Título
O canto das lavadeiras
Introdução
As Serras Gerais eram uma região inóspita e inexplorada, cuja existência já era conhecida há décadas, porém não existia a motivação necessária para que aventureiros ou contratados da então Metrópole explorassem o vasto desconhecido. Pelo menos foi assim até começarem os boatos de que havia metais e pedras preciosos pelo interior da Colônia.
Sedentos por riquezas, os europeus realizaram incursões na região, encontrando-se com índios de aparência diferente e trazendo escravos, padres e sua própria cultura. Ao final encontraram o que buscavam e povoaram as terras, fundando algumas das primeiras cidades do que hoje chamamos de Minas Gerais.
Da junção de tantas pessoas diferentes surgiu um mundo próprio, com sua cultura, sua religião que se mistura com misticismo, seu folclore e lendas próprias e o florescimento do artesanato e da musicalidade, especialmente de senhoras que cantam na beira do rio enquanto cuidam de seus afazeres.
Este enredo trata sobre a história da parte mineira do Vale do Jequitinhonha através dos olhos do Coral das Lavadeiras de Almenara.
Sinopse
Lá vão as lavadeiras. Dia a dia, debaixo do Sol, elas vão pra margem do rio. Como num ritual, pegam a roupa, batem, enxaguam e esticam. Não tarda para iniciar a cantoria. É hora de cantar o passado, os tempos de mulheres virtuosas que viram o desenrolar da história.
No começo, havia os índios no meio da floresta e das montanhas. Viviam em comunhão com a natureza, adorando os espíritos, ao mesmo tempo em que os temiam. Dormiam perto de fogueiras para proteção e agradeciam as entidades pelas bênçãos da vida e da fartura.
Eram tempos de heroínas que colhiam as folhas mais bonitas da mata, lavando-as nas águas do grande rio. Elas viram quando uma mulher santa brotou água das mãos e criou o Rio dos Peixes, onde o povo usava “jequis” para colher “onhas”.
Mas não tardou para tudo mudar. Acauãs gritam barulhentos e os ventos se tornam mais frios, anunciando o agouro que estava por vir. Homens estranhos apareceram em busca da riqueza das terras, enganando os índios com seu talento para virar moita. Os forasteiros chamaram a região de “Ivituruí” e trouxeram padres para catequizar os nativos e escravos para retirar o que estava embaixo da terra.
A mãe-do-ouro veio junto dos brancos e se tornou a rainha das Serras Gerais, mostrando o caminho para o metal dourado. Mas um pajé, triste pelo que os forasteiros fizeram ao povo da mata, ateou fogo no grande cedro, rogando uma praga para os forasteiros. Das cinzas da árvore nasceram os diamantes.
A febre do ouro e do diamante fez surgir novas cidades e criou uma imperatriz, que possuía as pedras brilhantes. Algumas foram levadas para terras além do Belo Monte, para as mãos de um homem poderoso.
Viajantes surgiram pelos morros e rios, de cavalo ou canoa, transportando cargas ou pessoas. Mas também vieram pessoas ruins, que faziam pouco dos negros e dos santos e maltratavam a terra.
Como castigo, a providência divina e o feitiço dos sofredores aprisionou toda a riqueza no fundo dos rios, sob a proteção da cobra-grande que devorava gente. Era a profecia do pajé se cumprindo.
Sem a prosperidade de outrora, o povo se apegou com a fé para superar os tempos difíceis. Perto das muitas igrejinhas se louvava os milagres dos Santos Reis e do Divino Espírito Santo em festas coloridas. Mas também se acreditava nas lendas e nas crenças dos negros e dos índios.
Sob as bênçãos do Cristo Rei e de Nossa Senhora do Rosário, partiam para a procissão do boi, mostrando a alegria de um povo que sofria, mas ainda conseguia ser feliz.
Porém, num certo dia, ouviu-se o rugido de criaturas. O barulho atraiu os males do mundo para a beira do rio. O carneiro secou as águas; o urso queimou as matas; o cachorro entupiu os rios com areia; e o gavião surgiu para se aproveitar dos humildes.
A tristeza pelo ocorrido encheu os corações das almas que partiram. Elas entoaram a melodia triste que embalou o cortejo das trevas.
O sofrimento não conseguiu abalar os brios do povo. De tantas provações, a população aprendeu a usar as artes para afastar os males e a dor. Dança, música, comida, objetos e poesia surgiram pelos dons dos joões-de-barro que habitavam a região.
Feliz pelo que via, o povo se reuniu na Vigia para comemorar e se alegrar porque o Vale floresceu de novo. A esperança de dias melhores nunca se abalou.
Lá vão as lavadeiras. Dia a dia, debaixo do Sol, elas vão pra margem do rio. Como num ritual, pegam a roupa, batem, enxaguam e esticam. Não tarda para iniciar a cantoria. É hora de cantar o Jequitinhonha, o rio das lendas, das histórias e da magia.
Número de alas: 27.
Número de setores: 6.
Número de alegorias: 6 carros e 2 tripés.
Obs.: as esculturas lembram os biscuits antigos.
Roteiro
Setor I
Princípio de tudo
No início, os índios habitavam a região do Jequitinhonha. Viviam em comunhão com a natureza, louvando os espíritos, dos quais receberam os ensinamentos passados pelas gerações das tribos.
