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sábado, 20 de fevereiro de 2021

ENREDO 1610 - URIHI - UM CONTO YANOMAMI

 alexandro18souza@gmail.com





 

URIHI - UM CONTO YANOMAMI

Nome: Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Acadêmicos da lira

Cores: Amarelo, Azul e Branco

Fundação: 22/02/2016

Símbolo: lira

Bateria: Cadência da lira

APRESENTAÇÃO

O objetivo principal desse enredo é mostrar a vida do povo indígena Yanomami, a partir de sua visão mística sobre o mundo, que por eles é conhecido como Urihi, o povo yanomami vivência a bastante tempo uma realidade de explorações e saqueamento de sua terra, por invasores imbuídos de ganancia! Ganância que envenena a terra, traz doenças, afugenta os Xapiripës e desperta Xawara, o monstro destruidor. Mas muito mais que uma denúncia contra cobiça desenfreada dos napëpës, este enredo é uma exaltação ao povo Yanomami, suas celebrações, suas crenças, seus costumes e seu modo de viver. Vamos fazer uma viagem na ancestralidade desse povo, habitantes do estado de Roraima e de nosso país vizinho: a Venezuela.

 A abertura do desfile versa sobre a criação dos Yanomamis, nascidos a partir da paixão entre Omana e a filha de Tëpërësiki, senhor das plantas de cultivo. No primeiro setor, ocorre a exaltação a urihi, a terra-floresta, um passeio sobre os encantamentos da terra-floresta será feito. No segundo setor é feita a exaltação ao demiurgo Omana, o criador dos espíritos Xapiripë, dos primeiros Yanomamis, mentor das leis da natureza tribal da aldeia e senhor dos pajés. No terceiro setor é mostrada a face apocalíptica da exploração desenfreada, o castigo aos ataques a mãe natureza e o despertar de Xawara. E o último setor traz uma mensagem de esperança para o mundo, onde somente a conscientização de que a natureza não somente é um organismo vivo, como também tem consciência, e que é necessário cuidar dela para que o céu não desabe e mate toda a vida existente em Urihi.

Autor: Alexandro Souza

 

SINOPSE

Minha terra-floresta, seria o teu chão a veia essencial?

A tua brisa me converte em um nirvana imanente

O teu verde me afaga

O teu olhar me apraz

Tu sublime clamor pede a consciência humana.

Foste presente do meu criador, do meu legislador, e assim tua história se conta:

 

 

Xapirípë é luz... xapirípë é do bem... xapiripë é protetor! vivem envoltos por um conto real e primordial, um urihinari. Celebram o sopro da existência, que leva da seiva da vida ao sono sereno do curumim no xapono, uma melodia divinal de paz e esperança, o wixia.

Os espíritos auxiliares são a luminescência de fauna e flora, são os humanos, os animais, as árvores, os minerais, água, o ar e a TERRA. Protetores do chão Yanomami, espíritos de bem, conhecedores da floresta e auxiliares dos pajés nas viagens transcendentais ao mundo invisível, para buscar a cura ou a resposta para os clamores da tribo

Lá no princípio, bem no princípio Yanomami, Omana, o criador fez a vida e de conto de amor nasceram seus descendentes... os Yanomami, donos do chão verde, serpenteado por igarapés aos pés da Serra Parima, e a partir de então viveriam lá em paz e em harmonia com a natureza, na grande maloca verde, considerada por eles um organismo vivo chamado de Urihi, a terra-floresta, urihi é testemunha das grandes celebrações tribais onde troam tambores, brandem os maracás desde os tempos da criação... o xamã evoca hekuras para celebrar vida, a terra, a mata, os peixes e os rios. A harmonia reluz na aldeia, as colheitas, as pescarias, as caças são fartas. Yanomami vive feliz!

"Xapirípë tem medo, napëpë mau se aproxima, ele vem pra despertar Xawara das garras da escuridão..." Invasão da urihi, guerras, doenças, mortes, devastação! Assolam o mundo Yanomami, o metal luminoso trouxe tudo! o garimpo causou tudo! As máquinas devoram as matas, o motosserra estronda no reino de Omana. Assim disse Kopanawa:

"A terra-floresta só pode morrer se for destruída pelos brancos. Então, os riachos sumirão, a terra ficará friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o calor. Os espíritos xapiripë, que moram nas serras e ficam brincando na floresta, acabarão fugindo... "

 

 Xawara despertará das profundezas! trará doenças, febre, dor e morte da vida Yanomami. A sinfonia funebre será entoada pelas máquinas dos brancos! Os gananciosos, os devastadores da casa dos xapiripë, silenciará o último xamã e o céu cairá para matar a vida na terra-floresta.

Mas o Yanomami bravamente deve lutar, lançar as flechas na maldade que devora a terra, nos gafanhotos de aço e suplicarem para que o céu não caia. Lute Yanõmami thëpë! Levantem seus arcos e flechas, salvem nosso verde! Nossa terra, nossa casa! Assim a natureza renascerá num esplendor de beleza para que a vida não mais seja ceifada e a harmonia retorne como nos tempos da criação para que o canto entoada na ocara da terra-floresta não seja um lamento de suplica, mas sim um canto da exaltação ao mundo verde, para que assim o Yanomami repasse seu conto de Urihi para as futuras gerações de curumins que correm de um lado para outro em uma felicidade interminável no terreiro da aldeia.

Autor: Alexandro Souza

Ficha técnica

Enredo: Urihi – Um conto Yanomami

Componentes: 2000

Número de setores: 4

Alegorias: 5

Número de alas: 19 (incluindo bateria e baianas, ala das crianças e passistas)

Componentes: 3000, sendo 200 ritmistas.

 

ABERTURA: AURORA YANOMAMI



 A abertura do desfile discorre sobre a criação dos índios Yanomamis e o surgimentos dos espíritos da terra em um contexto geral (espíritos da água, floresta, da chuva e outros). A partir daqui começa o desenrolar do enredo indígena, porém com uma proposta estética que mescla o tradicional e o moderno. Destaca-se que nesse primeiro momento, o objetivo é proporcionar uma “explosão” verde, trabalhando nos diferentes tons desta cor.

Comissão de frente: gênese do povo-floresta

 Cartão de visitas do desfile, a comissão de frente abre a apresentação, contando a lenda a criação da tribo dos Yanomamis. É importante destacar que existem duas versões do mito que originou a tribo, em território venezuelano, os mesmos atribuem sua origem à lua, em território brasileiro atribuem seu surgimento a partir da relação entre Omana e a filha de Tëpërësiki, deus aquático e protetor das plantas cultivadas e será nesse conto que a comissão de frente se baseará. A coreografia mescla passos indígenas e dança clássica, a fantasia de 13 componentes possui tom majoritariamente verde-claro e verde escuro formando um degradê, com estampa indígena branca e uma capa plissada que também tons de verde com estampa indígena na borda, a fantasia dos outros 2 componentes, um representando Omana com tons em vermelho e laranja, e acabamento em faisões no mesmo tom e outra representando a filha de Tëpërësiki, fantasia em tons de azul royal e azul celeste, com acabamento em faisões de mesmo tom. A comissão não apresenta elemento alegórico.

Mestre-sala e porta-bandeira: O luzeiro da morada

 Nosso primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, representa a luz (aqui a luz ganha um sentido figurado para representar a importância dos Yanomamis e sua conexão com a floresta). A fantasia da porta-bandeira apresenta uma saia em trançados que fazem alusão arte da cestaria Yanomami decorados com fios de led azul, ornamentada com cristais em amarelo e branco, a saia possui o pranta, o azul royal, azul-claro e o branco como cores predominantes, a base a saia possui acabamento em faisões em azul, o costeira apresenta faisões em azul royal e azul claro o adereço de cabeça é uma tiara feita com características de um cocar indígena. A fantasia do mestre sala possui a mesma escala cromática da fantasia da porta bandeira, com um costeiro também em faisões azuis, e uma capa furta-cor.

Guardiões do casal; guardiões da luz

 A fantasia dos guardiões apresenta desenhos indígenas, apresenta predominantemente as cores branca, azul royal e azul claro.

