”
Ainda na Europa, os irmãos Grimm, escritores alemães, escrevem
uma série de contos infantis. Dentre eles, “João e Maria”. Na história, dois
irmãos encontram uma casinha toda feita de doces, inspirada em Cocagne, numa
narrativa que envolve fartura e riqueza.
Ala 7
Ala
das Crianças: “João e Maria” – Trinta e cinco meninos representam João, com uma
jardineira em azul, marrom e branco, e boina, e trinta e cinco meninas são as
Marias, com vestido rodado nas mesmas cores da roupa masculina, peruca com tranças e chapéu de camponesa.
*Componentes:
70
Ala 8
Ala da Comunidade 2 -
“O lenhador” – Jardineira em vermelho, marfim e dourado, com penas de faisão no
esplendor. Representa o pai de João e Maria e traz na mão o machado de lenha.
*Componentes:
110
Destaque de chão
“A
madrasta megera” – Fantasia em dourado, com detalhes em preto. Mostra a maldade
da madrasta que abandona os enteados no bosque. O personagem é um resgate dos
antigos destaques de chão e vem com esplendor também em preto e dourado.
*Componentes:
1
Ala 9
“As
abelhas do bosque encantado” – São 85 componentes aludindo às abelhas e às
colméias do bosque de “João e Maria”. A roupa, em laranja, preto e amarelo,
remete ao recolhimento de mel feito pelos dois irmãos.
*Componentes:
100
Ala 10
“Passarinhos”
– Prestes a serem abandonados na floresta, João e Maria formam uma trilha de
farelo de pão para encontrar o caminho de casa. Mas passarinhos comem os
farelos e os dois se perdem no bosque. A fantasia tem asas com penas
azul-celeste e a cabeça é um bico de pássaro, em azul turquesa.
*Componentes:
110
TERCEIRO CARRO ALEGÓRICO
“João
e Maria na fantástica casa de doces” – Multicolorido, é um carro com marcante
temática infantil. A casinha de doces está no centro do carro; vem em marrom no
telhado, como o chocolate, e branca nas paredes, como se fosse o glacê do bolo.
No jardim frontal, caminhos de jujubas, dois pudins, dez caramelos, docinhos em
forma de flores, além de cinco cata-ventos em movimento... um mundo doce
encontrado pelos irmãos João e Maria. Na parte traseira do carro, oito
pinheiros imitam o bosque do conto de fadas, com seus esquilos, pássaros e
colméias. Sobre esta floresta, vem o destaque mais alto do carro: “Homenagem
aos irmãos Grimm”, uma fantasia em amarelo, vermelho e preto, as cores da
bandeira da Alemanha. Sobre a casinha de doces, um outro destaque vem de “A
velha bruxa do bosque encantado”, fantasia em preto e roxo. Vinte crianças
estão distribuídas pelas duas laterais da alegorias, sobre flores brancas,
representando “Mariposas”. Ainda nas laterais, diversos baús contêm as pérolas,
as esmeraldas e outras riquezas encontradas na casinha. Mais duas crianças
vêm à frente do carro personificando
João e Maria.
*Componentes:
24
CAPÍTULO 3: VIAGEM A SÃO SARUÊ, A
COCAGNE BRASILEIRA
SETOR 4: “O CORDEL NORDESTINO –
BELEZAS E RIQUEZAS DE SÃO SARUÊ
A primeira parte do setor é uma contextualização do
Nordeste brasileiro, com seu sertão castigado. Na segunda parte, começa a
viagem a São Saruê, o país imaginado por Manoel Camelo dos Santos, e que é
considerado a Cocagne brasileira. Neste setor estão representados as belezas e
as riquezas da fabulosa terra.
Ala 11
“Sol
sem piedade nos sertões” – O tom terra predomina na fantasia. O esplendor é um
sol dourado, que castiga a vida do sertanejo. Nos ombros, cactos mostram a seca
e a aridez do sertão.