Comissão de Frente – Símbolo da virtude
Integrantes: 15.
Os botocudos foram os habitantes originais das serras que cercam o Jequitinhonha. Acreditavam em espíritos da natureza e possuíam rituais para invocá-los. Certa vez, tentaram fazer contato com a entidade da virtude.
Xamãs (pajés) botocudos, usando um cocar de penas turquesa e com uma faixa passando na testa e conectada com botoques auriculares. Também se enfeitam com adereços labiais falsos, além de uma roupa feita de palha e folhas, com ombreiras serrilhadas e os contornos da face de um gavião no torso, cobrindo até o meio das pernas na frente e até os pés na parte de traz, com detalhes prateados reluzentes. Possuem pintura de curvas e gotas na pele, lembrando as corredeiras do então intocado Jequitinhonha.
Todos estão dançando em torno de um tronco terroso e amadeirado com um arbusto em forma de cesta na cabeça, num ritual de invocação. É a imagem de um tokón (espírito virtuoso da natureza).
O tronco começa a se mover, revelando ser um corpo feminino pintado com folhas e flores e coberto por panos que o camuflavam. O arbusto e os panos se transformam em cesto e roupas, com o tokón assumindo a imagem de uma lavadeira. Os xamãs começam a dançar com mais intensidade, junto da mulher, e a balançar os chocalhos, num sinal de reverência.
A ideia é tratar a lavadeira como um ser praticamente místico e virtuoso.
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira – Nanitiong e a bela índia
Os botocudos acreditavam em espíritos que visitavam os sonhos das mulheres e as engravidavam: os nanitiong. Diferente dos outros, esses lhes causava medo, especialmente por levarem à morte quem não estivesse dormindo.
O mestre-sala vem com pele falsa com pintura corporal em azul com estrelas prateadas pelo torso, saiote de palha, faixas com penas verde-brilhante de pontas lilases enroladas pelos braços e pernas e um cocar em arco nas mesmas cores.
A porta-bandeira traz uma saia com penas em azul e verde. As cores se estendem pelo torso pintado e pelo cocar, cuja base é uma coroa de flores rosadas. Usa adornos brilhantes no pescoço e nos pulsos.
Ala 1 – Kumanoxó lavando folhas
As kumanoxó eram as heroínas tribais dos índios maxacalis, sendo parte de seu panteão religioso. Neste contexto, elas lavam as folhas das árvores que querem para si e representam a virtude do heroísmo.
Esta ala traz mulheres com desenhos tribais no torso e costas. Entre pescoço e ombro uma gola de palha com ombreiras e detalhes em coral e uma máscara indígena de cerâmica, feita por Lira Marques, no centro. No busto, uma cobertura também de palha. Usam saias feitas de folhas em verde-azulado, com veios e gotas entalhados. Também trazem tornozeleiras e braceletes adornados com pedrinhas e penas avermelhadas e cocares em arco de plumas azuis com duas que são rosa e maiores no centro.
Alegoria 1 – No “jequi” tem “onha”
Uma das lendas para o nome do rio vem da ideia de que os índios botocudos usavam “jequis”, armadilhas que lembram puçás (redes com cabo), para pescaria. “Onha” é a palavra que equivale a peixe. “Jequi te onha” seria traduzido como: “na rede tem peixe”.
Cabe ressaltar que os botocudos consideravam a fartura como uma benção do Marét-Khamaknian, o ideal do herói para aquele povo.
No centro aparece uma enorme águia-serrana pousada numa pedra, de asas abertas e um olhar penetrante. Ela possui a cara e extremidades em azul-acinzentado, corpo e asas em branco e movimentos. Na cabeça, usa uma grande coroa de sempre-vivas multicoloridas. A ave é a encarnação do Marét-Khamaknian.
Índios bruno-acinzentados, como as pedras do rio, cercam o animal. Usam máscaras como as de Lira Marques, cocares de penas e flores, tangas pequenas e carregam “jequis” nas mãos. É como se estivessem camuflados em pedra, referência a contos de aventureiros que viram índios assim na região e à lenda de que os botocudos eram capazes de praticar mimetismo.
Componentes entre as esculturas e vestidos com panos azuis ondulados, fitas e plumas brancas representam as águas do Jequitinhonha. Realizam uma coreografia que relembre os movimentos caudalosos do rio. Gotas brilhantes aparecem em todas as fantasias e esculturas. Há também uma forte iluminação azulada.
Nos fundos e de costas, outros índios aparecem oferecendo peixes para Santa Ana, de cujas mãos sai água cenográfica. Isto representa a ideia religiosa que permeia o surgimento do rio e o sincretismo com as crenças indígenas.
Entre a ave e os fundos, um destaque aparece fantasiado como o espírito do rio.
Setor II
Chegada das Bandeiras
No século XVII, bandeirantes adentraram os sertões mineiros em busca de minerais e pedras preciosas, trazendo consigo os jesuítas para catequisar os índios. Ao final, uma escrava alforriada descobriu o tão desejado ouro.
Ala 2 – O grito do acauã
O acauã é um tipo de falcão que existe pelo Vale do Jequitinhonha. Ele é conhecido na região por ser a ave que anuncia os maus agouros. Nesse contexto, seu grito é um prenúncio do que ocorrerá na região com a chegada de forasteiros.