Carro-abre alas - A morada dos espíritos e Yanomamis

O conto de criação dos Yanomamis diz que antes de estes surgirem, Omana o criador, fez os espíritos que guardam a floresta, o mundo sobrenatural e auxiliam os pajés na transcendência espiritual. Aqui a alegoria apresenta a morada que permite a conexão entre os espíritos e índios, para que eles estabeleçam uma relação de proteção da Urihi, a terra-floresta. A alegoria possui 2 chassis, o chassi 1 apresenta base em tons de azul representando os espíritos aquáticos, a alegoria possui também acabamento em palha e cipós tingidos de verde escuro, possui arcos e uma decoração de trançados representando os trançados em palha, dos cestos Yanomamis, trançados esses que fazem a alegoria parecer uma grande canoa navegando em um rio, o carro possui uma escadaria e apresenta também 5 totens que representam os espíritos de urihi e possui também decoração em bambu. O chassi 2 da alegoria apresenta a mesma base do chassi 1, com a existência de algumas malocas indígenas em seu centro juntamente com os outros dois totens parecidos com os do chassi 1, formando assim 7 totens no total, a escultura de um pajé, a traseira do carro é acabada com arcos vazados ornamentados com trançados indígenas e serpentes aquáticas. A alegoria possui ainda neon azul na parte de baixo simulando movimentos da água e neon verdes na parte de cima que adornam todo o carro, possuindo 50 metros de comprimento, sendo 26 no primeiro chassi e 24 no segundo chassi, chagando a 12 de altura

Destaque do Chassi 1 - fantasia: Omana

Destaque do Chassi 2 – fantasia: a união de corpo e espírito

Imagem ilustrativa do carro abre-alas

SETOR 1: A TERRA VIVA


O primeiro setor do desfile, apresenta urihi, a terra-floresta. Os Yanomamis acreditam que a terra em que vivemos é um organismo que assim como os seres humanos apresenta a capacidade de sentir, e dessa forma trata-la como um ser, dando o devido respeito, é necessário.

Ala 1: Xapiripës – espíritos de Urihi

Os espíritos da floresta que auxiliam os pajés na busca pelo caminho da transcendência, vivem livres na mata, brincando entre as árvores, são o elo de ligação entre o mundo físico e o sobrenatural. A fantasia é composta por penas artificiais, nas cores azul celeste e verde claro, possui um costeiro com penas de acetato e plumas nas mesmas cores, a fantasia possui 5 adereços de cabeça diferentes, um totem de onça, um de arara, um de tatu, um de peixe e um de folhagens, cada um representa os elementos da natureza, ar, água e terra, todos nas mesmas cores o verde claro com detalhes em verde escuro.

Ala 2: yãkoana – o alucinógeno da transcendência

Para transcender ao mundo espiritual, na procura pela cura de doenças da tribo e respostas para outros assuntos que afligem os Yanomâmis, o pajé precisa aspirar o rapé chamado de yãkoana. A fantasia possui acabamento em palha e “raízes” tingidas nas cores laranja, mostarda e marfim. O costeiro é feito de galhos secos tingidos nas mesmas cores, o adereço de cabeça é um cocar adornado de folhas, nas mesmas cores da fantasia para representar a viagem psicodélica ao mundo dos espíritos.

Ala 3: BATERIA - sinfonia na floresta

As grandes celebrações que acontecem na grande aldeia Yanomami, fluem sob um grande cora de cantos indígenas mesclados ao som do tambores, flautas e maracas, ao redor da fogueira, na noite estrelada a mística da tribo ressoa pela mata. A fantasia apresenta as cores laranja, azul e malva como cores predominantes, o adereço de cabeça representa uma flor estilizada mesclada a um maracá, a ombreira da fantasia apresenta colagens com sementes nativas da Amazônia, o figurino é pensado para não atrapalhar o desempenho dos ritmistas.

Ala 4: plantas cultivadas

As plantas existentes em urihi, estão representadas na ala 5 do desfile, assim com a ala dos animais a ala tem o objetivo de prestar um tributo a todas as plantas de cultivo que existem no mundo, a fantasia possui uma capa com folhagem, coloridas em um degradê de verde, a fantasia possui acabamentos em raízes, o adereço de cabeça é são flores.

Ala 5: ALA DAS CRIANÇAS - yaros: os animais

A quarta ala retrata os animais que habitam a terra-floresta (o mundo), todos os animais, dos domesticados aos selvagens. A fantasia possui totens adornados de penas artificiais com adereço de cabeça de animais que habitam a terra e a água, e na parte frontal da fantasia na altura do peitoral existe é uma máscara de animais em formas cartoonescas, o adereço dividem-se em dois para os meninos representa um fauno e para as meninas uma ninfa que representam o espírito que habita em cada animal, a fantasia possui como cores base o branco e o âmbar, com pequenos detalhes em lilás

Alegoria 2: terra-floresta – a vida em harmonia

A segunda alegoria da escola traz a representação de uma grande floresta estilizada, com arvores e flores feitas com grafismos indígenas, com representação de seres vivos da fauna e da flora, no parte frontal da alegoria existem esculturas de índios em meio as folhagens e na parte traseira do carro, existem borboletas que batem as asas, as principais cores da alegoria são o vermelho, e o amarelo, a iluminação é o principal elemento de impacto do carro, que possui em sua base fitas de led amarelas, a iluminação da base pretende passar a ideia de que está flutuando na avenida. Abaixo a representação da alegoria.

Destaque: energia que emana da terra

 

Imagem ilustrativa da alegoria 2

SETOR 2: EXALTAÇÃO À VIDA



 

O segundo setor do desfile, mergulha no universo tribal das celebrações dos yanomamis, e presta um tributo ao espírito festivo que habita cada índio. Além de celebrar omana, o senhor criador e legislador da tribo, destaque para esse setor do enredo, pois é o mais colorido do desfile.

Ala 6: celebração da terra

Os índios yanomamis são reconhecidos principalmente por sua devoção à terra e tudo que ela oferece para eles, e da terra eles exaltam toda a vida, toda a história e toda sabedoria que cada folhagem, palmo de terra lhes proporciona. A fantasia possui predominância das cores fluorescentes, o laranja e o rosa, mesclados ao amarelo e a cor abóbora, o costeiro apresenta acetatos em três níveis, os três nas cores da fantasia, o adereço de mão são máscaras indígenas, ao meio da ala existem um conjunto de tambores moldados em troncos de madeira que formam uma fila ao centro da ala, como elementos cenográficos.

Ala 7: iniciação

Para se tornar pajé o iniciado necessita viajar ao mundo espiritual para obter os conhecimentos necessário para guiar a tribo, o hekura ao retornar do mundo sobrenatural, já com pajé recebe a missão de substituir o pajé ancião. A fantasia em tons de azul e laranja, possui penas artificiais, um costeiro com penas estampadas, o adereça de cabeça é um cocar, as mesmas cores da fantasia, a ala é coreografada, para simular o cerimonial de iniciação.



Ala 8: Reahu – a força do espírito

O cheiro do pó do pariká, permite aos índios abrirem os olhos para a visão do além, dessa forma tem-se o contato com os espíritos, o inicio do ritual, após isso, os índios podem ter contato com seus entes que habitam a morada dos espíritos. Na cerimônia o corpo do morto é cremado e suas cinzas são depositadas no rixi, uma espécie de urna, para serem ingeridos quando misturados ao mingau de banana, o ripu, os yanomami acreditam que ao ingerir o ripu estão comungados das virtudes do espírito do morto. A fantasia possui como cores base, o vermelho o branco e o preto


Ala 9: Pajés – senhores transcendentais

A ala presta um grande tributo aos pajés yanomamis, senhores da transcendência, que são os mediadores dos dois mundos, os dos vivos e o dos mortos. A ala é coreografada, para mostrar uma grande pajelança, a fantasia possui como cores base o lilás, o azul e o marrom. O adereço de mão é um maracá e o adereço de cabeça é um cocar dos mais bem trabalhados para representar o poder e a influência do pajé na aldeia.

Ala 10: BAIANAS - jardins da cura – flores ternas

Com o solo amazônico é um dos mais férteis, e os yanomamis tem os conhecimentos sobre as plantas medicinais dos mais aguçados, os clãs possuem espécies de jardins com plantas utilizadas para fins medicinais e muitas doenças são curadas por plantas que crescem nesse jardim amazônico. A Fantasia em tons de rosa que vão do mais claro até o rosa-choque e verde, representa um grande santuário de plantas utilizadas com fins medicinais, a saia é toda confeccionada em vime, com representações geométricas que se unem e forma desenhos, a barra da saia é decorada com flores artificiais e plumas de cor rosa-choque, além de folhas, o costeiro da fantasia é todo feito em capim de acetato rosa, o adereço e cabeça representa um mini paneiro (utensílio utilizado para carregar alimentos e plantas).