*Componentes:
60
Ala 12
“Poetas
e repentistas, cantadores do Nordeste” – Repleta de fitas coloridas, fala da
alegria do povo do Nordeste, que, mesmo com todas as adversidades, ainda sabe
contar e cantar a alegria. Homenagem ao poetas populares. Um deles, Manoel
Camelo, cria o folheto sobre São Saruê.
*Componentes:
60
Tripé
“São
Saruê é este lugar aqui” – O tripé é um imensa barra de ouro, de sete metros de
altura, cravejada de brilhantes que formam a frase “São Saruê é este lugar
aqui”, assim como Camelo descreveu em seu poema. A placa, que está na entrada
do país imaginário, serve, aqui, de início para a nossa viagem à essa terra da
felicidade e da fartura.
Ala 13
“Arbustos
de prata e ouro” – A ala é divida em duas partes: à esquerda, vêm os arbustos
de prata, numa fantasia cheia de folhagens na cor citada; à direita, a mesma
fantasia, só que com a cor dourada. Em São Saruê, era comum encontrar esse tipo
de planta.
*Componentes:
80
Primeiro casal de Mestre-Sala e
Porta-Bandeira
“A
incrível árvore de dinheiro” – Ambas as fantasias são verdes, representando a
fabulosa árvore de dinheiro. Na saia dela, várias cédulas verdes, assim como na
roupa do mestre-sala. A fantasia dos dois é detalhada com moedas douradas, que
“brotam” das folhagens. A cabeça de ambos é decoradas com plumas verdes e
diversas moedas.
*Componentes:
2
Bateria
“Preciosidades”
– Em São Saruê, além dos metais, várias pedras preciosas fazem parte da
decoração do lugar. A bateria vem de “Preciosidades” para mostrar os rubis, as
esmeraldas e os cristais. Fantasia basicamente em vermelho e com plumas
verde-esmeralda na cabeça. O nome da fantasia também faz alusão ao samba, uma
preciosidade de ritmo.
*Componentes:
290
Ala 14
Ala
de Passistas: “Esplendor da fauna: borboletas” – A elegância, a beleza e a
leveza da fauna do país estão retratados nesta fantasia dos passistas. São as
borboletas, que, comparadas aos passistas, bailam, enfeitam a vida e enchem os
olhos de quem vê. Fantasias nas cores amarelo, azul e rosa.
*Componentes:
40
Ala 15
“Esplendor
da flora: verdes matas” – Depois da fauna, a flora do lugar. Como um país
perfeito, não existia desmatamento. As plantas nascem com vigor e são de uma
beleza estonteante. O verde das matas está presente nesta ala.
*Componentes:
50
QUARTO CARRO ALEGÓRICO
“Belezas
e riquezas de São Saruê” – É um carro com muitos espelhos e com vários efeitos
de luz, para mostrar o brilho da riqueza de São Saruê. A alegoria conta com
três casas de cristal, telhados de ouro e portas de prata, além do chão repleto
de safiras, esmeraldas e rubis. Sobre a casa do meio, vem o destaque “A luz que
emana dos metais”, em dourado e prata. Na parte dianteira, composições vestem a
roupa “Borboletas”, todas em amarelo suave. Ladeando o carro, o encanto da
natureza do local, vista de maneira surreal: as plantas são prateadas com
toques de verde; onças, borboletas, beija-flores, cotias, sabiás vêm em tons
dourados. As flores são transparentes e iluminadas por canhões de luz em
vermelho, amarelo, branco e azul. Na parte traseira, como pano de fundo,
organzas brancas e tecidos prateados completam o cenário. As composições
laterais vêm fantasiadas de “Frutos”, todos em tons prata e com detalhes em
amarelo, vermelho e roxo.
*Componentes:
31
SETOR 5: UM BANQUETE PARA SACIAR A
GULA
O quinto quadro do enredo fala sobre a fartura de
alimentos que o poeta “encontra” em sua viagem. Assim como na Cocagne francesa,
os rios, as pedras, as lagoas, as árvores são feitas de comida, e a abundância
do local é surpreendente, um verdadeiro banquete.