Os componentes vestem uma grande túnica feita de babados em branco-azulado com barras claras e botas pequenas e meias de mesma cor. Pela roupa, círculos de flores pequenas, amarelas e alaranjadas. No pescoço, uma gola de tecido escuro, com plumas brancas saindo. No topo, um chapéu com a cabeça da ave, usando uma coroa de folhas de begônia-negra, com algumas descendo por um cipó curto atrás da nuca.
Ala 3 – Ventos cortam o Ivituruí
A região que viria a ser conhecida com a cidade de Serro era nomeada pelos paulistas em tupi como “ivituruí”, a serra dos ventos frios. A ventania, no contexto do enredo, é o sinal do agouro que virá com a chegada dos europeus.
A fantasia consiste em índios com tangas e cocares curtos feitos de penas brancas e verde-claro com pontas azul-pálido. Nas mesmas cores, uma capa de tecido fino nas costas e fitas que se enrolam pelos braços e pernas, com pedaços sobrando. Ambos começam a esvoaçar à medida que os componentes se movem. Usam uma gola em formato de nuvem. Carregam nas mãos instrumentos de sopro indígena, como trombetas e flautas, representando a invocação do vento.
Ala 4 – Homens que viravam moita
Os bandeirantes percorreram os rincões das Serras Gerais em busca de riquezas. Das suas mãos surgiram localidades como Itacambira e Serro. Sempre disfarçavam seu intento, seja no trato com os índios, com os europeus ou com outros exploradores. Eram como aqueles que viravam moita.
Os componentes calçam botas marrons que cobrem parte das médias-calças azul-esverdeado e usam gibões creme. Por toda a roupa há galhos e folhas em verde-brilhante se estendendo. Carregam ramos nas mãos e usam um chapéu marrom com plumas verde-claro e flores azuis formando um arbusto.
Ala 5 – Padres jesuítas
A Companhia de Jesus é uma das entidades da Igreja Católica que participaram da História do Brasil. No século XVII, seus membros estavam envolvidos nas bandeiras pelo Vale.
A ala traz indivíduos fantasiados com uma batina turquesa com barras douradas nas extremidades e símbolos cristãos bordados, rosários nas pontas das mangas, sapatos escuros, um cinto e uma estola preta com entalhes de pombas e escrito em dourado “Iesus Nazarenus, Rex Regum”. Na cabeça, um barrete de mesma cor com pompom volumoso e fitas multicoloridas.
Ala 6 – Lavadeiras de pedras
Os escravos também participaram das buscas por riquezas nos sertões, remexendo os cascalhos dos leitos e margens de córregos e riachos. Mulheres também foram usadas nesse tipo de serviço, sonhando com a liberdade. Aqui, elas são a virtude da perseverança em meio às adversidades.
Mulheres vestindo saias de chita com estampas africanas e um pano azul-esverdeado com detalhes em dourado amarrado como um laço. No pescoço, colares de contas e búzios. Panos sobrepostos com estampas africanas se enrolam nos braços e metade do tronco, deixando a barriga de fora. Na cabeça, chapéu de palha com faixas tribais formando uma copa esférica, na qual há plumas verdes. Trazem aros nos pulsos e tornozelos. Carregam um vaso tribal com pedaços de cascalho dentro. Brilho dourado espalhado pelo corpo.
Alegoria 2 – Mãe do ouro, rainha das Serras Gerais
Junto das bandeiras exploradoras, uma escrava alforriada e oriunda da Costa da Mina encontrou o sedutor metal dourado no Córrego dos Quatro Vinténs. Seu nome era Jacinta de Siqueira e a partir dela a busca pelo Sol da Terra avançou pelo Jequitinhonha.
Há também a lenda do surgimento dos diamantes pela queimada da grande Acaiaca, a árvore sagrada dos índios. Após ser derrubada pelos portugueses, o pajé teria ateado fogo para lançar uma maldição sobre as riquezas que os brancos queriam. Das cinzas, teriam surgido os diamantes.
No centro aparece uma escultura de uma jovem e bela mulher negra de cabelos trançados, com vestido creme com estampas multicoloridas, panos idem encobrindo tronco e ombros, brincos e uma coroa, segurando um globo amarelo e coral brilhante, como um Sol. Por sua pele há bronze e dourado salpicados. Ela é a representação de Jacinta.
O chão da alegoria é como cascalho brilhante. Na frente aparecem burros castanhos usando mantas verde-claro e estandartes da Coroa Portuguesa. Nas laterais, escravos carregam cestos cheios de ouro.
Componentes representam os bandeirantes e trabalhadores da expedição de Antônio Soares Ferreira. Trajam botas e cintos marrons, médias calças e gibões sem mangas em bege, camisas branco-gelo, lenços no pescoço e arcabuzes nas mãos. Na cabeça, um chapéu de cor cobre com plumas verdes.
No fundo, um grande cedro em chamas, a Acaiaca. No topo da árvore, um destaque está fantasiado como o pajé.
Há muito brilho espalhado por todos os elementos da alegoria.
Setor III
Ciclo do ouro e do diamante
A descoberta do ouro e posteriormente do diamante levou ao povoamento do vale por migrantes em busca riquezas, europeus e escravos, fazendo surgir as cidades que dariam origem a todas as outras no futuro, e criando atividades comerciais pela ação dos tropeiros e dos canoeiros que transportavam todo tipo de produto e pessoas. Porém, a maldade humana surgida como um castigo da maldição do pajé e a exploração selaram o destino do Vale.