Alegoria 3: a ocara de omana



A terceira alegoria da escola mostra uma espécie de aldeia estilizada, e multicolorida, com grafismos indígenas, grandes arcos adornados de penas e animais, na parte frontal da alegoria existe uma grande escultura do rosto que representa Omana, o criador e legislador, a parte central da alegoria possui uma espécie de manto verde enfeitado com desenhos que é sustentado por arcos, como ilustra o desenho, em certo momento esse manto se abaixa e revela uma espécie de ocara, com totens e artesanatos da cultura yanomami.


Imagem ilustrativa da alegoria 3

 

SETOR 3: VISÃO DO FIM



Nesse terceiro setor, o protesto pela exploração desenfreada e o que ela pode acarretar ganha voz através da mitologia dos yanomami, que acreditam que somente a busca incessante por dinheiro e a exploração sem limites da terra é que podem pôr fim ao mundo em que vivemos.

Ala 11: gafanhotos de aço – devoradores de floresta

As visões de Kopenawa revelam: napëpës invadem a floresta, com seus monstros metalizados que consomem a terra e a vida que nela habitas, as matas vão caindo e o céu anuncia que o mundo está perto de seu fim. Nessa ala a fantasia representa as máquinas que são utilizadas nos garimpos e na derrubada da floresta.

Ala 12: mercúrio – o líquido da ganância

O mercúrio é o líquido utilizado nas jazidas de ouro para separar o metal dos restos de minerais e terra, no entanto seu poder devastador é observado na fauna e na flora do local que é utilizado quando descartado diretamente na natureza, envenenando peixes e humanos, a fantasia representa o líquido prateado, complementado com as cores vermelhas, representando o sangue dos que morrem por sua causa, sangue essa representado com marcas de mão na roupa.

Ala 13: ouro – o metal que mata

A busca pelo ouro gera os garimpos ilegais, muitos desses situados em terras indígenas, tão negligenciadas em tempos atuais, esses garimpos geram disputas, que culminam muitas vezes em mortes de índios yanomamis. A ala possui as cores dourado, coral e bronze.




Ala 14: doenças

O contato dos indígenas com os brancos culminou numa série de epidemias de doenças trazidas pelos forasteiros, essas doenças diminuíram bastante a população yanomami habitante da Venezuela e do Brasil. a fantasia apresenta, o preto, o amarelo, e o lilás como cores base.

Ala 15: profecia apocalíptica

Representa a visão do fim, nessa visão, quando a última árvore em pé cair ao chão, o último pajé que mantém o céu acima da terra, silenciará, fazendo com que o céu caia sobre a fase da terra e mergulhe a terra em escuridão e caos. A morte reinará e a humanidade decretará seu próprio fim.

 

Alegoria 4: O levantar de xawara, caos e destruição

A alegoria representa a visão que os yanomamis tem do fim da terra em que vivemos, para eles os brancos é que serão os causadores do apocalipse, com seus atos que destroem a natureza, assim que toda a floresta for derrubada, todo rio tiver secado e toda vida for ceifada, a terra mergulhará em escuridão profunda. O carro traz em sua frente um lagarto alado, a base da alegoria é a representação de um chão rachado ardente em fogo, a alegoria possui ainda chaminés, aviões despejadores de agrotóxicos, e uma escultura de xawara, levantando das profundezas de terra para mergulha-la no caos, neon vermelho complementa a alegoria.

Destaque – Fantasia: máquina que faz o fim





Imagem ilustrativa da alegoria 4

SETOR 4: RESSIGNIFICAÇÃO DA VIDA

 

 O quarto e último setor encerra o desfile deixando uma mensagem do bem, onde só a conscientização do homem em relação aos seus atos nessa busca exacerbada por riqueza, pode mudar o destino da terra e com a ajuda dos espíritos e do grande pajé da tribo da terra, o céu não desabará e a terra florescerá.

Ala 16: hekuras e o renascer da terra

O grande rito xamanístico realizado para aplacar a fúria do mundo e espantar o mal que assola a terra-floresta, a luta travada busca a libertação dos espíritos do bem para que a terra se reestabeleça no bem fraternal. A fantasia apresenta um costeiro estrelado furta-cor, o adereço de cabeça representa uma máscara indígena, na parte frontal da fantasia existe o desenho de um mapa do mundo entrelaçado com tiras de fitas entrelaçadas imitando o grafismo indígena, a fantasia possui tecido furta-cor predominantemente, com leves toques de azul celeste.

Ala 17: Réquiem aos céus

No agonizar do planeta, as nações se unem para cantar louvores ao céu para que este não caia sobre a terra e liberte a escuridão. Aqui o povo yanomami traz um canto de esperança para urihi, pedido que as divindades ouçam o clamor humano a deem a oportunidade para os mesmos cuidarem melhor do planeta. A fantasia possui um costeiro feito com penas artificiais de acetato leitoso em três níveis de pena, na parte frontal na altura do peito da fantasia existem grafismos indígenas, uma saia giratória vazada feita em vime, também com grafismos indígenas complementa o figurino que fazem desenhos que remetem a bandeiras de países do mundo, as cores predominantes são o verde esmeralda e o branco, com detalhes em marfim

Ala 18: PASSISTAS - celebração aos espíritos

A grande tempestade do mundo passou e os povos celebram a aurora de um novo dia para cuidar da terra-floresta como ela merece. Os xipiripës voltaram e a harmonia da terra se completou. A fantasia representa uma vestimenta típica yanomami usada em suas celebrações da vida, o adereço de mão representa seu objeto sagrado de adoração. A cores predominantes são o amarelo ouro e o azul pavão.



 

Ala 19: senhores celestiais

No misticismo da tribo da terra, o céu é sustentado por quatro pajés, que mantém a harmonia entre o mundo celestial o mundo terreno. A fantasia dividida em quatro figurinos de quatro colorações diferentes, ciano, azul celeste, azul royal e azul marinho todas com toques de amarelo laranja, possuem as mesmas formas diferenciando-se pelas cores. Representam roupas tradicionais de pajés yanomamis

ALEGORIA 5: A MALOCA LIVRE

 O último carro alegórico encerra com uma grande celebração no xapono, a casa do yanomami. A alegoria representa uma grande maloca, em referência às residências comunitárias construídas na sociedade yanomami, a grande oca é toda vazada e decorada com neon azul, no centro da alegoria e dentro da oca existem a reconstituição de uma ocara, e a teatralização do cotidiano da tribo, as laterais do carro são ornadas com troncos e pinturas indígenas, e esculturas de índios, na parte superior existem arcos raios enfeitados, como ilustra a figura abaixo:

Imagem ilustrativa da alegoria 5

Observações

1ª – o desfile todo foi projetado para utilizar penas artificiais, plumas faisões e outras, já que se trata de um enredo de preservação.

2ª os desenhos são apenas uma representação no papel do projeto, podendo ser acrescentado mais detalhes nos mesmos. Os desenhos foram feitos todos com 3 ferramentas: caneta esferográfica preta, lápis de cor e papel A4.

3ª – as imagens para ilustração foram retiradas todas do google.

 

Referências

 

 Yanomami. Disponível em <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yanomami> acesso em 10 de janeiro de 2019.

Os yanomami. Disponível em <https://www.survivalbrasil.org/povos/yanomami> acesso em 10 de janeiro de 2019

História dos Yanomami. Disponível em <http://www.hutukara.org/index.php/hay/historia-dos-yanomami> acesso em 10 de janeiro de 2019.

O povo yanomami. Disponível em <http://www.secoya.org.br/index.php?option=com_content&view=section&id=5&Itemid=9> acesso em 10 de janeiro de 2019.

“estamos tomando água poluída, o povo yanomami vai sumir”. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/20/politica/1492722067_410462.html> acesso em 10 de janeiro 2019.

Wikinativa/Ianomâmi. Disponível em<https://pt.wikiversity.org/wiki/Wikinativa/Ianom%C3%A2mi> acesso em 10 de janeiro de 2019.