Ala 16
“O
rio de leite” – É uma ala coreografada e alude aos rios de leite de São Saruê.
Ladeando a ala, 40 pessoas (20 de cada lado) levam adereços de mão,
representando as árvores e formando um grande leito para o rio imaginário. No
centro da ala, 70 componentes vestem uma fantasia toda em branco, feita com
organzas e tecidos leves, e simulam os movimentos do riacho de leite, como
ondas e corredeiras, numa dança
sincronizada.
*Componentes:
110
Ala 17
“Os
poços de café” – Fantasia predominantemente em marrom para mostrar os fabulosos
poços de café da terra. Esplendor de plumas marrons com detalhes em preto;
chapéu em forma de poço, com seus tijolinhos vermelhos, e com plumas em marrom.
Pala com contas imitando grãos de café.
*Componentes:
90
Ala 19
“Um,
dois, feijão com arroz” – A fantasia é metade preta e metade branca, para
representar a dualidade do bom e velho feijão com arroz. No esplendor, folhas
verdes para mostrar as vastas plantações de São Saruê. Naquele lugar, feijão e
arroz já nasciam cozidos e descascados.
*Componentes:
100
Ala 20
“Peixes
de São Saruê” –. A cabeça do componente é envolvida pela cabeça do próprio
peixe, de cor azul marinho. As escamas estão na pala e têm uma gradação de
azul. No restante da roupa, escamas e motivos aquáticos em verde, prata e ouro.
Representam os peixes que não precisavam ser pescados e que saiam das águas
para a casa das pessoas.
*Componentes:
100
Ala 21
Ala
da Comunidade: “Galinha põe todo dia” – Fantasiados, comicamente, de galinhas,
a roupa é basicamente em branco, marfim e vermelho. A cabeça dos componentes é
a própria cabeça do animal. Nos ombros, dois ninhos com ovos. A capa é feita
com penas brancas, assim como o restante da roupa.
*Componentes:
90
QUINTO CARRO ALEGÓRICO
“São
Saruê é um banquete” - São dois carros
acoplados, contendo as iguarias de São Saruê descritas pelo poeta. No primeiro
chassi, destaca-se o lado açucarado do país: uma grande lagoa de mel está no
centro, cercada de doze composições fantasiadas de “Abelhas”. Em torno desta
lagoa, vêm as outras maravilhas: as pedras de rapadura, as plantações de cana
de mel e de açúcar refinado, os atoleiros de coalhada. No segundo chassi, vêm
as delícias salgadas e um brinde à vida. O açude de vinho do Porto, no centro
da alegoria, é todo cercado por enormes cachos de uva. Em volta, as pedras de
queijo e as barreiras de carne assada. Na parte frontal deste segundo carro, um
grande trigal com cachos de pão. Nas duas laterais, ao todo, vêm dez palmeiras
de tapioca. Atrás do açude, os pés de milho, com suas pamonhas e os pendões de
pipoca. Todas estas esculturas vêm em grandes proporções para mostrar a
abundância de alimentos na terra da fantasia. No alto da alegoria, vêm três
destaques: na direita, “O céu de manteiga”; à esquerda, “Um brinde à vida” e o
destaque central é “Trigal”. Os dois carros são a síntese da fartura em São
Saruê e, juntos, medem 35 metros.
*Componentes:
15
SETOR 6: “TERRA SEM MAL”
Alude à vida sem problemas dos habitantes de São Saruê. O
povo tem educação, saúde, é bonito e não sofre. Roupas brotam das árvores, e os
bons sentimentos imperam no país. Com as águas do Banho da Mocidade, um rio que
corta as matas do lugar, a juventude é eterna e sempre possível, como em
Cocagne.
Ala 22
Casais
mirins de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: “Corujas: sabedoria infantil” – Em São
Saruê, criança já nasce sabendo ler, escrever e tudo mais. As corujas
representam a sabedoria da infância e é a fantasia da porta-bandeira e do
mestre-sala dos casais, cada casal em uma cor (amarelo, verde, vermelho, azul,
laranja, rosa e branco).