Ala 7 – Vila do Príncipe
Após a mãe do ouro mostrar onde achar recursos preciosos, vários arraiais foram fundados nas serras frias pelos ribeirões próximos de onde surgia o Jequitinhonha. Um deles se tornou a sede da administração local, passando a contar com uma casa de fundição. Era a Vila do Príncipe, futuramente chamada de Serro.
A ala traz componentes vestindo casaco, colete e culote em azul-médio, camisa branca com babados na gola e nas mangas, meias de igual cor e sapatos pretos com presilhas douradas. Por todas as peças há detalhes em dourado. Usam um chapéu tricórnio preto, com plumas brancas. Na parte esquerda do casaco, flores lilases bem abertas descem a partir do ombro.
Ala 8 (baianas) – A imperatriz do Tijuco
Quando o último dos contratadores da Coroa chegou ao Arraial do Tijuco, ele encontrou o amor nos braços de uma escrava. E esta se tornou a senhora dos diamantes, mais conhecida como Chica da Silva.
O torso é azul-royal, com pedrinhas brilhantes, joias e laços dourados no centro. A saia é cheia de babados, também em azul e branco. Na cabeça, um chapéu com detalhes dourados formando uma tiara bordada, plumas brancas volumosas e uma pedra reluzente no centro. O pano da costa possui uma imagem de Nossa Senhora do Carmo. Por todas as barras, detalhes brilhantes.
Ala 9 – Senhores das Minas Novas
Rumando pelo Vale adentro, num erro de rota, exploradores encontraram metais e pedras preciosas em córregos e no Rio Fanado, que desagua no Araçuaí, afluente principal do Jequitinhonha. Surgiu assim a terceira cidade determinante da região, e que no futuro seria o núcleo gerador de todas as outras que existem hoje rio acima.
A fantasia consiste em botas, calças em bege com listras onduladas cobre e camisa branca com uma longa gola de babados. Usam uma capa curta branca colocada de lado, com fuxicos azuis, lilases e laranja, além de luvas em verde-musgo. Na cabeça, um chapéu branco com gotas na aba, como se fossem brilhantes, e plumas da cor dos enfeites da roupa. Carregam uma picareta cujo cabo tem a forma de um lagarto. Há brilho dourado por toda a fantasia.
Tripé 1 – Os diamantes do Grão-Mogol
Uma das versões para o nome desta cidade remete aos tempos em que o local era conhecido pelo garimpo ilegal. Dizem que os diamantes da região eram contrabandeados para aumentar o tesouro do Grande Mogol, o senhor da Índia.
O tripé é uma representação do famoso Trono do Pavão, uma estrutura quadrangular com almofadas, cobertura com detalhes parecendo uma tapeçaria indiana, pinturas de flores, pedraria e pequenos pavões no topo e nas extremidades. Tudo nas cores dourado, azul, verde e vermelho.
Sentado nele aparece um destaque representando o Grão-Mogol, com um casaco azul que desce até o joelho com bordados de mandalas, cobrindo uma túnica preta com detalhes em tons de ouro e sapatos. Está enfeitado com joias e um turbante rosado com uma faixa dourada e um grande diamante no centro, de onde se puxa uma vistosa pluma branca.
Ele tira vários brilhantes de um saco e começa a contá-los e admirá-los. São as pedras contrabandeadas.
Ala 10 – Tico-tico fez seu ninho no chapéu do cavaleiro
Percorrendo os sertões para transportar todo tipo de bens, a figura dos tropeiros ajudou a construir o ideal popular da bravura.
Camisas e calças acinzentadas, cobertas por um manto azul-cobalto com estrelas e luas entalhadas em dourado. No pescoço, um lenço branco que desce na altura no peito. Na cabeça, um chapéu creme com belos miosótis e tico-ticos junto de pedacinhos de madeira sobre aba. Calçam botas escuras e montam em um cavalo marrom sorridente, com adornos em tons de ouro.
Ala 11 – Rio arriba, rio abaixo
No passado, a navegação pelo Jequitinhonha e seus afluentes era constante, mesmo com a proibição da Coroa durante a maior parte do século XVIII. Os canoeiros levavam riquezas, mercadorias e pessoas no balanço das águas dos rios dos peixes e das araras grandes.
Os componentes usam camisas e calças em xadrez de azul e verde brilhantes, com babados nas mangas largas e barras. Estão montados numa canoa cheia de fitas de mesma cor por baixo, representando as águas, e entalhes de peixes. Na cabeça, chapéus de palha com uma arara e plumas azuladas.
Ala 12– Feiticeiras
Cansada de tantos maus tratos, uma bruxa resolveu agir e criar uma forma de punir a ganância dos homens. Assim, ela lançou um feitiço que daria origem a um dos futuros medos da população da margem do rio.
Mulheres com colete, saia e capa em azul-cerúleo, com entalhes nas barras e junções de todos em motivos africanos de tons alaranjados e dourados. Nesta mesma cor, pulseiras, abotoaduras, brincos e tornozeleiras. Na cabeça, um chapéu em forma de crânio de abutre, por cima de um capuz, com penas negras longas. Nas mãos, unhas longas em pedraria. Se estendo pelos braços, uma serpente esverdeada de escamas brilhantes.