 

Enredo 1609 - Brasil Café

 Enredo

 

Brasil Café: a história do negro rei

 

Justificativa

 

O GRESV Leões da Casa Verde apresenta a história do Café no Brasil segundo o imaginário lúdico de Vó Iaiá, a baiana mais antiga da Casa Verde. Iaiá revive suas memórias de quando criança, a partir das histórias contadas por sua mãe, a negra alforriada que também ouviu histórias de sua mãe, que morreu escrava, mas lhe relatou os contos dos seus ancestrais. Hoje, as memórias de Vó Iaiá recontam a Nossa história e dão protagonismo aos que trabalharam nas lavouras, fazendo do Café o Negro Rei do Brasil. Hoje, o carnaval da Casa Verde escreve sua vitória nas borras do Café de Vó Iaiá e o Brasil se inunda com o aroma do Negro Rei.

 

 

Sinopse

 

Brasil Café: a história do negro rei

 

Segure uma xícara exalando o aroma de um bom café e você estará com a história em suas mãos. (MARTINS, 2012, p. 3)

 

Vosmicê fica a vontade pra sentar.

Vô abrir a janela cadiquê tá saindo um cafezinho nesse instante. Sente como é bom esse aroma que perfuma a casa!

Esse aroma tem história e vô te contar um cadin dela. Vô te falar o que ouvi de minha mãe, que ouviu da mãe dela.

Quero te falar do café e daqueles que fizeram o café o Rei do Brasil.

 

Meu pretinho veio de lá do outro lado do mar. Nasceu nos braços da Mãe África, nas terras altas de um lugar chamado Kaffa, lá na Etiópia, onde as sinhôra fazia a infusão dentro da jebena1. Ele fez a alegria das cabras e dos povos que lá viviam. Mas aventuroso que só ele, logo atravessou as águas do mar Vermelho e chegou na “terra das mil e uma noite”, onde foi cultivado e se tornou o vinho da Arábia.

 

E o danado do café foi trazido pelos homem branco holandês pra cá pro Novo Mundo, num tal de Suriname. Não sei se por esperteza ou cortesia, clandestinamente veio pra cá pro Brasil, onde os homem branco dizia: “em se plantando tudo dá”2. Ai ele andou pelo Pará, também no Maranhão, Bahia, até que desceu pro Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Foi por essas banda que ele ficou forte, quando foi plantado no Vale do Paraíba. Tempo despois foi atrás da terra roxa do Oeste.3 Foi nessa época que minha vó veio como escrava pra cá.

 

O café testemunhô a chiqueza da família real imperial. Foi nesse tempo que o dinheiro da produção dele fez o país começá a se industrializá. As primeira estrada de ferro pros trem. Meu pretinho fez tanto sucesso que chegou a ser bordado na bandeira.

 

Mas nem tudo era alegria. Longe das casa das sinhá, meu povo preto penava que dá dó. O café viu as tortura e alforria dos nosso irmão. Nosso povo plantava a semente e os panhador de grão esperava três ano pra colhê, ai tinha que penerá pra separar os grão. Ai secava eles no terreiro pra depois torrá e moer no pilão. Demorou um tanto quando se ouviu pelas plantação: “liberdade, liberdade”. Minha mãe nasceu escrava e viu nosso povo ficar livre. Ela viu a chegada dos branco italiano pra trabalhar nas lavoura por causo do café.

 

Com o tempo tudo muda num é mermo? Ai o rei deu lugar pros coroner. Minha mãe dizia que tudo era a tal da República, mas nosso povo num sabia quem era. Só se sabia que os coroner paulista ficavu se revezando com os coroner mineiro. E o povo que votava era obrigado a votá em quem os coroner dizia4. Foi quando eu nasci lá em 1920. Ai veio um tal de Vargas e só lembro que ele mandava queimá o café5.

 

O tempo passó e o país ficó mais muderno. Tinha indústria, carro e o rádio. Lembro de quando escutei a música pela primeira vez de dentro do rádio, na casa da sinhá. Nós pensava que a cantora tavu lá dentro. Mas as música só fazia abafar os gritos do nosso povo com fome. O trabaiadô ganhava direito no trabaio mas não podia falá. O café foi levado lá pro estrangeiro pela Carmen Miranda. E aqui, nosso povo foi esquecido no alto dos morro ou atrás dos muro da periferia. Mas a gente resistiu!

 

E como é carnavá, tamo aqui tomanu essa xícara de café nessa quarta de cinza. O carnavá é onde todo mundo se encontra, onde vestimo nossa fantasia e brincamo de viver num mundo onde todo mundo é igual. Hoje eu quero comemorá o título da Leões, a escola daqui da Casa Verde, o lugar onde escolhi ser feliz. Sou Iáiá, a dona do café mais famoso da região. Mia história acaba aqui, mas a do Negro rei do Brasil continua!

 

 

 

Autor: Jhonathan Martiniano.

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências

 

MAGALHÃES, Basílio de. O café na história, no folclore e nas belas-artes. v. 174. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939 (Brasiliana).

 

MARTINS, Ana Luiza. História do Café. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2012.

 

MORAES, Antonio Carlos Robert. A fazenda de café. 6. Ed. São Paulo: Ática, 1991. (O cotidiano da história).

 

OLIVEIRA, José Teixeira de. História do café no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Kosmos, 1984.

 

PIFFER, Marcos. Coffea: o café no Brasil no século XXI. Santos: MP, 2008.

 

SANTANNA, Sonia. Barões e escravos do café: uma história privada do Vale do Paraíba. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA

 

ATO 1 – O Café pelo mundo.

COMISSÃO DE FRENTE – A dança das cabras absínias.

ALA 1 – As senhoras da jebena.

TRIPÉ 1 – Pede passagem: O Berço Real Africano

ALA 2 – Vinícolas da Arábia.

ALA 3 – Navegantes holandeses.

CARRO 1 – Abre-alas: Café chega ao Novo Mundo

 

ATO 2 – O “Ouro verde” imperial.

ALA 4 – O Jeitinho brasileiro do capitão.

ALA 5 – Cultivadores no Pará.

ALA 6 – Lavradores nordestinos.

ALA 7 – Amas-de-Café.

CARRO 2 – A realeza brasileira.

 

ATO 3 – A Festa nos cafezais.

ALA 8 – ALA DAS DAMAS: Côrte real africana.

GUARDIÕES DO CASAL MS & PB – Semeadores do Vale ao Oeste.

MS & PB – Terra roxa e a Flor do Café.

MUSO DA BATERIA – Rubiácea.

ALA 9 – Bateria – Maquinistas.

ALA 10 – ALA DE PASSISTAS: Panhadoras e peneiradores do Café.

CARRO 3 – A Festa nos cafezais.

 

ATO 4 – As mãos que semearam o Café.

ALA 11 – ALA DAS BAIANAS: A essência negra do Café.

ALA 12 – Festa dos alforriados.

ALA 13 – ALA DAS CRIANÇAS – Imigrantes italianos.

CARRO 4 – O Café ergueu a Cidade Universal sob a proteção dos Santos e Orixás.

 

ATO 5 – O Café da República ao estrangeiro.

ALA 14 – Curral eleitoral.

ALA 15 – Os Golpistas de 30.

ALA 16 – ALA DAS MUSAS: As pragas do Café.

ALA 17 – ALA DAS BAIANINHAS: Carmen Miranda e o sabor do Café no estrangeiro.

CARRO 5

 

ATO 6 – Carnaval com aroma de Café.

ALA 18 – Café: o negro rei do Brasil.

ALA 19 – As herdeiras do Café.

Retorno da bateria

ALA 20 – ALA DOS BALUARTES: Bate o pilão, vovô!

CARRO 6 – A coroação dos Reis da Leões da Casa Verde.

  

 

 




 

 

 

 

 

ATO 1 – O Café pelo mundo.

Sempre que Vó Iaiá sente o aroma do Café, ela retorna a sua infância e revive o imaginário criado a partir dos relatos que ela ouviu. Um dos mais especiais nos leva para além da História do Café no Brasil. A nossa viagem pelo imaginário lúdico de Iaiá nos leva para a origem do Café na Etiópia e por um breve passeio pela jornada do Café até chegar à América Central. As cores que predominam no ato são quentes, fazendo ferver a água que faz o Café exalar seu aroma.

 

COMISSÃO DE FRENTE – A dança das cabras absínias.