*Componentes:
14
Ala 23
“Vigor
físico” – A fantasia é inspirada nos antigos trajes dos gregos, grandes devotos
da beleza física e do vigor. Em branco e ouro, resume as citações de Manoel
Camelo dos Santos sobre a gente bonita e saudável que encontrou no país
imaginário.
*Componentes:
100
Ala 24
Ala
das Baianas: “O jardim das fadas” – A ala das baianas está dividida em quatro
fantasias. Todas em tons bebê, elas vêm se diferenciando apenas pelas cores:
rosa, azul, amarelo e verde, organizadas seqüencialmente. Representam o Jardim
das Fadas, das mulheres formosas de São Saruê. A roupa tem uma guirlanda de
cravos e rosas na cabeça e asas nas costas, e as componentes carregam espelhos
nas mãos, aludindo à vaidade.
*Componentes:
130
Ala 25
“Tecido
brota no pé” – Representação da plantação de roupas. A fantasia contém um
material imitando galhos retorcidos, de onde, brotam meias, calçados, chapéus.
Na pala da roupa, tiras de tecidos multicoloridos, assim como na capa da
fantasia. Basicamente em verde, ouro e vermelho.
*Componentes:
90
Ala 26
“Os
bons sentimentos” – A ala fala sobre a comunhão de bons sentimentos emanados do
povo de São Saruê. Como uma terra sem mal, os corações dos habitantes são
puros, limpos, repletos de bondade. A fantasia contém três corações (dois nos
ombros e um que serve de esplendor), todos em rosa bebê, com plumas brancas
circundando o desenho. O restante da roupa mistura tons de prata e rosa claro.
*Componentes:
100
SEXTO CARRO ALEGÓRICO
“O
Banho da Mocidade: a eterna juventude” – Predominantemente em verde, o
penúltimo carro fala sobre a eterna juventude de São Saruê. À frente do carro,
três bustos prateados de idosos. Atrás destes, doze chafarizes representam a
fonte da juventude, que forma o rio da Mocidade. Estas fontes são cercadas de
folhas e plantas verdejantes, como se o rio cortasse uma densa floresta. Na
parte de trás da alegoria, três esculturas também prateadas(corpo inteiro) de
jovens fazem alusão à transformação dos velhos em novos. É neste carro que vem
parte da velha-guarda da escola. Cada componente vem em uma espécie de sacada,
acompanhado de uma criança do mesmo sexo e cor, num contraste entre a
experiência e a jovialidade. Serão, ao todo, 12 sacadas, todas cobertas de
folhagens e decoradas com espelhos, imitando água. No centro da alegoria, em
meio aos chafarizes, vem o único destaque co carro: “Mágicas águas claras”,
fazendo referência ás águas rejuvenescedoras do rio.
*Componentes:
25
CAPÍTULO 4: ETERNA UTOPIA OU
ESPERANÇA DE REALIDADE?
SETOR 7: “EM BUSCA DE NOSSA PRÓPRIA
COCAGNE – MARAVILHAS DO BRASIL!
O setor final mistura as já existentes maravilhas de nosso
país com os anseios de nosso povo para que o Brasil se torne, de fato, uma
Cocagne real. Sendo um país de solo muito fértil, com evidentes riquezas
naturais e com um espírito carnavalesco nato, o Brasil pode vir a ser, um dia,
o mito de Cocagne materializado.
Ala 27
“O
sertão vai virar mar...” – Os cactos vêm misturados com algas nos ombros dos
componentes; no esplendor, plumas azuis da cor do mar e marrons, cor de terra.
A pala da fantasia traz os peixes desse sertão marítimo. O chapéu de cangaceiro
tem conchas e uma estrela do mar. Representa o sonho de fartura do nordestino
com a chegada da água.
*Componentes:
100
Ala 28
“Educação
para o futuro da nação” – A capa da fantasia é formada por lápis gigantes, nas
cores verde, amarelo, azul, vermelho e rosa. Nos ombros, livros empilhados (os
livros também vêm na pala da roupa). O chapéu traz um pequeno quadro-negro com
a inscrição “Educação”, imitando giz.