Alegoria 3 – A cobra-grande e o ouro dos escravos
Segundo a lenda, os escravos decidiram se vingar por tanto sofrimento, e resolveram pegar o ouro e escondê-lo num tacho secreto. A feiticeira lançou um encanto numa sucuri para que ela se tornasse imortal e crescesse mais a cada ano, protegendo o tesouro. Este teria sido arrastado por uma enxurrada que o Divino Espírito Santo mandou em razão de uma promessa descumprida pelo cruel feitor e foi parar no fundo do Rio Araçuaí, ainda sendo protegido pela serpente. Esta “dança” para hipnotizar suas vítimas e as agarra com sua cauda.
Tal história é o motivo pra muita gente ter medo de andar nas margens do Araçuaí e do Jequitinhonha até hoje.
Pelo carro surge a cabeça e parte do corpo de uma enorme sucuri em azul-médio e turquesa. Possuí detalhes em forma de correntes douradas com pedras brilhantes, bem reluzentes, representando o ouro dos escravos. Está com a boca aberta, mostrando as presas, e balançando a cabeça, como se tentasse hipnotizar.
No topo dela, está o Divino Espírito Santo, uma pomba pousada de asas abertas com uma aureola solar. No corpo aparece um destaque representando a feiticeira.
Ondas se formam nos lados da alegoria, como se fosse água do rio em movimento pelo deslocamento da cobra-grande. As frontais são pequenas, as do meio são médias e as do fundo são grandes. Em cima de cada uma há canoas com componentes representando escravos, caboclos e lavadeiras, que aqui representam a virtude da coragem.
No fundo, um homem aparece enrolado na cauda do animal, vestido como um senhor do garimpo.
Todo esse contexto é uma metáfora pra decadência da mineração, com o “aprisionamento” das riquezas minerais na figura do ouro dos escravos.
Setor IV
Religiosidade e misticismo
A religião sempre foi parte importante da vida do morador do Vale, desde o surgimento das festas populares no século XVIII. E também se misturando com crenças africanas e com o folclore local, no conhecido sincretismo.
Ala 13 – Folia dos Santos Reis
As festas em homenagem aos Reis Magos são uma tradição em Minas Gerais, ocorrendo também no Vale, em cidades como Diamantina e Araçuaí.
Os componentes vestem casacos e calças azul-cerúleo, com babados brancos, detalhes em dourado e pedrinhas brilhantes. Calçam botas cor de terra. Nas costas, uma capa branca com barras em turquesa e fitas coloridas nas pontas, que também aparecem na barra das calças e nos ombros. Usam um chapéu artesanal, cor de marfim e com espelhos coloridos brilhando e plumas brancas com pontas vermelho-claro no topo. Trazem também estandartes feitos com os bordados das Bordadeiras do Curtume, grupo de artesãs do Vale, enfeitado por fitas.
Segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira – Festa do Divino
Também ocorrem celebrações em honra da vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, exaltando as virtudes do perdão e da bondade, ocorrendo a coroação do imperador e da imperatriz do Divino.
Cabe ressaltar que se passou a plantar algodão pelo Vale, substituindo assim a mineração para quem possuía menos recursos.
O mestre-sala veste casaca e capa curta brancas, com detalhes e barras prateados, pedrinhas brilhantes, gola de babados, médias-calças listradas em azul-marinho e dourado, assim como os sapatos, e meias brancas. Traz um leque de plumas de mesma cor e usa uma coroa.
A porta-bandeira veste uma saia cheia de babados e laços, e um torso com pedraria formando mandalas com a imagem do Divino Espírito Santo e rendas. Também usa uma coroa com um grande felpo, como se fosse um pé de algodão. Tudo nas mesmas cores do mestre-sala.
Ala 14 (passistas) – Zabelê e imburana
Diz a lenda que um caçador avistou um zabelê (tipo de ave) e após abatê-lo, foi picado por uma serpente que tinha um veneno capaz de cegar. Ao encostar no corpo do animal, sua visão retornou parcialmente e lhe permitiu sair do mato e chegar em sua cabana. Por instinto, abriu o papo da ave e encontrou várias sementes de imburana.
A partir dessa lenda, o zabelê passou a ser um amuleto contra serpentes e a imburana uma forma de tratamento pro veneno.
Pelo corpo dos passistas se enrolam ramos com folhas puxadas para o cobre e flores em branco quase rosado, representando a imburana Na cabeça, um chapéu com um zabelê sentado e plumas alaranjadas.
Ala 15 (bateria) – Marinheiro, mariola
Os antigos fundadores dos grupos de marujada dizem que no princípio dos tempos as tradições musicais foram criadas pelos doze apóstolos, ensinadas aos índios por esses e modificadas, já nos séculos XVIII e XIX, pela influência dos negros.
Os componentes vestem calças e camisas brancas, com detalhes em dourado e rendas azuis nas mangas, e sapatos pretos. Por cima, faixas e saiotes com estampas de arte africana. No pescoço e ombros, gola com penas azul e vermelho e uma fita de estampa indígena. No topo, chapéus de marujos vermelhos com fitas multicoloridas.
Ala 16 – Tapetes para Nosso Sinhô
Pelas cidades que surgiram se espalhou a tradição de fazer tapetes com símbolos e imagens religiosas para o dia de Corpus Christi.