Vó Iaiá ouviu dizer que dos arbustos selvagens das montanhas etíopes de Kaffa, na região da Absínia, cabras mastigavam frutinhas vermelhas que as deixavam saltitantes. Ao testemunhar isso, o pastor Kaldi também comeu a frutinha e ficou tão excitado quanto às cabras. Lenda ou não, há registros em manuscritos do Iêmen, país da Península Arábica separada da Etiópia pelo Mar Vermelho, que relatam o acontecido, no século III d.C.. A fantasia da nossa Comissão de frente remete à figura das cabras saltitantes e traz toda a riqueza da cultura africana, ornamentada com os frutos de Café. O incensório carregado pela comissão espalha o sagrado aroma do Café pela avenida.

 

 

ALA 1 – As senhoras da jebena.

Outro relato que Vó Iaiá ouviu diz respeito ao ritual das senhoras da casa, que fazem a infusão do Café em garrafas chamadas “jebena” e entoam a frase: “buna dabo naw” (o “café é nosso pão” em amárico, o idioma etíope). A fantasia é inspirada no traje etíope chamado Natela e traz estampas da girafa, animal típico da África e que, devido sua altura, alude às regiões altas da Etiópia, onde o Café nasceu. Sementes e frutos do Café também adornam a fantasia.

 

TRIPÉ 1 – Pede passagem: O Berço Real Africano

Para Vó Iaiá, o Café nasceu em um berço iluminado, forrado com muita palha e chão de cores quentes. Assim é o nosso pede passagem, que representa a região de Kaffa, na Absínia (atual Etiópia), as terras altas do norte da África. Ele traz a figura do Leão, nosso símbolo maior, o rei das terras africanas, que pede passagem para outro rei, o Café. As sementes de Café são as lâmpadas que iluminam o berço real. No alto do tripé, as cabras absínias rodeiam nossa destaque, Vó iaiá, a baiana mais antiga do GRESV Leões da Casa Verde, que é a “senhora da jebena” da Casa Verde e que nos leva nessa viagem pela história do Café no Brasil.

Destaque: Vó Iaiá.

 

ALA 2 – Vinícolas da Arábia.

A mãe de Iaiá lhe contou que, enquanto seu povo etíope mastigava o fruto do Café, os árabes torravam os grãos e faziam deles a bebida, sendo os responsáveis pela propagação da cultura do Café no mundo. Até o século XVIII, somente eles produziam a bebida. A palavra Café originou-se do árabe qahwa, que significa “vinho”; por isso ele era o vinho da Arábia, daí a designação “vinícola”. A fantasia remete as “Mil e umas Noites”, coleção de contos populares árabes na qual, em um deles, “Aladim e a lâmpada maravilhosa” sobrevoa no tapete mágico e, na narrativa de Iaiá, espalha o aroma do Café pelo mundo. Frutos de Café adornam o tapete mágico.

 

 

 

ALA 3 – Navegantes holandeses.

A cultura do Café foi ensinada aos europeus pelos árabes, através das trocas comerciais. Os holandeses, em especial, tiveram contato com o Café graças ao comércio marítimo incentivado pela Companhia das Índias Ocidentais. Gostaram tanto que roubaram um pé de Café da Índia, em 1616, e plantaram em suas colônias. Iaiá ouviu dizer que os holandeses trouxeram a cultura cafeeira para o Novo Mundo: a América (Guiana Holandesa – atual Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico, Guianas Francesa e Inglesa). Por isso, Vó Iaiá diz que os holandeses são piratas de duas caras, o que inspirou a fantasia na cor símbolo da Holanda: o laranja, ornada com sementes e frutos de Café. No chapéu de pirata, a embarcação holandesa que trouxe o Café para a América.

 

CARRO 1 – Abre-alas: Café chega ao Novo Mundo

Iaiá nos conta que, quando os holandeses chegaram com o Café no chamado Novo Mundo, a América, eles se depararam com o rubro do solo e da pele dos nativos, com o verde das matas e a beleza dos animais. Nosso carro abre-alas mostra essa floresta tropical estilizada segundo o imaginário da Vó Iáiá, trazendo recortes da flora, fauna e cultura americanas: na primeira parte, a flora representada pelas palmáceas; na segunda parte, a fauna representada pelos tucanos, jacarés e onça; e, na terceira parte, a cultura nativa simbolizada pelos totens tribais e as malocas estilizadas, além das bromélias (o abacaxi) trazendo nossas composições, as Ameríndias, e nosso destaque no alto da arara, o Dono da terra. A fantasia das Ameríndias traz a cor verde e uma mistura de elementos típicos de alguns povos tribais americanos. Nosso destaque, o Dono da terra, está com uma fantasia onde predomina o amarelo, trazendo também elementos oriundos de etnias nativas. Em todas as fantasias, foram bordados frutos de Café. Na saia do carro, as sementes de Café são as lâmpadas que iluminam o Novo Mundo.

Composição do carro: Ameríndias.

Destaque: Dono da terra.

 

 

 


ATO 2 – O “Ouro verde” imperial.

A avó de Iaiá dizia que o Café, quando chegou ao Brasil, era chamado de “Ouro verde”. Nossa viagem percorre os lugares do país por onde ele brevemente passou, dando protagonismo aos personagens que, com seu suor, sustentaram a monarquia durante o período Imperial brasileiro (1822-1889) através do manuseio do Café. Esse ato traz o verde e o amarelo como cores predominantes.

 

ALA 4 – O Jeitinho brasileiro do capitão.

E não é que chegou aos ouvidos de Iaiá que o Café veio da Guiana Francesa para o Brasil de um jeitinho peculiar. Isso em 1727, quando o militar luso-brasileiro, Francisco de Melo Palheta, ganhou da esposa do governador da Guiana Francesa, Claude d´Orvilliers, um buquê de flores e sementes de Café escondidas, como símbolo da amizade (ou do amor). Para Iaiá, Palheta não passa de um jocoso conquistador de corações, daí vem a inspiração da fantasia, nas cores imperiais: o verde que remete à Casa de Bragança, família de D. Pedro I; e o amarelo, à Casa de Habsburgo, ou Casa da Áustria, origem de Maria Leopoldina. O chapéu traz o Brasão Imperial do Brasil, com os ramos de Café e tabaco dispostos como louro. Como adereços, o buquê de rosas dado pela esposa do governador, e os balões formando o coração, ornado com sementes de Café. Para Iaiá, o homem branco sempre é visto de forma jocosa.

 

ALA 5 – Cultivadores no Pará.

Iaiá soube que as primeiras plantações do Café no Brasil ocorreram na Província do Pará, em meados da década de 1720. A fantasia que retrata os cultivadores do Pará é inspirada no Carimbó, dança tipicamente paraense, com seus babados, contas, penas e chapéu largo, que representa a vitória-régia, planta que lembra a Amazônia. Sementes e o fruto de Café adornam a fantasia. O verde e rosa são as cores da vitória-régia.

 

ALA 6 – Lavradores nordestinos.

Iaiá conta que o Café não deu muito certo na Amazônia e, de lá, foi levado para o nordeste. A partir de 1770, as plantações de Café se espalharam pela Bahia e Maranhão. A fantasia dos lavradores nordestinos inspira-se na cultura do Bumba meu Boi (Maranhão) e nas fitinhas do Senhor do Bonfim (Bahia), com suas cores e lantejoulas, ornadas com sementes de Café.

 

ALA 7 – Amas-de-Café.

O termo “ama” deriva da língua basca e significa mãe. No período colonial, as amas-de-leite foram as escravas encarregadas de cuidar e amamentar as crianças brancas. Para Iaiá, sua mãe foi a ama-de-Café, a escrava que cuidava dos adultos brancos, servindo-lhes o Café da manhã. Mas para Vó Iaiá, nosso povo preto é sempre o protagonista da nossa história e visto de maneira luxuosa. A fantasia inspira-se no bule de Café, o utensílio doméstico no qual o Café ainda é servido nos dias de hoje. Assim como o bule, os escravos também eram objetos domésticos para Iaiá. O traje traz a estamparia dos azulejos portugueses, que remete à origem dos donos das fazendas; além do ramo de Café no chapéu.

 

 

CARRO 2 – A realeza brasileira.