*Componentes:
95
Ala 29
“Solo
fértil e viril” – De enxada na mão, os componentes representam os lavradores do
Brasil a terra onde tudo o que se plantou, deu. A capa da fantasia é toda
decorada com um material imitando sementes de soja. No chapéu, milho, arroz,
feijão em tamanhos maiores. Nas ombreiras, canas de açúcar em verde e amarelo.
É a fartura brasileira assemelhando-se com a abundância de Cocagne.
*Componentes:
110
Ala 30
“Amazônia,
tesouro de um país” – Na cabeça, raízes e folhas dos vegetais amazônicos. Na
pala, comprimidos e cápsulas que representam o poder medicinal das plantas.
Também na pala e no restante da roupa, folhas verdes e sementes da maior
floresta equatorial do planeta.
*Componentes:
95
Adereços de mão
“O
País do Carnaval” – São quatro grandes adereços de mão em forma de máscaras,
carregadas, cada uma, por dois componentes, todos fantasiados de arlequins. As
máscaras representam a lua, o sol, o palhaço e o dominó, luxuosamente
decoradas, mostrando que o Brasil, como o país do carnaval, é também uma terra
de fantasia, de alegria e de liberdade.
*Componentes:
8
Ala 31
“O
bloco Brasil-Folia” – É a reunião de todas as folias do Brasil. Fantasias
individuais, leves, soltas, mostram a alegria do carnaval do país. São piratas,
baianinhas, índios, seis bonecões de Olinda, os grupos afro de Salvador,
malandros, marinheiros, morcegos, melindrosas, odaliscas, índios... Este grupo
pretende mostrar que o Brasil possui, no carnaval, a liberdade e a felicidade
de Cocagne.
*Componentes:
100
SÉTIMO CARRO ALEGÓRICO
“Brasil
– Cocagne é aqui!” – Um Rei Momo em verde e amarelo, sentado em seu trono, é o
grande destaque da alegoria. Sobre sua coroa, vem o destaque principal do
carro: “Orgulho de ser brasileiro”. Rodeando a grande escultura de Momo, 18
mulatas fazem alusão à alegria do carnaval brasileiro, onde a felicidade e a
alegria não têm hora para acabar. Na frente da alegoria, três pandeiros
gigantes servem de bandeja para os produtos de nossa terra: milhos, laranjas,
abacaxis, bananas, uvas, cajus, feijões gigantes. Ladeando todo o carro, 14
“queijos”, sete de cada lado. Sobre eles, as composições vestem a fantasia
“Terra verde”, aludindo às maravilhas naturais do Brasil. Atrás do Rei Momo,
uma grande floresta com nossos animais silvestres, tais como araras, jabutis,
onças... No final desta grande floresta, um enorme jacaré de boca aberta está
virado em direção ao início do desfile. Sobre duas grandes árvores desta mata,
vêm mais dois destaques: à esquerda, “O país do carnaval”, à direita, “País
tropical abençoado por Deus”. Na saia da alegoria, tubos de néon em verde e
amarelo dão mais um toque de brasilidade nesta Cocagne que, um dia, poderá ser
de TODOS os brasileiros.
*Componentes:
33
Velha Guarda
A
fantasia não possui nome. Vestidos de branco, senhoras e senhores da escola
carregam a tradição do samba e encerram com chave de ouro o enredo “Cocagne...
Felicidade não tem fim, tristeza, sim”.
*Componentes:
60
Ala dos Compositores
*Componentes:
50
*Componentes:
indica o número de figurantes de cada grupo.
São
3253 figurantes mais 137 pessoas de apoio (diretores de harmonia, de evolução,
intérpretes, empurradores de carros etc). Ao todo, 3.390 componentes.
Enredo
de Diogo Gardoni (dgardoni@zipmail.com.br),
dedicado àqueles que se irmanam para combater a fome e outros males de nosso
tempo.
Uma grande história... maos muito longa..tornando o texto cansativo embora muoto rico e interessante.
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