A ala traz componentes vestidos com uma túnica branca de barras longas que possuem “caminhos” entalhados, como se fossem tapetes de Corpus Christi. Desenhos prateados detalham o tecido. Na cabeça, uma mitra vermelha com uma cruz, detalhes em prata e duas franjas feitas de violetas. Nas mangas, o tecido se alarga mostrando imagens religiosas, como pombas voando com o Sol, cálices santos, Sagrado Coração, etc. Cada lado possui uma imagem diferente e enfeitada como nos ditos tapetes.
Ala 17 (velha-guarda) – Reinado do Rosário
Em Chapada do Norte, ocorre tradicionalmente a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na esteira de uma lenda que diz que a imagem da santa foi encontrada num córrego e só “aceitou” ser colocada num altar na igreja quando os negros a levaram para lá.
Os membros da velha-guarda trajam ternos e vestidos rodados, bem alinhados e com muito brilho, em azul-marinho, branco e prata. Trazem consigo rosários e usam coroas vazadas com fitas multicoloridas como chapéu.
Ala 18 – Rezadeiras da beira do rio
Em mais uma mistura da religião com a crença popular surgem as rezadeiras, humildes senhoras que benzem que as procura para espantar o mau olhado e seu sintoma, o quebranto. Muitas são lavadeiras ou trabalhadoras rurais. Aqui, são a virtude da fé.
Mulheres com vestidos brancos cheios de laços vermelhos na parte de baixo, torso em renda e com um pequeno colete azul-ferrete. Pela fantasia há adornos circulares de capim dourado. Um chapéu de palha na cabeça, com fitas multicoloridas descendo e plumas azuis. Nas mãos, carregam ramos de alecrim.
Alegoria 4 – Meu boi lelê... Vou seguindo a Estrela-Guia
Desde meados do final do século XIX e começo do século XX um boi sai às ruas de cidades do Vale no começo de janeiro, seguindo o costume tradicional que fala sobre a morte e ressurreição do animal.
Já em dezembro, vários presépios são montados pelas localidades da região, incorporando elementos locais, como a paisagem ou formas de catolicismo popular.
Circundando o carro aparecem bois pretos, com uma estrela branca na testa e fitas pelos chifres e cantos do corpo. Pelos animais há entalhes de várias flores vermelhas e mosaicos.
No centro, uma plataforma onde está montado um presépio, com uma manjedoura por onde crescem musgos e flores da serra. Estão nela Nossa Senhora do Rosário, segurando açucenas, com um manto azul-pavão e vários colares de contas; o Cristo Menino com o Sagrado Coração; São José; os Reis Magos; um caboclo; e uma preta velha. Em cada extremidade da plataforma, uma imagem São Francisco de Assis, numa referência a Frei Chico, padre franciscano holandês radicado no Vale. As barras e chão da alegoria lembram pedras ladrilhadas, serragem e folhas.
As esculturas do presépio e do santo seguem os traços de Mestra Zefa de Araçuaí, famosa escultora do Vale.
No topo da manjedoura e atrás dos bois frontais, destaques representam a Estrela de Belém e o mestre dos folguedos. A ala das crianças vestida como os anjos de Deus faz o papel de componentes e é uma referência ao coral dos Meninos de Araçuaí.
A alegoria é uma metáfora de toda a religiosidade e misticismo do Jequitinhonha, pois a escultora mencionada também era rezadeira.
Setor V
O “Vale da Fome”
Com as riquezas aprisionadas, o Jequitinhonha passou a sofrer as consequências da exploração desordenada. Seca, aproveitadores, assoreamento dos cursos d’água, destruição das matas e a fome se tornaram paisagem comum da região, na esteira de monstros nascidos da maldade humana e suas muitas faces.
As alas deste setor são inspiradas nas transformações conhecidas do Bicho de Pedra Azul.
Ala 19 – Rio seco, terra nua
No século XIX, o Vale começou a sofrer com as secas. Estas se tornaram recorrentes, secando os rios e matando a agricultura.
A ala traz vaqueiros com colete sépia de bordados brilhantes de ossos e folhas mortas, além de camisa e calças que vão do laranja ao vermelho com crostas rachadas, representando a terra seca. Calçam botas marrons. Usam uma maquiagem sepulcral e óculos escuros, com aros no formato de sóis. No topo, um chapéu com a cabeça de um carneiro em osso com chifres enrolados.
Ala 20 – Mato é lembrança do passado
Na medida em que se abriam frentes de colonização, a mata nativa sucumbiu ao fogo, sendo substituída por pastagens e agricultura de subsistência, o que, em conjunto com a falta de chuvas, fez a terra perder sua fertilidade com o passar do tempo.
A fantasia é como um tronco de árvore salpicado por cinza e com muitas fitas entrelaçadas amarelas, vermelhas e corais, em tonalidade brilhante, por torso e pernas, representando o fogo. Nos braços, panos se arqueiam como leques ondulados, nas mesmas cores, como se fosse o calor da queimada.
Possuem garras nas mãos e usam uma cabeça de urso como chapéu, de olhos brilhantes e pelos no topo em chamas.
Ala 21 – Canoa não navega mais
Os rios passaram a sofrer com o assoreamento, seja causado pelos garimpos, ou pela derrubada das mata nativa nas margens. Em conjunto com a seca, ou mesmo sozinho, o fenômeno impede a navegação.