Para Iaiá, a verdadeira realeza pertence aqueles que semearam, colheram e serviram o Café para sustentar o segundo reinado de D. Pedro II (1840-1889). O segundo carro traz a pompa da realeza brasileira, destacando elementos que remetem as alas que o antecederam. Na base do carro, as vitórias-régias evocam a lembrança da Amazônia, o primeiro lugar onde o Café foi semeado no Brasil. Em cima das vitórias-régias, os bumba-meu-boi simbolizam a cultura do nordeste, especificamente o Maranhão, que foi um dos lugares onde o Café posteriormente foi semeado no período imperial. As coroas simbolizam o Império brasileiro, tendo sementes e frutos de Café enfeitando suas bases, pois os cafezais foram a base econômica do período. A frente da primeira coroa, é apresentado o brasão da bandeira imperial brasileira. O motivo dá-se pelo fato do Café ter sido tão importante no período, que ele foi bordado na bandeira (como ressalta nosso samba). Nossas composições, com a fantasia em vermelho do fruto do Café, representam os Nobres das lavouras, os trabalhadores dos cafezais que são os protagonistas do Império segundo Vó Iaiá. Acima da segunda coroa, o Ouro verde é representado pela nossa destaque, com a fantasia em verde e branco na visão estilizada da nobreza. Nossa destaque é uma mulher, pois, para Iaiá, a mulher preta foi a que mais teve seu protagonismo renegado na História do Brasil. Todas as fantasias tem sementes de Café bordadas.

Composição do carro: Nobres das lavouras.

Destaque: Ouro verde.

 

 



 

 

ATO 3 – A Festa nos cafezais.

Nesse momento, Vó Iaiá lembra das histórias que narram a expansão do Café pelo Vale do Paraíba e, posteriormente, pelo Oeste paulista, lugar onde prosperou e permitiu a implantação das ferrovias, inicialmente voltadas ao transporte das suas sacas. A ascensão cafeeira foi a força motriz da economia nacional e do desenvolvimento da região sudeste do Brasil, a partir da segunda metade do século XIX. Iaiá diz que, enquanto o Café impulsionava o início da industrialização brasileira a partir de 1870; nos cafezais, os escravos convertiam a dor do açoite e o choro em danças e cânticos entoados na rotina do trabalho árduo.

 

ALA 8 – ALA DAS DAMAS: Côrte real africana.

Vó Iaiá soube que muitos homens e mulheres vindos da África para labutar arduamente nos cafezais brasileiros pertenciam a famílias reais. Para Iaiá, as verdadeiras sinhás tem a pele preta como o Café. A ala das damas representa justamente a Côrte africana que chegou ao Brasil para trabalhar nos cafezais. A fantasia ostenta a nobreza da linhagem real africana através do luxo das pedrarias e da estamparia animal, ornamentadas com sementes de Café. As cores remetem ao solo africano.

 

GUARDIÕES DO CASAL MS & PB – Semeadores do Vale ao Oeste.

No sudeste brasileiro, a plantação de Café prosperou no Vale do Paraíba, que compreende parte dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. No século XIX, os cafezais chegaram ao “Oeste Paulista”, que ocupou o lugar do Vale do Paraíba na década de 1860. Os cafezais também se expandiram para Minas Gerais, na Zona da Mata, e norte do Paraná. Sempre que Vó Iaiá ouve falar daqueles que semearam o Café seja no Vale do Paraíba, seja no Oeste Paulista, ela lembra das abelhas, que também são semeadoras e influenciam na qualidade dos frutos do Café. Os guardiões do casal de MS & PB representam os semeadores do sudeste, que fizeram prosperar muitos cafezais. A fantasia faz uso de materiais rústicos para simbolizar a abelha, estilizada segundo a visão de Iaiá, que cercam a flor do Café, nossa porta bandeira. O adereço de mão simboliza uma colmeia ornamentada com as sementes de Café.

 

MS & PB – Terra roxa e a Flor do Café.

Vó Iaiá afirma que São Paulo tornou-se um dos estados mais ricos do Brasil, durante a primeira metade do século XX, graças ao Café. Um dos motivos foi o solo da região, ao qual o Café se adaptou muito bem. Nesse contexto, o nosso mestre-sala representa a terra roxa do Oeste Paulista (que na verdade é vermelha); e nossa porta-bandeira, a flor do Café. Ambas as fantasias apresentam características pastoris, com sementes e flores do Café bordadas uma a uma. No pavilhão da escola, também foram bordadas sementes de Café.

 

MUSO DA BATERIA – Rubiácea.

Iaiá ouviu dizer que, para muitos europeus, o Café era uma joia rara e preciosa. Foi por isso que eles apelidaram a planta de Rubiácea. O muso da bateria é nossa joia cafeeira preciosa e sua fantasia traz o luxo das pedras preciosas, tendo o rubro da Leões como cor predominante.

 

ALA 9 – Bateria – Maquinistas.

Não à toa Vó Iaiá diz que a rubiácea trouxe o progresso para o Brasil. A partir do cultivo e exportação do Café, que beneficiou os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o processo de industrialização se iniciou por aqui. Os cafezais financiaram a construção de ferrovias para permitir a circulação de mercadorias, como a Ferrovia Paulista, que ligou Santos a Jundiaí em 1867, abrindo caminho para o Oeste. E, para representar esse progresso, nossa bateria vem de maquinistas, que conduziam os trens levando o som do progresso pelos rincões do país. A fantasia inspira-se nos trilhos da ferrovia e é ornada com sementes e frutos do Café, nas cores tradicionais da escola. O chapéu representa a chaminé do trem e o esplendor traz os trilhos, enfeitados com penas verdes, representando parte da Mata Atlântica que foi derrubada para dar lugar aos cafezais. Pela primeira vez na sua história, a Leões da Casa Verde traz a bateria composta 100% por mulheres.

 

ALA 10 – ALA DE PASSISTAS: Panhadoras e peneiradores do Café.

Muitas das histórias que Iaiá ouviu quando criança foram contadas por escravos que trabalharam nos cafezais. Ela sempre diz que não era uma vida fácil. Enquanto as panhadoras colhiam os grãos de Café após uma espera de três anos, em média (período necessário para o início da colheita), os peneiradores separavam os grãos das sujeiras, colocavam para secar no terreiro, depois torravam e moíam os grãos no pilão. Iaiá nos conta também que a dor da labuta era amenizada pelos cantos e danças nos cafezais. São esses trabalhadores que nossos passistas representam. A fantasia, enfeitada com sementes, frutos e flores de Café, traz o trabalho artesanal das cestarias, importantes nos cafezais, transformadas no costeiro e chapéu.

 

CARRO 3 – A Festa nos cafezais

Iaiá ouviu dizer que o trabalho árduo nos cafezais e a dor dos maus tratos eram convertidos em cantos e danças pelos escravos. No imaginário de Iaiá, a rotina nos cafezais era uma festa e, para representar isso, buscamos nos folguedos juninos a simbologia dessa catarse popular, essa manifestação folclórica rural que se originou das tradições portuguesas, africanas e indígenas. No primeiro momento, mostramos parte da rotina nos cafezais com a escultura do trabalhador moendo o Café no pilão, rodeado por flores, frutos e pés de Café. A escultura é uma homenagem ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, escola que compartilha conosco da mesma cor predominante em nosso pavilhão. O Salgueiro apresentou o enredo: “O negro que virou ouro nas terras do Salgueiro”, em 1992. Atrás da escultura, os atabaques nos remetem aos cânticos mencionados por Vó Iaiá, e são a base para nossas composições, os Batuqueiros dos cafezais. No segundo momento do carro, retratamos o terreiro rodeado pelas senzalas e enfeitado com bandeiras e balões juninos. No alto, o balão junino, que ostenta o estandarte de São João, um dos santos juninos, traz também nossa destaque, a Santidade junina. A fantasia dos Batuqueiros dos cafezais apresenta as cores branco, rosa e laranja, com frutos de Café bordados, além do tambor como adereço; e a fantasia da destaque Santidade junina, em tons de rosa, possui sementes de Café bordadas, e balões, fitas e estrelas enfeitando o esplendor.

Composição do carro: Batuqueiros dos cafezais.

Destaque: Santidade junina.

 




 ATO 4 – As mãos que semearam o Café.

Vó Iaiá nos conta que o Café foi semeado por mãos pretas e brancas que foram trazidas ao Brasil. Mãos estas que, muitas vezes, se uniram abertas durante os pedidos de Fé. Após a quebra das correntes dos povos pretos, as mãos brancas dos imigrantes italianos labutaram nas lavouras de Café. São esses povos que agora assumem o protagonismo da História do Café no Brasil segundo o imaginário de Iaiá.

 

ALA 11 – ALA DAS BAIANAS: A essência negra do Café.

A vinda de diferentes etnias africanas para as lavouras do Café fez nascer a nossa Fé. Vó Iaiá lembra de que ouviu de um ancião, que trabalhou nos cafezais, a respeito da forte devoção dos escravos. No braseiro da Fé, a dor se transformou em alegria; o lamento, em canção; e os Orixás africanos, em santos católicos. Para Vó Iaiá, a essência do Café está nos terreiros, sejam eles as senzalas, os cafezais ou as casas de santo. A gira dos terreiros se confunde com o girar das nossas baianas, que representam as pretas velhas e espalham o aroma do Café pela avenida. A fantasia traz a opulência do sincretismo brasileiro em diferentes tons rubros, com sementes de Café bordadas. Há três versões de cor na base das saias, que formam um degrade na passarela, representando os diferentes terreiros mencionados anteriormente.

 

ALA 12 – Festa dos alforriados.

“- Foi então que meu povo conquistô a liberdade, seu moço.” Emocionada, Vó Iaiá nos conta que sua avó morreu escrava, mas sua mãe testemunhou a quebra das correntes em 1888. Entre 1830 e 1880, o Café era o próprio escravo e cada prisioneiro preto tinha que cuidar de 14 mil pés de Café, em média. Oficialmente, a escravidão durou 356 anos no Brasil, de 1532 a 1888. Mas Iaiá nos diz que a liberdade não foi uma simples gentileza do homem branco, e sim uma conquista. Que, no século XIX, homens pretos como Luiz Gama (1830-1882), José do Patrocínio (1853-1905) e André Rebouças (1838-1898) foram incansáveis na luta pela abolição. E, após a quebra das correntes, seu povo foi entregue à sorte, mas que nunca desistiu de lutar e resistiu, através da arte, da culinária e da cultura, nas periferias e no alto dos morros. Nossa ala representa os alforriados comemorando a liberdade, ostentando o estandarte em homenagem aos abolicionistas citados anteriormente. A fantasia traz o branco da paz, o preto da pele alforriada e o dourado da realeza africana, com sementes de Café bordadas.

 

ALA 13 – ALA DAS CRIANÇAS – Imigrantes italianos.

É claro que a rotina nos cafezais teve que continuar e foi então que entraram em cena os europeus, principalmente os italianos. Vó Iaiá ouviu falar que os agricultores italianos faziam muita festa. Após a abolição dos escravos, os cafeicultores recorreram à Política de atração de imigrantes europeus, na década de 1880, vindos da região do Vêneto e Lombardia, no norte da Itália, e da Campânia e Calábria, no sul. Para representar os imigrantes italianos no imaginário lúdico de Vó Iaiá, a ala das crianças está fantasiada de Pinóchio (Pinocchio em italiano), personagem da literatura italiana, criado pelo escritor italiano Carlo Collodi em 1883. A figura do Pinóchio foi escolhida devido a fácil carnavalização e associação com a Itália. Na fantasia, que mescla as cores da bandeira da Itália com o dourado, a cor que caracteriza esta parte da nossa viagem, há bordadas sementes de Café. No chapéu, está o melhor amigo de Pinóchio: o grilo, empunhando uma das ferramentas de trabalho. Iaiá nos diz que, assim como Pinóchio perseguiu um sonho, os agricultores italianos foram movidos pela Fé de uma vida melhor.

 

CARRO 4 – O Café ergueu a Cidade Universal sob a proteção dos Santos e Orixás

As mãos pretas e brancas que vieram de longe ergueram São Paulo, a cidade universal no sentido de pluralidade étnica, cultural e religiosa. Nosso quarto carro traz o sincretismo afro-católico brasileiro dessa cidade universal, protegida por Nossa Senhora Aparecida e as bênçãos de Oxalá. Na primeira parte do carro, observamos a fiel representação da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída inicialmente entre os anos de 1721 e 1722 no antigo Largo do Rosário, em São Paulo, lugar onde o povo preto de Iaiá celebrou ritos católicos misturados com as crenças africanas. A antiga igreja foi demolida em 1903 e outra foi construída em 1906 no Largo do Paiçandu, tornando-se símbolo da resistência afro. No alto da igreja, vemos o cajado de Oxalá iluminado; e, rodeando a base do carro, as contas do Rosário, que são as luzes. A frente da igreja, nossa destaque representa A luz de Oxalá e, ao seu lado, nossas composições representam os Pretos do Rosário. Na segunda parte, vemos a representação do cortejo dos Pretos do Rosário, com suas velas e rosas brancas, trazendo o andor de Nossa Senhora Aparecida, em cima da plantação de Café, a base de toda essa pluralidade de Fé segundo Vó Iaiá. A fantasia dos Pretos do Rosário traz tons alaranjados e o próprio Rosário como adereço, tendo sementes de Café enfeitando o esplendor. A fantasia da destaque A luz de Oxalá apresenta a cor branca contrastando com o esplendor amarelado, com sementes de Café fazendo as contas das guias.

Composição do carro: Pretos do Rosário.

Destaque: A luz de Oxalá.

 



  

ATO 5 – O Café da República ao estrangeiro.

Vó Iaiá sempre acha engraçado quando lembra sua mãe dizer que o Café deixou o bule quente na época dos coronéis. O golpe dado em 1889 pela minoria escravocrata, cafeicultores do Oeste paulista, militares, religiosos e maçons, culminou com a Proclamação da República. Assim como o Império, tanto a República Velha (1889-1930) quanto a Era Vargas (1930-1945) foram financiadas pelo “Ouro verde”, o Café. O país ficou mais moderno, o mundo se rendeu ao Café e, quando vieram as crises, foi no Carnaval que o Café buscou conforto. Vó Iaiá nasceu nesse período, em 1920; e, por isso, ela sempre associa o período jocoso ao universo circense que ela teve contato quando criança.

 

ALA 14 – Curral eleitoral.

Iaiá ouviu de sua mãe que, nas áreas rurais, tornou-se comum os coronéis submeterem os moradores à vontade da minoria rica. O chamado “coronelismo” foi fundamental para a alternância de poder na política do “Café-com-leite”. E o “voto de cabresto” foi uma das formas de aprisionar as pessoas humildes à vontade dos coronéis no período da República Velha, e assim a política foi se esquecendo da necessidade do povo. Iaiá diz que, assim como no circo antigo, que usava animais para o entretenimento, o período político em questão também teve os seus personagens. Assim, a ala representa o curral eleitoral, ou seja, a área de dominância política dos coronéis, onde os eleitores eram tratados como o gado, obedecendo ao seu coronel sem reclamar, no caso, votando em quem o coronel mandava. O adereço de mão traz a frase: “Sim, senhor coronel”, que mostra a submissão do povo no período do coronelismo. Há frutos de Café no chapéu e no adereço de mão.

 

ALA 15 – Os Golpistas de 30.

Mas o bule esquentou como Iaiá disse, principalmente quando os cafeicultores e militares formaram o movimento revolucionário que levou Getúlio Vargas ao poder, com a “Revolução de 1930”, pondo fim à Política do Café-com-leite. Vargas governou de 1930 a 1945, sendo que, em 1937, através de um golpe, implantou a ditadura do Estado Novo (1937-1945). Mas, para Iaiá, os golpistas de 30 não passaram de fanfarrões, que fizeram mais barulho do que se preocuparam com a necessidade do povo. A fantasia remete ao palhaço fanfarrão, que faz barulho por onde passa batendo seu tambor, e a sigla G30 refere-se aos “golpistas de 1930”, na visão de Vó Iaiá. Sementes e frutos de Café ornam a fantasia.

 

ALA 16 – ALA DAS MUSAS: As pragas do Café.

Toda essa efervescência da política foi financiada pelo Café, mas nem tudo foram flores. Iaiá ouviu dizer que as crises vieram; e, quando não eram queimadas toneladas de sacas de Café para controlar o preço no mundo, as pragas arrasavam os cafezais no Brasil. Nossas musas representam o Bicho-mineiro (Leucoptera coffeella), a principal praga do Café, com a fantasia que simboliza a bailarina, na mesma coloração do inseto e sementes de Café bordadas.

 

 

ALA 17 – ALA DAS BAIANINHAS: Carmen Miranda e o sabor do Café no estrangeiro.