A fantasia é feita por tecidos babados sobrepostos, em laranja e tons terrosos, com entalhes de ossadas de peixes e cascalho. De uma ponta a outra dos ombros está uma canoa roxa com detalhes em rosa-brilhante. Usam um chapéu de palha, com folhas secas e uma cabeça de cachorro.
Ala 22 – Gaviões de capa preta
Se aproveitando das dificuldades, sempre aparecem aqueles que vendem facilidades e seduzem pelos discursos bonitos, apesar da pouca ação.
A ala traz componentes vestindo calças, sapato e camisa brancos com uma faixa coral no centro, casaco violeta com entalhes dourados de folhas e cifrões e nas barras. Usa uma capa preta e esvoaçante e uma cartola de mesma cor, com flores em vinho volumosas. Corvos repousam sobre seus ombros. Trazem relógios de hipnotismo e usam uma maquiagem em azul e cinza que lhes confere um caráter de ave de rapina.
Ala 23 (damas) – Espíritos que cantam
Em meio aos sofrimentos e dificuldades, sempre há quem cante para espantar a tristeza e a dor. Aqui, os espíritos das lavadeiras que já partiram representam a virtude da piedade pelos que sucumbiram às dificuldades e às dores de uma vida sofrida.
Mulheres com vestidos listrados em branco e azul-céu, com mangas longas e babados nestas, nas barras e faixas nos ombros. Detalhes em forma de notas musicais em prateado no torso e nas mangas. Na cabeça, um chapéu senhorial creme, com plumas claras enfeitando. No rosto, maquiagem branco-azulada, dando um aspecto leve e espectral. Carregam uma sombrinha enfeitada por rosas azuis nas suas pontas e um laço com a mesma flor no final do cabo.
Alegoria 5 – Os agouros da Fome
A lenda mais conhecida do Jequitinhonha trata sobre o homem que teria sido cruel em vida com sua mãe, praticando todo tipo de maldade com ela. Esta o amaldiçoou e, assim, ele teria voltado dos mortos como um animal peludo, geralmente um lobisomem ou um grande cachorro, e extremamente faminto. Seu túmulo teria se rachado no enterro, quando um padre jogou água benta, o que fez o povo fugir, sob os olhares de muitos gatos pretos.
Outro tormento é a história do fazendeiro que, após um padre milagreiro lhe jogar uma praga, passou a sofrer de uma gula avassaladora, morrendo de infarto em decorrência disso. Ele foi enterrado fora do cemitério e em cima do túmulo foi construída uma igreja, com a pia batismal exatamente no local onde estava o corpo. Vez ou outra se encontram chumaços de cabelo ou pedaços de unhas enormes no chão do local.
As duas lendas são juízos morais e alegorias da ganância, da maldade e do flagelo da fome.
O carro é como se fosse uma carruagem das trevas andando e destruindo tudo por onde passa. Traz um coche em violeta, azul-marinho e enfeites dourados, puxado por sete esculturas de bestas-feras, baseadas na obra “O Pacto” de Ulisses Mendes, que consistem em centauros com chifres, olhos vermelhos e feições demoníacas. Eles carregam caveiras numa das mãos.
Sentado na frente da carruagem, está o Bicho de Pedra Azul na sua forma de lobisomem, com um corpo parrudo coberto de pelos pretos e com um paletó rasgado.
Em cima do coche, uma carneira (túmulo) com gavetas e lápide, cheio de rachaduras por onde saem capins secos e pelos.
O chão da alegoria é como a terra sem chuvas, em tons alaranjados. Nas laterais do carro, plantas cultiváveis mortas e componentes representando os gatos pretos do enterro.
Nos fundos, aparece de pé o Monstro da Matriz de Itamarandiba, com um corpo largo, roupas rasgadas e cabelos e barba bem longos. Possui raízes saindo pelas pernas e unhas enormes nas mãos, as quais seguram partes de ossadas de bois. Está conectado ao coche por correntes, como se estivesse sendo arrastado.
Atrás do monstro, duas pedras onde estão dois destaques representando a ganância e a maldade.
Setor VI
O vale dos artistas
Curiosamente, a produção artística e artesanal começou a florescer justamente nos piores momentos do Vale. Música, trabalhos com barro, madeira, artesanato de capim dourado, queijos, bebidas, etc. Tudo passou a ser uma expressão da realidade e do folclore da região. O maior exemplo talvez seja o Coral das Lavadeiras de Almenara.
Ala 24 – Quadrilhas
Tradicionalmente acontece na cidade de Jequitinhonha um festival de grupos de quadrilha durante as festas juninas. É um exemplo de como a dança ocupa espaço na arte local.
A ala traz casais com vestidos e conjunto de calças e camisas feitos de bandeirolas juninas em vários tons azulados e em lilás. Há também lantejoulas pelas fantasias e sandálias para der efeitos de brilho e holográfico. Nas mangas dos homens e nas barras e cabelos das mulheres, cravos brancos. Na cabeça, chapéus em formato de balões luminosos, com várias listras azuis e alaranjadas.
Ala 25 – Alimentando a alma
A culinária é uma característica marcante da região, que floresceu com o passar das gerações e unindo elementos de influência negra, indígena e europeia. Em época de festas, é comum encontrar todo tipo de quitute e iguaria pelas várias cidades da beira do rio.