Vó Iaiá ouviu dizer que o Café brasileiro foi com Carmen Miranda para o estrangeiro, na ocasião em que a artista levou um punhado de grãos como presente do Getúlio Vargas aos estadunidenses. O ato fazia parte da Política da Boa Vizinhança, uma iniciativa política criada pelo governo dos Estados Unidos, cujo presidente era Franklin Roosevelt, para se aproximar dos países latino-americanos entre os anos de 1933 até 1945. É claro que o Café brasileiro já era conhecido antes disso, mas esse ato de amizade trouxe mais notoriedade ao “Ouro verde” do Brasil. Nossas baianinhas, as cantoras do circo, representam a artista Carmen Miranda, levando o Café e a brasilidade em seu turbante para Hollywood. A fantasia traz sementes de Café bordadas, os colares de contas e os bordados característicos da baiana estilizada que Carmen Miranda personificava nos palcos.

 

CARRO 5 – Respeitável público, é hora do café-com-leite!

Chegamos ao universo circense do imaginário de Vó Iaiá, que é como ela traduz o momento político no qual ela nasceu no fim da chamada República Velha (1889-1930). Ela faz questão de ressaltar que foi o Café quem permitiu aos “palhaços” levantarem a lona para o espetáculo. Nosso quinto carro retrata justamente a divisão política que caracterizou o chamado “Café-com-leite”, durante a República Velha, onde de um lado os paulistas representam o preto do Café, e do outro os mineiros representam o branco do leite. A frente do carro, o carrossel faz alusão ao imaginário lúdico de Iaiá quando criança. Nossas composições possuem duas fantasias diferentes, o Leite na versão branca representando os mineiros, e o Café na versão preta simbolizando os paulistas, todas posicionadas em cima dos cavalos do carrossel. Ao fundo, a grande lona do circo, que foi montada pelo Palhaço, nosso destaque, que é como Vó Iaiá se refere aos políticos. Nosso destaque está posicionado em cima de um rádio, que foi o principal meio de comunicação nas décadas de 1930 e 1940. A primeira transmissão de rádio no Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1922 (dois anos após Iaiá nascer), mas somente na década de 1940, a rádio viveu sua era de ouro, com as radionovelas. O esplendor do nosso destaque traz o Brasão da República Federativa do Brasil, que foi concebido tendo um ramo de Café ornamentando um dos lados.

Composição do carro: Café e Leite.

Destaque: O palhaço.


 

 

 

 

 

 

 

 

ATO 6 – Carnaval com aroma de Café.

Nossa viagem pela História do Café no Brasil, a partir do imaginário da infância de Vó Iaiá, chega aos dias de hoje, dando protagonismo aos foliões esquecidos nas periferias e no alto dos morros, que descendem daqueles que trabalharam nos cafezais. Hoje, Vó Iaiá testemunha o Café, o Rei Negro do Brasil, coroar os Reis da folia: o povo, representado pelos nossos anciãos e anciãs da Casa Verde. É no aroma de Café que comemoramos o título do GRESV Leões de Casa Verde, que foi escrito na borra de Iaiá.

 

ALA 18 – Café: o negro rei do Brasil.

De tudo que Vó Iaiá ouviu quando criança, ela nos diz que o Café é o Negro Rei do Brasil, pois carrega consigo a força e o encanto daqueles que fizeram a sua história, desde os que dançaram por sua causa na Absínia aos que labutaram nos cafezais brasileiros. Iaiá fala que o Café se tornou Rei e símbolo da força do seu povo preto, que ainda hoje luta no mesmo solo onde o Café prosperou. Por isso, ele carrega a dor e a realeza desse povo, que existe e resiste no alto dos morros e nas periferias das grandes cidades. Nossa ala representa o Rei Negro do Brasil e a fantasia traz elementos que nos remetem aos principais povos que fizeram a história do Café, segundo Vó Iaiá: a palha, que vimos nas Cabras etíopes da comissão de frente; e os faisões brancos, que observamos na ala dos Alforriados (ala 12).

 

ALA 19 – As herdeiras do Café.

Iaiá nos diz que, assim como sua mãe e tantas outras mulheres pretas, ela serviu muito Café na casa das patroas brancas. Desde as amas-do-Café, vítimas da cultura escravocrata, até as empregadas pretas de hoje em dia, a realeza que sempre lhes pertenceu de direito foi renegada. “Mas hoje o preto não se cala mais!” - Diz Vó Iaiá. Por isso, hoje as mulheres pretas, que sempre tiveram negado o seu protagonismo na história do Brasil e do Café, são legitimadas como as herdeiras do Negro Rei. Isso porque quando a economia brasileira voltou-se para outras fontes e abandonou o Café, da mesma forma que o fez com o povo preto e pobre, foi no carnaval que os “esquecidos” assumiram novamente o protagonismo de sua História. Diariamente, as pretas descem os morros, põem sua melhor fantasia e se tornam as rainhas do carnaval da vida. Nossa ala representa então essas Herdeiras do Café, simbolizadas pela figura da empregada doméstica que Iaiá foi um dia, essas rainhas dos lares alheios, que trajam sua melhor fantasia para brilhar. A fantasia traz as cores da Leões de Casa Verde: branco, preto e rubro; tendo flores e sementes de Café bordadas no traje.

 

Retorno da bateria e rainha

 

ALA 20 – ALA DOS BALUARTES: Bate o pilão, vovô!

Para que possamos testemunhar a coroação dos Reis da folia pelo Negro Rei do Brasil, o Café, Vó Iaiá nos presenteia com o Café mais famoso da região, feito de maneira tradicional. Nossos baluartes homenageiam o marido de Iaiá, seu Dodô, que por muitos anos bateu o grão do Café no pilão, da forma como ele aprendeu nos cafezais. Esse conhecimento passou de pai para filho e, hoje, tantos outros da Casa Verde mantém viva a maneira tradicional do preparo do pó para a feitura da bebida. A fantasia traz a versão carnavalizada da maneira tradicional como os baluartes se apresentavam nos carnavais antigos da Casa Verde, com sementes de Café bordadas. Como adereços, temos o pilão de madeira, o utensílio essencial na cozinha africana, onde o Café é moído.

 

CARRO 6 – A coroação dos Reis da Leões da Casa Verde

Eis que é chegado o momento do Rei Negro do Brasil coroar os Reis da folia: o povo herdeiro do Café. Nosso último carro representa essa coroação, realizada no salão do “Sítio das Moças da Casa Verde”, que originou o bairro da Casa Verde, inaugurado em 21 de maio de 1913, o lugar de São Paulo onde nossa escola de samba virtual nasceu. De uma forma estilizada, reproduzimos o salão mencionado. Na primeira parte, apresentamos o brasão do GRESV Leões da Casa Verde, acompanhado das xícaras onde o Café de Vó Iaiá foi servido, trazendo nossos quatros moradores mais antigos do bairro. Na segunda parte, exibimos o troféu do nosso primeiro campeonato na LIESV, que Vó Iaiá previu na borra do Café. O troféu serve de base para nossa destaque, que simboliza O Povo Coroado pelo Negro Rei, o Café. Sua fantasia tem o verde como cor predominante, homenageando o bairro ao qual nossa escola faz parte, e tem frutos do Café bordados na base da saia. A terceira parte do carro traz nosso símbolo, o leão, rugindo em seu trono, sendo reverenciado por duas cabras, assim como as cabras abissínias reverenciaram o Café no início de nossa história. As bases do carro são ornamentadas com frutos e plantas de Café, além da mesma palha que usamos no nosso pede passagem, representando o Berço Real Africano. Nossa Velha guarda ajuda a compor o carro, usando o seu traje de gala nas cores da escola e simbolizando a História do nosso povo preto, os herdeiros do Café.

Composição do carro: Velha Guarda: História, viva!

Destaque: O povo coroado.

 

 

 

Autor/carnavalesco: Jhonathan Nogueira Martiniano. (jhonikiaio@gmail.com)

 

 

* as ilustrações apresentadas foram produzidas pelo próprio autor da sinopse e ajudam a ilustrar o que cada ato retrata. As imagens correspondem a parte do conjunto alegórico da escola.

 


1  Em amárico, significa o recipiente usado para fazer café na cerimônia tradicional.

2  Expressão que remete à Carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei Dom Manuel, no dia 1º de maio de 1500, contando sobre a nova terra, e que é considerada a certidão de nascimento do Brasil.

3  Oeste paulista, com sua “terra roxa” a partir de 1850.

4  O voto de cabresto resultou na democracia amordaçada da população mais carente pela imposição dos coronéis. Cabresto é uma palavra que vem do latim capistrum, que significa “mordaça”.

5  Medida usada pelo governo para controlar os preços do café.

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