Um macacão azul-claro com bolinhas rosadas, mangas curtas, laços prateados em cada lado da cintura e ombreiras. Nas bordas destas e nas barras há babados brancos e em cima há ramos de alecrim crescendo. Na cabeça, um pano cor de creme com bordados está enrolado com uma galinha por cima e plumas rosadas. Calçam sandálias e carregam uma colher de pau na mão.
Tripé 2 – Joões-de-barro criaram a arte
Pelo Vale há feiras de artesanato, onde diversos artistas locais expõem suas criações, bem como há também casas de cultura dedicadas a isso, eventos que recebem vários turistas e compradores e vendas na beira das estradas da região. Os artistas são como o joão-de-barro, que constrói sua casa meticulosamente.
No centro do tripé há uma imagem de Dona Izabel, a ceramista mais conhecida do Vale, como se fosse uma boneca de cerâmica pintada. Cercam a escultura vasos, bonecas de barro, objetos de capim dourado, flores e rosários de pedra, animais esculpidos, bordados, brinquedos, instrumentos musicais, imagens religiosas e queijos.
Vários joões-de-barro aparecem em cima dos vários objetos e nas mãos de Dona Izabel, como se estivessem construindo cada coisa que está no tripé.
Ala 26 (compositores) – Trovadores do Vale
Em meados dos anos 70, Frei Chico criou um grupo que envolvia pedreiros, lavadeiras, comerciários e sapateiros e que se dedicava a entoar cantigas de roda e de trabalho, numa valorização dos saberes locais.
Casacas em rosa que possuem partituras entalhadas pelo torso e mangas, com clave de sol e notas musicais em azul-claro e brilho salpicado pela roupa, bem como uma fita verde amarrada entre a gola, como uma gravata borboleta. Detalhes em dourado. Calças e sapatos brancos. Na cabeça, um chapéu preto com plumas amarelas. Carregam violas nas mãos.
Ala 27 – Plantadores de rosas
Poetas musicais, como, por exemplo, Paulinho Pedra Azul e Rubinho do Vale, são pessoas que semeiam emoções e sentimentos no coração das pessoas. São como aqueles que cultivam rosas, cantados pelo Coral das Lavadeiras.
Os componentes vestem uma camisa branca de mangas largas e totalmente cheias de babados com pedaços pintados em verde-água, faixas amarradas de mesma cor na cintura com rosas azuis e golas e detalhes dourados, além de calças rosadas e sandálias. Na cabeça, uma cartola cor de creme com as flores citadas em tons rosados. No peito, uma grande rosa vermelha. Em dados momentos, os foliões jogam flores pra arquibancada.
Alegoria 6 - No beira mar da Vigia
Em 1991, Carlos Farias decidiu criar um grupo que envolvia sua mãe e várias outras senhoras. Todas elas tinham em comum o fato de lavarem cestos de roupas nas margens do Jequitinhonha. Assim surgiu o Coral das Lavadeiras de Almenara, que durante seus encontros, e posteriormente apresentações pelo país e pelo mundo, passou a entoar cantigas de roda, de trabalho, de amor e tributos ao Vale, ensinados a cada geração. Assim como suas antepassadas, as lavadeiras testemunharam a história da região e são símbolos da perseverança, da determinação e da virtude.
Vigia é o antigo nome de Almenara, devido a um quartel que foi instalado onde hoje é a cidade e que tinha uma espécie de farol. Possui a maior praia de água doce do país.
O chão da frente da alegoria é a água do Jequitinhonha. Em cima aparecem barcos rosa com enfeites dourados e girassóis amarrados. Dentro deles vem o Coral das Lavadeiras e Carlos Farias. Eles jogam pétalas, realizando o ritual que Valdênia, uma das membras do grupo, faz para abençoar as águas.
Atrás, vem a areia da praia fluvial, onde há um carrossel girando, com cavalinhos rosados que usam coroas de flores da serra na cabeça e enfeites em ouro, além de um telhado com base circular e corpo em um cone pequeno, branco com listras laranja em espiral
Nos espaços que circundam o brinquedo, bonecas de cerâmica de Donas Izabel e Zezinha, esculpidas nos traços delas e em tamanho maior aparecem aqui como o povo da região, reunido num dia de festejo. Entre elas, as lavadeiras que já faleceram. Foliões em “queijos” enfeitados estão fantasiados como espíritos da alegria.
Nos fundos, um farol cheio de fitas enroladas e estrelas. No topo, um destaque caracterizado como a Virgem Maria.
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Créditos das imagens
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Título - http://coraldaslavadeiras.com.br/site2/carlos-farias-e-lavadeiras-lancarao-novo-cd/
Introdução - http://coraldaslavadeiras.com.br/site2/caravana-musical-poe-carlos-farias-e-coral-das-lavadeiras-na-estrada/
Sinopse - http://coraldaslavadeiras.com.br/site2/wp-content/uploads/2019/08/02contracapa.jpg
Setor 1 - http://www.estacaocapixaba.com.br/2016/01/a-exploracao-do-rio-doce-e-seus.html
Comissão de Frente - http://www.asminasgerais.com.br/Zona%20da%20Mata/Biblioteca/Personagens/%C3%ADndios/1112003020%20%C3%8Dndios%20da%20Mata%20Debret.jpg
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Autor
Erick Araújo
26 anos
Estudante de Direito
Apreciador do mundo carnavalesco
ericksouzasilva22@gmail.com
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